Mudanças na emissão de notas desafiam agricultores no Vale

Tecnologia em campo

Mudanças na emissão de notas desafiam agricultores no Vale

Obrigatoriedade da NF-e para produtores rurais em 2025 exige adaptação tecnológica e traz benefícios e desafios para a gestão no campo

Mudanças na emissão de notas desafiam agricultores no Vale
Juarez mantém parte da produção registrada em talões de produtor. (Foto: Gabriel Santos)

A emissão da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) se tornará obrigatória para os produtores rurais do estado a partir de 2 de janeiro de 2025. Enquanto alguns agricultores do Vale do Taquari já se mobilizam e buscam treinamentos, outros ainda encontram dificuldades para se adaptar às exigências tecnológicas.

O casal Tiago Brock, 35, e Gabriela Degasperri, 30, de Picada Serra, no interior de Marques de Souza, já se adaptaram às mudanças estabelecidas para a emissão da Nota Fiscal Eletrônica na área rural. Proprietários de uma produção leiteira com 32 vacas em lactação e uma média diária de 900 litros de leite, eles utilizam o recurso digital para formalizar suas operações.

Há três meses, Tiago e Gabriela buscaram capacitação junto aos técnicos da cooperativa local para iniciar o uso do sistema eletrônico. A comunidade, há dois anos, conta com acesso à internet via fibra óptica e sinal de telefonia, o que facilitou a implementação da nova tecnologia.

A emissão das notas é feita mensalmente através do aplicativo Nota Fiscal Fácil (NFF), que registra e salva os dados de forma prática. “É a troca do papel pelo digital. Acreditamos que isso facilita bastante, mas a adaptação é o mais difícil neste momento”, comenta Gabriela, destacando que a mudança trouxe benefícios para a gestão da propriedade, embora ainda represente um desafio para a rotina do casal.

Os produtores também utilizam outros aplicativos para controlar e acompanhar toda a produção.

Tiago e Gabriela já se adaptaram às mudanças estabelecidas para a emissão da NF-e. (Foto: Gabriel Santos)

Contraste

Enquanto o casal aposta na modernização, Juarez Degasperri, pai de Gabriela, segue utilizando métodos tradicionais. Ele mantém parte da produção registrada em talões de produtor, preenchidos manualmente e enviados ao transportador. Para Juarez, a adaptação às novas tecnologias é um processo mais lento.

“É mais uma mudança. Nós estamos acostumados com o papel. Já houve o tempo em que nem energia elétrica tínhamos, e tudo era braçal. Agora a tecnologia chegou para ajudar, mas para nós, mais velhos, é mais difícil”, reflete o produtor.

Site e aplicativo

A NF-e pode ser emitida pelo produtor rural por meio da Nota Fiscal Avulsa, disponibilizada pela Secretaria da Fazenda (Sefaz), ou pelo aplicativo Nota Fiscal Fácil (NFF). Esta última se destaca como a opção mais utilizada, devido à sua praticidade e processo simplificado, que abrange mais de 200 tipos de produtos.

No entanto, a emissão exige acesso à internet, o que ainda é um desafio para muitos agricultores no estado. De acordo com Lauro Baum, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Lajeado, a falta de familiaridade com as tecnologias e a dificuldade de acesso regular à internet ou a smartphones são problemas que, embora tenham diminuído, ainda são encontrados na região.

No quesito conexão, “nosso interior mudou muito. Mas uma questão que acentuou esse obstáculo é a enchente. Muitas propriedades foram atingidas e modificadas, algumas totalmente destruídas, outras ainda estão se adequando”, ressalta Baum, que acredita que um novo prazo de adiamento para a obrigatoriedade seria benéfico para auxiliar aqueles que passam por esse cenário.

O extensionista rural contador da Emater/Ascar, Anderson Junqueira da Rosa, explica que, como alternativa, o NFF pode ser utilizado no modo offline. Nesse formato, os registros são realizados no aplicativo sem necessidade de conexão com a internet, e a nota é autorizada assim que o acesso é restabelecido. “O produtor faz seu registro e, quando estiver em um local com sinal, poderá finalizar a operação”, comenta.

Ainda assim, ele reconhece que o acesso as tecnologias é um desafio em algumas propriedades. Para se adaptar a nova exigência, Rosa acredita que alguns produtores terão que moldar a rotina e ter um momento da semana dedicado a fazer este serviço. Enquanto que com o talão era possível emitir na hora a informação, agora ele terá que se programar para fazer os lançamentos online.

NF-e pode ser emitida por meio da Nota Fiscal Avulsa ou pelo aplicativo Nota Fiscal Fácil. (Foto: Jéssica R Mallmann)

Benefícios da Transição

Apesar das dificuldades iniciais, a NF-e trará vantagens importantes aos produtores. Baum ressalta que a tecnologia, quando bem aplicada, traz agilidade e maior precisão nos registros. Outro ponto destacado é a segurança da informação, uma vez que o aplicativo foi desenvolvido por órgãos reconhecidos, como o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do RS (Procergs).

Para ele, a tendência é que os pequenos produtores se adaptem de maneira gradual. “Todas as mudanças geram algum estresse e adaptação e desta vez não vai ser diferente. Com tempo e as devidas orientações, os benefícios serão mais visíveis”, completa Baum.

Rosa também enxerga a exigência da NF-e como uma possibilidade de aproximar o jovem a lida no campo, tendo em vista que eles são mais tecnológicos e possuem facilidade de lidar com processos relacionados à internet. “Em algumas propriedades é o filho que faz essa atividade. A dificuldade e o ‘medo do novo’ existem para alguns produtores, mas o aplicativo dá a opção de cadastrar um operador, alguém de confiança que emitirá a nota por ti. É uma questão de se adaptar”.

Treinamentos

Uma série de capacitações são realizadas na região em parceria com empresas e entidades, com o intuito de auxiliar o produtor no cadastro dos produtos e serviços, bem como na emissão da NF-e. A exemplo, o escritório regional da Emater/Ascar Lajeado atua com cooperativas e associações da região. “Queremos que eles saibam como emitir uma nota, pois isso, estamos fazendo um passo a passo. Sabemos que não vamos chegar em todos (produtores), mas assim, alguns terão o mínimo de conhecimento e informação para auxiliar uns aos outros”, destaca Rosa.

Até o dia 18 de novembro, a equipe havia capacitado 3.354 produtores e 387 colegas das unidades regionais e cooperativas.

Saiba mais

  • A data para obrigatoriedade de emissão da NF-e para produtores rurais no Rio Grande do Sul é 2 de janeiro de 2025;
  • O login do NFF é feito por meio dos dados de acesso ao portal gov.br;
  • Os produtores podem cadastrar operadores que, em seu nome, farão a emissão de documentos fiscais de compra ou venda de produtos.

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