A destruição e os resíduos deixados pelas enchentes no Vale não são os únicos vestígios dos últimos desastres. Um problema menos visível, mas igualmente preocupante, é a contaminação ambiental. Quando as águas recuam, substâncias tóxicas, como metais pesados e alguns hidrocarbonetos, são dispersados no ambiente e infiltram-se nos solos, rios e lagos. O que coloca em risco o ecossistema e a saúde humana.
O engenheiro químico e professor Gustavo Reisdörfer, 46, explica que parte dos contaminantes encontrados após as cheias têm origem em materiais presentes nas próprias casas. A exemplo dos alvejantes, herbicidas, soluções de limpeza e até mesmo medicamentos. Da mesma forma, em indústrias e comércios, uma ampla variedade de produtos levados pelas águas contêm substâncias tóxicas que contribuem para a contaminação ambiental.
“Ainda temos os resíduos domiciliares e industriais, fossas sépticas e sistemas de tratamento de esgoto e efluentes industriais. O que a água das enchentes acaba fazendo é carregar e distribuir todos esses materiais e produtos, que estavam depositados ou acumulados, para outros locais”, relata.
O engenheiro destaca que a contaminação ambiental é uma consequência inevitável das enchentes, mas o problema está no tempo que os resíduos permanecem no solo. Quanto mais prolongada essa exposição, maior será o impacto dos contaminantes no ambiente. “Essa questão fica em segundo plano frente a todas as primeiras necessidades da população e das cidades. Mas é um problema de longo prazo e que a população vai acabar sofrendo os efeitos dessas contaminações”, ressalta.
Como identificar
A presença de metais pesados e substâncias tóxicas não é facilmente reconhecida, sendo possível encontrar contaminação até mesmo em águas consideradas cristalinas. Isso porque alguns metais não conferem coloração em contato com o líquido. Um sinal de alerta pode ser a presença de cheiros fortes ou odores não característicos do ambiente.
Na dúvida, o engenheiro recomenda não consumir águas ou mesmo vegetais, sem a devida higienização, de áreas que sofreram com a inundação. E ao ter contato com contaminantes, procurar orientação médica.
Manejo e descarte corretos
O gerenciamento dos entulhos é complexo, devido a sua grande quantidade e a ausência de locais adequados na região para armazená-los em segurança. Hoje, os governos municipais, em parceria com o governo do estado, têm destinado os materiais para a Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), um depósito em Minas do Leão, e para um depósito licenciado na Linha Santa Terezinha.
Descontaminzação
Reisdörfer afirma que o ambiente é dinâmico e se recompõem com facilidade. Mas manter a vegetação nas áreas afetadas pode ser um diferencial no processo de recuperação. “Ela auxilia na fixação de alguns compostos e diminui a mobilidade de alguns contaminantes”. Para ele, também é importante evitar atividades em áreas que sofrem constantemente com as inundações. “Se mantivéssemos essas áreas vegetadas e desocupadas, evitaríamos e muito a contaminação”.