Ao percorrer as rodovias do Vale do Taquari, é comum avistar animais mortos tanto nas pistas quanto nos acostamentos. E este cenário está cada vez mais frequente, uma vez que o crescimento urbano, aliado à falta de espaços apropriados para a fauna, expõe os animais silvestres.
“No Brasil, estima-se que a cada segundo, 15 animais são atropelados”, afirma a bióloga, Edith Ester Zago de Mello. Segundo ela, esse dado é alarmante e evidencia a urgência de implementar medidas para proteger a biodiversidade e reduzir os impactos do tráfego rodoviário.
A bióloga ressalta que o comportamento dos animais varia conforme a espécie, tornando complexo identificar um único fator que os leve a cruzar rodovias. “Hoje temos ambientes bastante fragmentados e as matas e habitats estão fracionados. Então, de modo geral, os animais se deslocam para buscar alimentos e pares para reprodução”, afirma.
Os répteis e anfíbios são os mais vistos às margens da rodovia. No entanto, nos últimos meses a quantidade de mamíferos atropelados chama a atenção dos pesquisadores. “O atropelamento é uma das principais causas de mortandade de animais silvestres no Brasil, chega a superar a caça e o tráfico de animais”, ressalta Edith.
Em busca da preservação
A preservação da fauna exige atenção e implementação de medidas para reduzir os atropelamentos. Embora a legislação tenha avançado, fazendo com que as concessionárias implementem projetos de mitigação, o Brasil ainda possui poucos corredores e travessias de fauna, o que limita a proteção efetiva dos animais.
Soluções como túneis sob as rodovias, adequados para espécies como tatus e tamanduás, e passarelas suspensas, ideais para primatas e marsupiais, são exemplos de sistemas construtivos que podem auxiliar na redução destes acidentes. Além disso, a sinalização e o controle de velocidade em áreas de intensa circulação das espécies são importantes para a conscientização dos motoristas.
Ainda assim, Edith destaca que a atenção deve se estender para dentro das cidades, uma vez que, nas vias urbanas, também ocorrem atropelamentos de animais silvestres. “Onde há pouco espaço e remanescente florestal, como dentro das cidades, acaba ocorrendo um maior deslocamento dos animais, porque os fragmentos urbanos são menores”, explica. “Claro que os animais são de porte menor dentro da cidade, porém cabe chamar a atenção dos motoristas para essa situação.”
NÚMEROS
Segundo o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), a cada ano 475 milhões de animais são atropelados nas estradas brasileiras. Deste total:
- 430 milhões são pequenos animais (como sapos, pequenas aves, cobras, entre outros).
- 40 milhões de animais de médio porte (como gambás, lebres, macacos)
- 5 milhões são de grande porte (como onças-pardas, lobos-guarás, onças-pintadas, antas, capivaras)