Um retrato da luta da região alta para voltar à normalidade

Rodovias, pontes e turismo

Um retrato da luta da região alta para voltar à normalidade

Seis meses após o desastre que marcou o povo gaúcho, municípios ainda lutam para se recompor depois de serem os mais atingidos pelas enchentes de 2023

Um retrato da luta da região alta para voltar à normalidade
A previsão de conclusão da ponte Brochado da Rocha é até fevereiro de 2025. (

Passados mais de seis meses da tragédia climática que assolou o Estado, diversos setores permanecem em constante trabalho para desempenhar os serviços impactados pelos danos gerados em maio. Diferente de outros locais afetados, a região alta já vinha de um momento de reconstrução e retomada econômica após ser a região mais afetada pelas enchentes históricas de setembro e novembro de 2023, com a destruição recorrente, muito do retrabalho foi perdido.

A situação da infraestrutura rodoviária e, por consequência, do setor turístico, empresarial e a própria gestão municipal por parte dos prefeitos requer atenção. Os responsáveis pelas diversas áreas apontam avanços e percalços enfrentados enquanto a normalidade permanece em um prisma futuro.

Pontes em construção, ferrovia do Trigo, Trem dos Vales, Complexo do Cristo, grandes empreendimentos de Encantado, e o próprio acesso à região com as obras na ERS-130, o trajeto na 129 em Colinas cada vez mais deteriorado e as dificuldades na ponte do exército são alguns dos exemplos que surgiram no pós-enchente.

Infraestrutura rodoviária

O governo do Estado começou a manutenção emergencial da ERS-332 no início de novembro. A operação tapa-buracos é o trabalho prévio à futura recapagem asfáltica prevista para 2025. Contudo, a qualidade do material tem sido alvo de críticas por parte de usuários, autoridades e representantes do setor produtivo.

A EGR irá executar em breve o serviço de pintura e a colocação de tachas no segmento da ERS-129. (FOTO: Divulgação)

ERS-129 (trecho de Muçum a Vespasiano)

A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) concluiu as duas camadas de pavimentação asfáltica do quilômetro 88 da ERS-129, em Muçum. No momento, as equipes seguem executando a construção de um muro de gabião no local. Também já foram retiradas as rampas que davam acesso ao desvio provisório, que antes era utilizado como passagem alternativa pelos veículos e, nos últimos dias, foi finalizada a instalação da defensa e dos delineadores no trecho da estrada. Em breve, a EGR irá executar o serviço de pintura e a colocação de tachas no segmento.

A EGR também realizou uma recomposição de talude no quilômetro 96 da ERS-129, no sentido Vespasiano Corrêa/Muçum (lado direito). Nos próximos dias, a estatal fará uma limpeza no quilômetro 89, para corrigir uma queda de barreira com a consequente reconfiguração do talude.

Ponte Brochado da Rocha em Muçum

Nessa semana iniciaram a colocação das vigas na ponte que reconecta o município a Roca Sales. As próximas fases incluem a instalação das lajes, concretagem, finalização da pista e os ajustes finais da estrutura. A previsão de conclusão é até fevereiro de 2025. A obra foi viabilizada por um recurso federal no valor de R$ 9,6 milhões.

Ponte entre Guaporé e Anta Gorda

As obras estão previstas para iniciar ainda esse mês ou no início de dezembro. Orçada em R$ 6,1 milhões, a ponte terá 90 metros de comprimento, será de mão única e construída em concreto armado e estrutura metálica. A conclusão é estimada entre março e abril de 2025.

Turismo Cristo Protetor

O complexo do Cristo Protetor será inaugurado dia 6 de abril de 2025. Atualmente as obras já estão 85% concluídas e o monumento já ultrapassou mais de 300 mil visitantes, no último final de semana 2,3 mil pessoas passaram pela estrutura.

Trem dos Vales

O retorno do transporte de cargas por locomotivas nos ramais da região segue sem previsão. Por isso, o foco dos esforços no Vale está voltado para o trem turístico. A Associação dos Municípios de Turismo dos Vales (Amturvales) propôs assumir a gestão de 46 quilômetros da ferrovia, para viabilizar os passeios entre Guaporé e Muçum. A proposta foi apresentada ao governo federal e aguarda resposta. “Nossa ideia é realizar a reforma por meio de uma parceria entre o setor público e o privado”, afirmou Rafael Fontana, coordenador do Trem dos Vales.

Segundo levantamento preliminar na região, o trem turístico apresentou menos danos em comparação com os trechos que ligam Santa Catarina e a Serra Gaúcha. Nos 46 quilômetros analisados, foram identificados 60 deslizamentos, com a necessidade de remover cerca de 50 mil metros cúbicos de material. O percurso de 20 quilômetros exige aterros em oito pontos, reparos em três viadutos e a reconstrução de sete quilômetros de trilhos.

Viaduto 13

Conforme o prefeito de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelon, em alguns dias de catástrofe foram destruídos anos de conquistas significativas no turismo regional. “O Trem dos Vales estava ganhando força, proporção e significativamente deu uma nova cara para o setor, pois estávamos atingindo números expressivos de turistas e visitantes que foram motivo para os empreendimentos investirem e se reestruturassem. O Viaduto 13 teve todo seu entrono comprometido, dificultando os acessos, fazendo com que as pessoas trocassem o destino para outros pontos turístico e em outras regiões”, apontou.

Contudo, Michelon ressaltou o setor turístico está retornando no município. “Agora estamos com os caminhos abertos e os empreendimentos recebendo visitantes em abundância, Vespasiano investiu em infraestrutura e estamos pouco a pouco recuperando os danos. A maior falta no momento é o Trem dos Vales, que além de contemplar o Viaduto 13, da vida para a Ferrovia do Trigo com um dos passeios de Trem mais belos do Brasil.”

Maior desafio dos municípios

Encantado

O prefeito de Encantado, Jonas Calvi, destacou os principais desafios enfrentados pelo município e pela região alta do Vale do Taquari, na questão da habitação e mobilidade. “As 35 casas modulares prometidas pelo governo estadual estão em construção, embora em ritmo lento devido à falta de mão de obra. Além disso, outros 50 módulos habitacionais já chegaram ao município, e acessos como pontes e estradas estão sendo restabelecidos” afirmou.

Entretanto, a maior dificuldade como região está na recuperação e manutenção das rodovias, como as ERS-129, ERS-130, ERS-332 e ERS-425, além do acesso à Nova Bréscia. “Foi realizado um tapa-buraco, que ajudou a amenizar os problemas, mas isso não é suficiente para atender às necessidades da região. Precisamos mais do que medidas paliativas. É hora de pensarmos em soluções que não só restabeleçam a normalidade das rodovias, mas também ampliem a capacidade de fluxo para atender às demandas crescentes”, concluiu.

Muçum

“São muitos desafios gigantescos: manter a serenidade, agir com coragem mesmo em decisões difíceis, a sobrecarga de todos os profissionais diretamente envolvidos no processo, a captação e disponibilidade de recursos para fazer tudo que precisa ser feito. O maior deles é justamente no aspecto emocional: fazer as pessoas se motivarem, acreditarem novamente na cidade, recuperando um sentimento de autoestima, confiança e pertencimento com seu próprio espaço. Isso tem sido mais difícil do que das outras vezes, mas gradativamente, vamos conseguindo também recuperar esse aspecto”, declarou o prefeito Mateus Trojan.

Roca Sales

Segundo o prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana, embora a recuperação em diversas áreas esteja avançando, a habitação permanece como a maior prioridade e o principal desafio para atender às necessidades da comunidade. “Muitas pessoas procuram o município, as assistentes sociais e o secretário de habitação, preocupadas com a demora. Acreditam que ficarão de fora, o que torna a situação ainda mais difícil”, explicou Fontana.

Empresas

Fontana S/A

O empreendimento com 90 anos de história opera com, “aproximadamente 70 ou 75% da produção em funcionamento após esses seis meses, mas os problemas elétricos eletrônicos são constantes nos equipamentos e máquinas”, revelou o diretor Ricardo Fontana. Nas últimas quatro enchentes o prejuízo calculado pela Fontana é de R$ 34 milhões.

“Dos recursos que conseguimos ter acesso, mesmo que insuficientes para nossa demanda, ainda falta o BNDES liberar o relativo à reconstrução, que utilizaremos para a montagem das linhas novas de produção de sabonetes em Teutônia. A questão logística continua preocupando, pois as estradas estão em péssimo estado, gerando dificuldade de locomoção e aumento de custos no transporte de matérias-primas e produtos acabados”, esclareceu o diretor.

Dália Alimentos

Presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini, apontou que desde as cheias de maio, a empresa tem enfrentado desafios enormes, como inúmeros outros empreendimentos que dependem de infraestrutura logística, especialmente no que tange ao trânsito pelo Vale do Taquari.

“No âmbito da Cooperativa, enfrentamos dificuldades severas, em especial no aumento dos custos de produção. Os impactos advêm, principalmente, da elevação nos valores do frete e da lentidão na entrega de mercadorias, ocasionada tanto pela busca de rotas alternativas quanto pela ausência de acessos adequados, decorrente da destruição de pontes durante as enchentes”, apontou.

Conforme o presidente, a maior preocupação atual reside na não conclusão da ponte definitiva na ERS-130, que conecta Arroio do Meio e Lajeado. Com a proximidade do verão, período crítico para o transporte de cargas vivas, há um risco iminente de congestionamentos, seja na ponte provisória instalada pelo Exército, ou na ERS-129, que conecta Colinas e Roca Sales, atualmente, em péssimas condições. “A médio e longo prazo, perdemos oportunidades estratégicas e, potencialmente, espaço no mercado. Essas oportunidades são irrecuperáveis. Os custos de produção aumentam, enquanto o ritmo das obras na ERS-130 permanece aquém das expectativas”, concluiu Piccinini.

Divine Chocolates

“Durante os primeiros 60 dias após a enchente, embora nossa fábrica não tenha sido diretamente afetada, enfrentamos impactos significativos nas vendas devido a desafios logísticos e ao reestabelecimento ou fechamento de mercados locais. As interrupções nas rotas de transporte dificultaram a distribuição de nossos produtos, resultando em aumento de custos operacionais” revelou o gerente comercial nacional, Mateus Sucolotti Silva.

A situação começou a estabilizar após três meses, com a ponte de ferro tendo um papel essencial nesse quesito. “Com a liberação da ponte provisória construída pelo exército, a logística praticamente retomou sua normalidade. Nossos caminhões agora transitam sem a necessidade de desvios por Colinas, o que otimiza os prazos de entrega e reduz os custos logísticos. Atualmente, estamos operando em plena capacidade. Retomamos o fluxo regular de produção e distribuição, garantindo que nossos produtos cheguem aos clientes eficientemente”, pontuou o gerente comercial.

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