O escritor, professor, jornalista e pesquisador José Alfredo Schierholt completa, neste sábado, 23, seus 90 anos. Figura notória em Lajeado, chegou à cidade há mais de cinco décadas, como professor estadual. Aqui, foi peça central no resgate da história não só de Lajeado, mas de todo o Vale do Taquari.
Autor de dezenas de livros, 15 deles publicados, lançou sua última obra no início do mês, contanto a trajetória do Hospital Bruno Born. Inquieto, rumo ao centenário, já trabalha em outro livro, “A História dos Escritores do Vale do Taquari”. Suas muitas obras contribuíram para preservar as origens das cidades, instituições e as memórias de toda uma comunidade.
As origens do professor
Nascido em 23 de novembro de 1934, Schierholt é filho dos imigrantes alemães Franz Wilhelm Schierholt e Anna Agnes Kloppenburg. Os pais se conheceram na cidade de Rolante e, junto da família Kloppenburg, se mudaram para Hulha Negra, no sul do estado, no ano de 1932.
Pesquisador nato, Schierholt ainda lembra em detalhes as histórias que ouviu na família. “Meu avô foi um dos primeiros plantadores de trigo de Bagé, foi para lá em busca de terras mais planas”, conta. A família materna do escritor foi uma das colonizadoras de Hulha Negra. “Meu pai foi junto, mas ainda não era casado com a minha mãe. Dormia toda noite no galpão, até o casamento.”
Schierholt foi o primeiro filho a nascer da união, e foi seguido por mais sete irmãos. Entre as lembranças dos tempos em Hulha Negra, cita as visitas do Frei Boaventura Kloppenburg, tio dele, que mais tarde se tornou bispo.
Em 1942, aos oito anos, Schierholt saiu em definitivo da cidade natal, quando foi levado pelo pai para Rolante, onde foi morar com os primos. “Não havia escola na colônia, então fui estudar fora. Em Rolante, aprendi a falar português, até então era só alemão. Também passei a ajudar nas missas, tudo em latim”, lembra. Foi nesse período que começaram a incentivar Schierholt a ser padre.
Do altar à sala de aula
De fato, ele seguiu a vocação religiosa. Passou por seminários em Pelotas e Santo Ângelo e cursou filosofia e teologia na Universidade de Passo Fundo. Foi ordenado padre em 1961, quando seguiu para atender a paróquia de Santo Ângelo. “Fiquei dois anos por lá, atendia 16 capelas e 15 escolas. Tinha vezes que o carro não chegava até o local e eu precisava ir de cavalo”, lembra.
Mais tarde, foi transferido para a paróquia de Rolante e, depois, David Canabarro. Foi enquanto atendia a comunidade no sul do estado, por volta de 1969, que Schierholt deu os primeiros passos rumo a sua vocação de professor. “Eles não tinham uma escola para as crianças mais velhas, então ajudei a fundar um ginásio, onde fui professor e diretor. Na época, eu já tinha intenção de deixar o sacerdócio”, conta.
Schierholt então ingressou no magistério estadual e, numa cidade próxima a David Canabarro, conheceu Rene, sua futura esposa, falecida há pouco mais de um ano. O professor pediu sua licença da vida sacerdotal em 1971 e, no mesmo ano, casou e foi transferido para Lajeado. No Vale do Taquari, iniciou como professor do Colégio Presidente Castelo Branco. Aqui, construiu a casa que mora ainda hoje e criou os três filhos.
Filha do meio, Saionara Schierholt destaca o trabalho incansável do pai. “Para mim, ele é uma inspiração, desde criança, um exemplo. Sempre foi um pesquisador muito atento a datas e fatos concretos. E como professor, sempre teve o desejo de transmitir isso aos outros”, resume. “Aos 90 anos, ele poderia estar acomodado, mas está sempre em busca de mais. Admiro como ele passou por toda essa transformação da tecnologia, ele sempre quis aprender mais. Isso é uma inspiração e nos enche de orgulho.”
O legado de Schierholt
Sua pesquisa incansável rendeu dois livros sobre a história de Lajeado, além do resgate de muitas instituições da cidade, como a Igreja Matriz Santo Inácio, o Hospital Bruno Born e o Colégio Madre Bárbara. O início de toda essa trajetória foi em uma sala de aula, quando Schierholt percebeu o desinteresse dos alunos pela aula de história sobre os faraós do Egito.
“Perguntei se queriam falar sobre a história da sua cidade, então. Mas nem um único aluno sabia um fato. Naquele dia, dei como tarefa perguntarem aos pais e autoridades de Lajeado a história do município, e falei que iria cobrar na prova”, lembra. “Comecei minha pesquisa a partir dali, como podemos estudar as grandes histórias se não conhecemos a nossa própria?”, reflete ainda hoje.
Os estudos iniciaram com dificuldades, poucas eram as informações sobre a cidade. “Falei com o Mário Lampert, ex-prefeito, ele quem disse para eu acessar o arquivo histórico da cidade. Desde aquele momento, nunca mais parei”.
Historiadora do Arquivo Histórico Municipal de Lajeado, Adriana Jachetti considera Schierholt uma referência na história do município. “Os livros dele servem de base, em especial, quando alguém vem pedir alguma informação histórica no arquivo ou quando desenvolvemos algum projeto na área”, destaca.
“O professor sempre foi muito solícito em questão de dúvidas. Com certeza, o trabalho dele é muito importante para Lajeado, ele resgatou e registrou a história que muita gente nem conhecia. Ele quem deu o pontapé inicial”, avalia Adriana. Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu o Título de Cidadão Lajeadense em 1993 e, em 2010, foi patrono da 5ª Feira do Livro da cidade.
Comemoração do aniversário
Uma festa de 90 anos foi organizada neste sábado, para família e amigos. Sobre a comemoração, comenta: “Nos meus 80 anos fizeram uma surpresa, me pegaram de calça curta. Dessa vez não deixei, já dei logo a ideia da festa”, conta bem humorado. Rumo aos 100 anos, Schierholt mostra com orgulho as duas bengalas penduradas na garagem. “Não preciso delas”, resume, enquanto anda em ritmo apressado.
Em seu escritório, mostra os documentos de uma vida inteira de estudos e pesquisas. “Sei que não vou ter tempo suficiente para escrever tudo o que gostaria e poderia, mas meu desejo é que tenham paciência para ler e acompanhar a evolução das coisas na vida.”
Conheça as obras do autor
- Centenário de Ordenação do Padre João Batista Berthier (1962)
- Revolução Federalista no Vale do Taquari (1989)
- Lajeado I (1992)
- Lajeado II – APEUAT: Raízes do Ensino Superior (1995)
- Schierholt – História e Genealogia (1996)
- 100 anos de Madre Bárbara (1997)
- À Sombra de Plátanos – História da Saúde no Vale Do Taquari (1997)
- Grão de Mostarda – Caminhada da Paróquia de Santo Inácio (1997)
- Frei Boaventura Kloppenburg (1999)
- 80 anos da Acil (2001)
- Estrela Ontem e Hoje (2002)
- Rolante – Rio que gera história (2004)
- Cruzeiro do Sul e sua História (2010
- Rádio Independente 60 anos no ar (2011)
- Do passado ao presente: A História do Hospital Bruno Born (2024)