Em 20 de novembro, tivemos o primeiro feriado nacional do Dia da Consciência Negra. Tenho certeza de que muitos nem se deram conta do que se trata a data. Outros, bem pior, criticaram com frases repletas de preconceito como estas que li pelas redes sociais: “Que vitimismo! E o dia do branco?”
Vi também aquela famosa frase: “Precisamos de consciência humana…” Ora, é óbvio que precisamos da consciência humana para respeitar o próximo e ter a fraternidade como paradigma. Porém, se os negros é que foram escravizados e sofrem até hoje as consequências desse flagelo, somente lembrar da consciência humana em 20 de novembro soa bastante estranho. Claro que há pessoas que não têm maldade e usam essa frase porque acham ela de efeito. No entanto, se parassem para refletir um pouco mais, talvez concluíssem que, ao minimizar a importância da data, estão estimulando uma espécie de anistia para os erros do passado e normalizando os erros do presente. E sabemos que um país precisa ter memória pra não repetir atrocidades.
Nos comentários das redes ainda surgiram manifestações dos que se dizem cumpridores de deveres e que, hipócritas, infringem a lei ao mostrar seu ranço racista e deixam por escrito o seu rastro criminoso.
Para quem não sabe, a data já era celebrada antes e é uma conquista do movimento negro. Tornou-se feriado nacional após aprovação de lei no congresso nacional, sancionada pelo presidente da república em 2023. É o dia da morte de Zumbi, um dos líderes do Quilombo dos Palmares, um relevante personagem histórico do país e que representa resistência e luta contra a escravidão.
Sim, é uma data significativa porque, em algum momento, alguém vai falar deste feriado e do que ele representa, o assunto estará nas escolas, na imprensa, em eventos comunitários. Então, se sublinhará que a consciência negra é a valorização da cultura e da história afro-brasileira. E se afirmará que ser negro não é defeito; ao contrário, é motivo de orgulho.
É evidente que uma dívida histórica não se apaga ao ter um dia do ano pra lembrar. Por outro lado, é preciso ter bem presentes as memórias sobre a escravidão e os impactos dela até hoje.
Prova de que o nosso país ainda têm muito a mudar para vencer seus preconceitos, e de que a tal consciência humana não existe nos 365 dias do ano, é a notícia recente sobre estudantes de uma universidade que ofenderam cotistas negros de universidade pública durante jogos jurídicos em São Paulo.
Temos um longo trajeto a percorrer, mas, com certeza, não basta só dizer que temos consciência humana e que não somos racistas. É preciso mais! Temos que agir no dia a dia contra o racismo estrutural e sermos antirracistas o tempo todo.
Viva a consciência negra!