A influenciadora gaúcha, Lorena Eltz (24), é conhecida nacionalmente por retratar nas redes sociais o dia a dia de pessoas ostomizadas e com a doença de Crohn. Convivendo com o diagnóstico desde a infância, ela usa as redes sociais como um guia para aqueles que não conhecem a doença ou têm dúvidas sobre o uso da bolsinha.
Em entrevista exclusiva para o Grupo A Hora, Lorena relata mais detalhes sobre a sua rotina.
Como foi o processo de aceitação da ostomia?
Fui diagnosticada com a Doença de Crohn ainda na infância, o que trouxe uma série de desafios para minha vida desde muito cedo. Durante os primeiros anos, a minha rotina foi marcada por consultas médicas, exames constantes e internações frequentes. Em 2012 fui submetida a uma primeira cirurgia que mesmo sem saber, precisaram fazer uma colostomia. Como eu não sabia quase nada do tema, fiquei super confusa com aquela nova condição na minha vida. Os médicos naquela época me falavam que ia ser uma ostomia “temporária” e que logo mais eu poderia tirar.
Os anos se passaram, mais cirurgias foram feitas e eu percebi que a ostomia ficaria comigo pro resto da vida. A virada de chave veio aos poucos, conforme fui percebendo os benefícios que a ostomia trouxe para minha qualidade de vida. Entre os benefícios, passei de uma rotina de dores constantes e limitações extremas para uma situação em que pude voltar a realizar atividades que antes eram impossíveis. Essa nova liberdade foi um fator decisivo para que eu começasse a enxergar a ostomia não como uma limitação, mas como uma solução que me permitiu viver de forma mais plena. O apoio da minha família e de amigos também foi essencial para fortalecer minha autoconfiança e me ajudar a enfrentar essa fase com mais segurança.
O que te motivou a compartilhar sua história na internet?
A motivação para compartilhar minha história na internet veio de uma necessidade interna de transformar minha experiência em algo que pudesse ajudar outras pessoas. No começo, a ideia era apenas documentar meu dia a dia, mas rapidamente percebi que muitos se identificavam com as dificuldades que eu relatava e encontravam forças nas minhas superações. Ver que minha história podia inspirar outras pessoas me motivou a continuar compartilhando e a abordar temas que muitos ainda consideram tabus.
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A sociedade está preparada para acolher pessoas ostomizadas?
Quando converso com outros pacientes ostomizados, a vergonha da bolsa é um sentimento que aparece com frequência. Isso, muitas vezes, está relacionado ao preconceito social e à falta de informação. É triste ver que ainda há um longo caminho a ser percorrido em termos de acolhimento e empatia. Embora existam avanços na discussão sobre deficiências e condições crônicas, percebo que a sociedade em geral não está totalmente preparada para incluir pessoas ostomizadas sem preconceitos ou estigmas. Por isso, projetos de conscientização e iniciativas para desmistificar a ostomia são tão importantes.
É possível levar uma “vida normal” com a ostomia?
Apesar das “Adaptações”, acredito que é possível levar uma “vida normal” com a ostomia. Tenho uma rotina que inclui trabalho, estudos, viagens e lazer, e procuro demonstrar que, com planejamento e adaptações, é sim viável possível viver bem. Isso não significa que não existam desafios; eles existem e, em alguns momentos, podem ser mais complexos. No entanto, é a forma como encaramos esses desafios que faz toda a diferença. A ostomia trouxe limitações, mas também trouxe uma nova perspectiva sobre o que é viver plenamente.
De onde vem sua tranquilidade e resiliência para tratar de um tema tão sensível?
A forma como lido com esse tema sensível vem de uma busca constante por aceitação e confiança. Aprendi a olhar para os meus desafios como algo que faz parte da minha jornada, e não como um obstáculo insuperável. Me inspiro em pessoas que enfrentam a vida real com coragem, sejam elas pacientes com condições crônicas como eu ou pessoas que dedicam suas vidas a ajudar os outros. Ter contato com a comunidade online e ouvir tantas histórias de superação é algo que me fortalece e me incentiva a continuar compartilhando com autenticidade.
Para finalizar, uma mensagem para quem ainda está no processo de aceitação da ostomia.
Leve o seu tempo e permita-se viver cada fase do processo com paciência. Aceitar uma nova realidade pode ser difícil, mas é importante lembrar que você é muito mais do que a sua condição. O seu valor não está em como o mundo te vê, mas em como você se enxerga. Encontre força na sua história e saiba que viver com ostomia é um sinal de coragem e de resiliência.