Marcos, nos conte sobre o acidente que sofreu e como foi o processo de adaptação
O acidente aconteceu em 20/09/1988. Íamos eu e mais três pessoas de carro. Estávamos indo para Triunfo. No trajeto, em estrada de chão, houve uma derrapagem em uma curva e batemos em um caminhão. Dois dos colegas, machucaram-se pouco, já eu, que não estava atento, sofri uma lesão na medula. O motorista faleceu. Como consequência da lesão, fiquei nos primeiros dias totalmente paralisado do pescoço para baixo. Após dez dias, meu lado esquerdo despertou, mas o direito não. Fiquei com sequelas, hemiparesia (paralisia parcial) de membro inferior e superior direito. Após muita fisioterapia e cerca de um ano em cadeira de rodas, voltei a andar. Desde então, mesmo com limitações, levo uma vida praticamente normal.
Como foi o impacto imediato dessa mudança na sua vida?
O impacto imediato foi a concentração em melhorar o máximo possível, já que no início da lesão quanto mais exercitar, mais chances de recuperação. Claro, foi um choque, eu praticava muitos esportes, também tive o ano letivo interrompido. Porém, desde o início, sempre procurei ter uma atitude positiva, não fiquei e não fico remoendo o problema, tento encontrar soluções.
Como foi seu caminho até ingressar na Justiça do Trabalho?
Em 2005, me formei em Direito e, em 2006, prestei concurso para o TRT4. Em 2009, fui nomeado, e no ano seguinte fui convidado a ser secretário de audiências. Antes, tive que adaptar uma forma de digitar as Atas, o que requer precisão e rapidez. Como não tenho os movimentos finos da mão direita (não consigo mexer os dedos separadamente), passei a digitar normalmente com a mão esquerda e, com a mão direita, digito apenas com o canto do dedo anelar, com a mão um pouco na diagonal, sendo a única forma de não bater todos os dedos ao mesmo tempo nas teclas.
Como você percebe sua evolução profissional considerando os desafios?
Percebo minha evolução profissional como plenamente satisfatória. Realizo uma atividade que me dá prazer, além de secretariar as audiências, faço minutas de despachos ao juiz e atendimento ao público, o que me agrada bastante. O aprendizado é de que fiz a escolha certa, em sempre buscar soluções ao invés de me perder nos problemas que, invariavelmente, aparecem na trajetória de qualquer um.
Como se sente em ter a história contada no livro da Justiça do Trabalho?
Sinto-me orgulhoso, afinal, foi e é um esforço que faço para contribuir com a Justiça do Trabalho e, por meio do livro, sinto o reconhecimento por tal esforço. A lição que tenho hoje é de que a capacidade do ser humano de se adaptar às dificuldades é enorme, basta ter uma atitude positiva e determinação. Ninguém pode impor limites a você, só você conhece seu verdadeiro limite.