O movimento criado por líderes do Vale do Taquari rompe fronteiras da região e consegue apoio da principal federação do setor produtivo gaúcho, a Fiergs. Com os engarrafamentos diários entre Lajeado e Estrela, com consequências sobre rodovias adjacentes do Estado (como nas ERS-130 e 453), o Conselho de Infraestrutura da federação adiciona como prioridades de obra do setor público uma nova ponte sobre o Rio Taquari, na BR-386, e o anel viário para desviar o fluxo de caminhões das áreas urbanas até a rodovia da produção.
“Estamos ao lado de projetos capazes de desenvolver o Estado e as nossas indústrias. A BR-386 é uma via fundamental para chegada de insumos e também para o transporte das produções das nossas empresas. Hoje, o Vale do Taquari enfrenta uma situação de dificuldade, com interferência sobre as demais regiões”, avalia o coordenador do Conselho de Infraestrutura (Coinfra) da Fiergs, Ricardo Portella.
De acordo com ele, a limitação de tráfego sobre a ponte do Rio Taquari, entre Lajeado e Estrela, mostra a fragilidade regional em termos de estradas alternativas a BR-386. Com a interrupção parcial do trânsito na rodovia, motoristas convivem com transtornos diários.
Pela BR-386 passa cerca de 70% do Produto Interno Bruto gaúcho. No trecho da 4ª delegacia da Polícia Rodoviária Federal, que abrange Tio Hugo até Tabaí, a estimativa é que transitem uma média de 20 a 25 mil veículos por dia.
Fragilidade estrutural
Após a inundação de maio, o Vale retrocedeu. Essa é a análise dos líderes da região. A falta de acessos, a reconstrução de passagens, de reforço estrutural em pilares da ponte sobre o Taquari, testam a paciência dos motoristas, geram prejuízos em grande escala à produção gaúcha e desmobilizam tanto o interesse de investidores externos quanto nos planos das empresas locais.
Superar esse momento também passa por projetar um futuro com mais alternativas. Foi a partir desta leitura que todas as organizações locais, do setor produtivo, de representantes da comunidade e das associações políticas criaram um movimento de unidade para mostrar o quanto a logística travada no Vale é um problema para todo o RS e para o país.
Para o diretor de infraestrutura da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Nilto Scapin, depender apenas de uma ligação entre o norte e o centro do RS expõe a fragilidade do transporte. “A região é unânime em apontar: do jeito que está não é possível. Precisamos de alternativas para o trânsito e à logística. Sabemos que é um projeto de médio e longo prazo, mas precisa começar”.
O primeiro passo foi solicitar ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) um estudo para construção do anel viário. Como se trata de uma decisão política, a ordem precisa vir do Ministério dos Transportes.
O grupo da região tenta agendar uma reunião com os ministros Paulo Pimenta (Comunicação) e com Renan Filho (Transportes), para apresentar o cenário de dificuldade enfrentado pela região e pelo RS.
Entrevista
Ricardo Portella • coordenador do Conselho de Infraestrutura da Fiergs
“A necessidade de uma nova ponte e de um anel viário é evidente”
A Hora – Como analisa o cenário de transporte e da logística no Vale do Taquari?
Ricardo Portella – O Vale do Taquari é uma região fundamental, estratégica para o Rio Grande do Sul. Estamos falando da BR-386, que não serve apenas ao Vale, mas é uma rodovia essencial para o transporte de produção e riquezas em todo o Estado. É uma área com potencial progressista, que gera desenvolvimento e impulsiona a economia.
– Quais são os pontos críticos de logística para o setor produtivo e à população?
Portella – Sem logística de qualidade, não há como produzir de forma competitiva. Com as chuvas recentes, o Vale foi muito atingido. Pontes caíram e, no contexto atual, estamos retrocedendo em termos de infraestrutura. A ferrovia está abandonada e a malha rodoviária precisa de uma revisão urgente. Dependemos do transporte rodoviário, e os gargalos na BR-386 afetam todas as regiões gaúchas.
– Diante dessas necessidades, o Vale do Taquari agora busca uma nova ponte e um anel viário. Qual é a posição do Coinfra sobre essas demandas?
Portella: O Conselho sempre defendeu o crescimento da infraestrutura gaúcha. Nossa estrutura é antiga e precisa evoluir. Para isso, é essencial um Estudo de Viabilidade Técnica e Ambiental que indique as melhores alternativas para solucionar o gargalo da BR-386. Algumas sugestões já surgiram, como uma terceira ponte na BR-386, ou uma ponte ao sul, ligando Cruzeiro a Estrela, que facilitaria o acesso até Bom Retiro do Sul e com a Região Metropolitana por consequência. Outra possibilidade é uma conexão ao norte de Estrela, criando uma rota alternativa. Precisamos de uma solução logística que beneficie não só o Vale, mas todo o Rio Grande do Sul.
– Essas obras resolveriam os problemas da região?
Portella – Com certeza. Uma nova travessia na BR-386 melhoraria a fluidez do tráfego e contribuiria à resiliência da infraestrutura. Um acidente ou uma obstrução em uma única ponte paralisa toda a região. É preciso ter uma rota alternativa. Isso não é apenas uma questão local, mas algo que impacta o estado. Sem infraestrutura adequada, a produção e o transporte ficam comprometidos.
– Por que o conselho e a Fiergs apoiam essa demanda?
Portella: O Vale do Taquari é uma região muito importante. Além disso, precisamos de soluções estruturais para a logística em todo o Rio Grande do Sul. A BR-386, por exemplo, é uma artéria vital. Em caso de bloqueio, não temos uma alternativa. Por isso, estamos empenhados nessa luta. Agora é o momento para as lideranças regionais e estaduais se unirem para encontrar uma solução que assegure mais fluidez e segurança no tráfego. A necessidade de uma nova ponte e de um anel viário é evidente.