Há sim uma China que olha para dentro, para a sua população, educação, mercado de consumo, renda e emprego. E outra China que olha lha para o mundo, para fora das suas fronteiras. Prestando atenção, conseguimos ver a diferença dessas duas Chinas.
Com certeza você já ouviu falar na expressão “Xing-Ling”. São considerados produtos vulgares, de qualidade duvidosa, quinquilharia, “made in China”, sinônimo de algo ruim, sem garantia. Quem já foi à Cidade del Este no Paraguai ou na 25 de Março em São Paulo entende bem esse cenário. Essa China também existe dentro da China.
São mercados com os mais diversos produtos, réplicas de marcas originais sendo comercializadas livremente em centros comerciais de eletrônicos e quase toda linha branca em cidades como Shenzhen, Shanghai e Pequim. Com preços baixos e sem garantia. Essa China tem 65% da sua população vivendo em grandes cidades e um PIB per capita de US$13 mil.
Guangzhou tem 17 milhões de habitantes. Shezhen incríveis 18 milhões. Shanghai 25 milhões. São muitas cidades com população acima de 10 milhões de habitantes. No universo de uma população de 1,4 bilhão de pessoas, ter cidades com população grande e pulverizadas geograficamente é estratégico. Você não consegue destruir uma economia sem destruir várias cidades.
A desconcentração permite isso. Já nas áreas rurais vive o restante, 35% da população, mais de um terço. O desafio chinês é gerar 10 milhões de empregos ao ano e aumentar o seu PIB em ao menos 4,61% ao ano até 2030. O PIB chinês é de US$ 18 trilhões.
Potência global
A outra China, aquela feita para fora, começa por essa de dentro. A China para o mundo existe e surpreende. Por todas as cidades por onde andei, além das citadas até aqui, Hangzhou e Dongguan incluídas, encontrei excelente infraestrutura de transporte, seja por trem, avião ou rodovia. Tudo de primeira, como se estivesse em algum centro urbano da Europa ou Estados Unidos. Além de bem construídos, os modais são planejados para um mundo moderno, desenvolvido e aptos a receber visitantes. A gente sai dessa China com a melhor impressão.
Nessa China, há grandes players chineses que já atuam em mercados internacionais (BYD, State Grid/CPFL, Huawei, Tencent, Fosun, United Image e etc), mas que primeiro atendem a própria China, para dentro. Ganham volume com as escalas gigantescas para atender a enorme população chinesa e depois partem para disputas mercadológicas fora da China. A questão central é que com esse ganho de escala as empresas chinesas ficam muito competitivas em volumes e preços também fora da China.
China e o futuro
Assim como foi na década de 1990 com as fitas cassetes, nos anos 2000 com os computadores e aparelhos celulares, agora acontece com os veículos elétricos. Não para por aqui, atuam em energia renovável, elétrica, logística, armazenamento em nuvem, equipamentos para saúde, linha branca, vestuário, brindes, material de construção, utensílios domésticos, caminhões, ônibus, navios, vestuário, calçados, elétricos e eletrônicos, aparelhos celulares e etc. Essa China para o mundo está buscando uma moeda única e a liderança de um bloco de países que inclui Rússia, Irã e Coreia do Norte para fazer frente aos países da OTAN.
Esse acirramento de blocos existe, com a China de um lado e os EUA liderando outra frente, com a Europa, Israel, Japão, Coreia do Sul e Austrália. A disputa existe e o entendimento é que o Brasil deveria ficar neutro, buscando atingir seus interesses em ambos os blocos. Manter essa autonomia e independência será estratégico para o país sul-americano.
E sim, a China tem um regime comunista com um mercado capitalista. O partido comunista participa da alta administração em várias empresas chinesas. A internet é controlada, assim como as redes sociais.
O futuro, na minha opinião, será regido pelos negócios empresariais nas relações com a China. Não tem como isolar a fábrica do mundo dos mercados e a população chinesa, me parece, está gostando de viver as duas chinas, aquela para dentro e a para fora. Vamos ser sábios e saber aproveitar, no bom sentido da palavra, as duas Chinas.
SAIBA MAIS
O conselheiro de administração Fernando Röhsig participou da jornada técnica do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Foram três semanas de imersão pelos principais núcleos econômicos especiais da china: Beijing (Pequim), Xangai e Shenzhen. Os 35 integrantes da comitiva embarcaram nessa sexta-feira, 8, em retorno ao Brasil.
PRINCIPAIS NÚCLEOS ECONÔMICOS DA CHINA
- BEIJING (Pequim), capital da China, é o centro cultural, educacional e político do país – abriga o maior número de empresas Fortune Global 500 do mundo e as quatro maiores instituições financeiras do mundo por ativos totais.
- XANGAI, conhecida como a “vitrine” da economia chinesa em expansão, é um centro global de finanças, negócios e economia, pesquisa, educação, ciência, tecnologia e manufatura.
- SHENZHEN é apresentada, principalmente, por sua indústria de alta tecnologia. A cidade é também um centro de pesquisa, indústria, finanças e transporte, sendo destacada como o “Vale do Silício da China”.