“Pegar um livro é um alívio para os olhos”

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“Pegar um livro é um alívio para os olhos”

O escritor venâncio-airense, Gean Paulo Naue, de 31 anos, é graduado em publicidade e propaganda, pós-graduação (lato sensu) em Educação e formação pedagógica. É redator publicitário em agência e já participou de antologias de contos. ‘Menores que o céu’ (Editora Urutau) é sua publicação mais recente, mas também o seu primeiro livro de contos. Publicou contos nas antologias ‘E se?’ (editora Metamorfose) e ‘O resto é tempo’ (editora Taverna) e tem um livro solo de crônicas publicado em 2019 chamado ‘Não tô preparado para viver’ (editora Metamorfose). Em 2020, fez parte da Oficina de Criação Literária da PUCRS

“Pegar um livro é um alívio para os olhos”

Quais os desafios e oportunidades de um escritor independente regional?

Creio que são os mesmos desafios e oportunidades de qualquer escritor ou escritora que não está amparado por uma grande editora que hoje não são muitas no Brasil comparado às pequenas editoras ou com autores e autoras que publicam por conta própria. Os desafios partem desde ter tempo para escrever durante a cotidiano, afinal, quem escreve não consegue sobreviver disso e, então, precisa procurar um outro trabalho que dê mais dinheiro e esse outro trabalho consome muito tempo e o autor precisa usar o resto das horas do seu dia (que poderia ser de descanso ou lazer) para trabalhar mais um pouco, mas dessa vez em seus projetos literários. As oportunidades parecem ser menores para um autor regional onde as livrarias são menos numerosas, os encontros literários também, bem como os cursos de capacitação de escrita criativa. A maior oportunidade que eu vejo é a de poder contar sobre “a sua aldeia”, sobre o interior que é muito rico em cenários, memórias, causos e histórias.

Para você, o que é a literatura e qual o papel dos livros para a sociedade?

Literatura é entretenimento. Quando a gente olha para ela como uma programação de lazer, o livro fica muito mais leve. Assim como tiramos uma ‘lição’ de um filme ou série, também tiramos de um livro, o mesmo acontece com a diversão. A literatura não pode ser encarada como algo para os intelectuais, bem pelo contrário, ela tem que ser cada vez mais popular, circular em todos os lugares. Então, a literatura tem como primeira função o entretenimento. Para além disso, a literatura, por narrar histórias humanas, desperta no leitor e na leitora a empatia. Ler sobre um personagem e seus conflitos nos faz trocar de papel com ele e sentir aquilo. É lendo que olhamos para o outro de modo diferente e entendemos melhor certas atitudes, mesmo aquelas que condenamos.

Como é o seu processo de escrita e o seu processo de escolha de palavras? A regionalidade possui influência?

Sou um autor que planeja. Não trabalho com ‘inspiração’. Ela existe, sim, mas é só uma pequena parte do processo, é só o pontapé inicial de um longo processo de planejamento para entender quem vai narrar, quem são os personagens, onde se passa a história, quais são as informações que preciso para essa história acontecer, qual é o gênero do texto, etc… Tudo isso é feito antes da escrita. Depois, eu só preciso seguir a estrutura que montei. Escrevo sabendo onde é o começo, o meio e o fim. A escolha das palavras vai muito da história que quero contar, se o protagonista é um jovem do Rio Grande do Sul, ele fala de um jeito, se é um jovem do Rio de Janeiro, ele fala de outro jeito. É a história que vai definir quais palavras eu usarei. Sendo assim, se a história se passa no interior do Rio Grande do Sul, haverá palavras para expressar essa intenção e outras que, naturalmente, não cabem no texto.

Em um mundo cada vez mais digital e com cada vez mais imagens, como formar novos leitores? Como utilizar todos os espaços para ampliar o acesso à leitura?

Vivemos rodeados por tantas telas luminosas que chega uma hora que pegar um livro é um alívio para os olhos. Só aí já temos um ganho imenso, tanto físico quanto mental. Podem falar o que quiserem do livro, mas ele tem um poder que só ele tem: o de fazer com que você criei as imagens, elas não estão prontas, elas podem ser orientadas pela escrita, mas é você que precisa organizar isso na mente e criar o espaço, o personagem, a cena, etc… Mesmo sendo uma criação textual do autor ou da autora, existe um esforço de quem está lendo que é único, ninguém imaginará igual a você. Formar novos leitores é um desafio, a leitura é algo solitário e com poucos estímulos visuais, então, o primeiro passo é deixar a pessoa ler o que ela quiser ler, não julgar os gostos literários de ninguém e menos ainda obrigar ou forçar alguém a ler determinada coisa, pois isso só afasta a pessoa da leitura. Ler é entretenimento, como eu já disse, então, esse ato precisa ser, em primeiro lugar, divertido.

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