“Meus princípios são rígidos e inalienáveis. Agora, eu mesmo, pessoalmente, nem tanto.”
Millôr Fernandes (1924-2012)
O mito de Narciso é uma das histórias mais famosas da mitologia grega. Segundo ele, Narciso era um jovem tão belo e tão vaidoso que, após desprezar inúmeras pretendentes, acabou se apaixonando pelo próprio reflexo. Morreu de fome e sede, totalmente apaixonado, à beira da fonte de água onde via sua imagem refletida.
Foi desse mito que a psicologia extraiu o termo narcisismo para caracterizar na vertente patológica, essa forma de amor voltada para a própria pessoa. Para Freud um certo grau de narcisismo é uma característica normal em todos os seres humanos, e está relacionado com o desenvolvimento da libido.
Já no narcisismo patológico a psicanálise enxerga o predomínio de uma figura materna cronicamente fria, narcisista e, ao mesmo tempo, superprotetora, e que parece ser o principal elemento etiológico da patologia narcísica. Entrando nesse campo dois tipos de narcisistas patológicos podem surgir:
No Narcisismo Grandioso há um senso exagerado de auto-importância, agressividade e dominação. Este tipo de narcisismo é frequentemente associado a comportamentos autoritários, exibicionismo e uma necessidade intensa de admiração. Indivíduos com altos níveis de narcisismo grandioso podem apresentar uma autoestima inflada e uma capacidade reduzida de empatia para com os outros.
Já o Narcisista Vulnerável é marcado por uma sensibilidade emocional acentuada e uma grandiosidade defensiva e insegura, que muitas vezes serve para encobrir sentimentos de inadequação. Este tipo pode ser menos visível externamente, mas é caracterizado por uma autoestima frágil, vergonha e uma propensão a experimentar emoções negativas.
Tudo isso para falar de Donald Trump, a figura mais polemica dos Estados Unidos no século XXI e que acabou de se tornar presidente da maior potência global.
Não há como entender o pavão Donald Trump sem recorrer a psicologia. Eu disse pavão porque nenhum outro animal representa tão bem o narcisismo.Não há duvidas sobre o forte componente narcisista (grandioso) da personalidade de Trump. Ele seguidamente faz referencia a seus triunfos, inclusive sexuais, em suas falas. Tanta ânsia em se mostrar tão grande faz o observador mais arguto se perguntar se tal personagem não está na verdade escondendo e lutando (inconscientemente) contra suas inseguranças.
Mesmo assim, Trump, que já foi presidente, se elegeu. E mais do que isso, ganhou também no voto popular enquanto seu partido ganhou o Senado e a Câmara.
Numa situação como essa, você pode fazer como os comentaristas eleitorais da Globo e julgar que a maioria dos eleitores americanos é sexista, racista, homofóbica, transfóbica e estúpidos como bem disse um célebre comentarista que votou em Kamala Harris, ou pode começar a tentar compreender como um governo perdeu tanto apoio em tão pouco tempo.