O Brasil vive um ciclo de juros altos, e esse problema tem origem em grande parte na forma como o governo gasta o dinheiro público. Ao longo dos anos, os gastos mal planejados e as despesas elevadas criaram um cenário onde o governo precisa constantemente recorrer a empréstimos, aumentando a dívida pública e pressionando o Banco Central a elevar os juros. Entender essa dinâmica é essencial para saber por que os juros afetam tanto nossa vida.
Os gastos do governo se dividem em duas categorias: gastos primários e despesas financeiras. Os gastos primários são os que mantêm o país funcionando, como aposentadorias, salários dos servidores públicos, saúde, educação e benefícios sociais. Esses são chamados “primários” porque não estão diretamente ligados ao pagamento da dívida pública, mas sim ao dia a dia do governo. Por outro lado, as despesas financeiras são os juros que o governo paga sobre a dívida que acumulou ao longo do tempo.
O problema começa quando o governo gasta mais do que arrecada com impostos e precisa pedir dinheiro emprestado para cobrir o que falta. Isso aumenta a dívida pública, e, com ela, as despesas financeiras. Para conseguir mais crédito, o governo precisa oferecer taxas de juros mais altas, o que encarece o custo desse empréstimo. E quem paga essa conta? Todos nós, porque o aumento dos juros afeta o crédito, o consumo e a capacidade de investimento das empresas.
Quando o Banco Central aumenta a taxa de juros, ele está tentando controlar a inflação e o descontrole nas contas públicas. Juros altos desestimulam o consumo, porque encarecem o crédito e limitam o poder de compra das pessoas. Para as empresas, os investimentos também se tornam menos viáveis, pois os empréstimos ficam mais caros. O resultado é uma economia que cresce menos, com menos empregos e menos oportunidades.
Uma das grandes dificuldades para resolver esse problema é que os gastos primários do governo são difíceis de cortar. A previdência social, por exemplo, consome uma parte enorme do orçamento, e o envelhecimento da população só aumenta essa pressão. Reduzir esses gastos exige reformas complexas, como a reforma da previdência, que enfrentam grande resistência política e social. Sem essas reformas, o governo continua gastando mal, e a dívida segue crescendo, o que obriga o Banco Central a manter os juros altos.
O impacto dos juros altos é sentido por todos. O custo de vida aumenta, o crescimento econômico desacelera, e o governo fica com menos recursos para investir em áreas que realmente poderiam ajudar o país a avançar, como infraestrutura e educação. Enquanto o governo não ajustar suas contas e melhorar a eficiência dos gastos, o ciclo de juros altos continuará, prejudicando a economia e a qualidade de vida da população.
Em resumo, o Brasil precisa gastar melhor para reduzir sua dependência de empréstimos e, assim, baixar os juros. Isso requer uma gestão mais eficiente dos recursos públicos e reformas que tornem o orçamento menos engessado. Só com esses ajustes poderemos criar uma economia mais saudável e sustentável, onde os juros altos deixem de ser um obstáculo ao crescimento.