Os descontos, a anistia das dívidas e o acesso a financiamentos prometidos pelo governo federal demoram a chegar e aumentam o sofrimento das famílias campesinas. É o que afirma a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (Fetag). Como forma de elevar a pressão sobre o poder público, os representantes chamam a atenção para o risco do RS ter uma redução significativa na safra de verão.
“Participamos de uma série de reuniões e audiências públicas em Brasília. Buscamos apoio dos deputados para solucionar os problemas dos agricultores. É preciso destravar as linhas de crédito”, afirma o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva.
A partir das reivindicações, o governo federal avalia o pedido de mais um aporte financeiro para o Fundo Social do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Parlamentares, representantes dos produtores e o próprio Ministério da Agricultura solicitam mais R$ 10 milhões para a linha de capital de giro destinada a produtores, cooperativas, cerealistas e revendas de insumos afetados pelas enchentes.
De acordo com o subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, a demanda adicional existente é de R$ 5 bilhões. Já parlamentares da bancada gaúcha destacam o endividamento do setor e pedem o dobro.
Financiamentos de R$ 3,7 bilhões
A coordenadora estadual de Mulheres da Fetag, Lérida Pavanelo, participou de audiência da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados nesta semana. Segundo ela, a situação é dramática, em especial para famílias que tiveram perdas acima de 60% das propriedades. “Os processos de compensação e financiamento demoram demais.”
Até o momento, foram liberados cerca de R$ 3,7 bilhões em financiamentos para capital de giro para produtores e empresas gaúchas. Foram R$ 412 milhões contratados em outubro e R$ 3,3 bilhões no início de novembro, conforme informações do Departamento de Modelagem do BNDES. Conforme o órgão, a demanda suplementar informada pelos bancos credenciados é de R$ 3 bilhões.
Para a Fetag-RS, existe a necessidade de mais alinhamento entre as leis e a liberação de recursos suficientes para que as linhas de crédito do BNDES realmente funcionem. Caso contrário, muitos agricultores podem ficar sem financiamento e sem condições de plantar a safra de verão, o que pode prejudicar a produção de alimentos no país.
Barreiras para o acesso ao crédito
Conforme Lérida Pavanelo, há limitações que dificultam o acesso aos créditos e o fundo é insuficiente. “Seriam necessários em torno de R$ 25 bilhões, pois o problema é ainda maior porque muitos agricultores não conseguem acessar os recursos por não terem garantias suficientes para oferecer aos bancos”, afirma.
Para a representante dos agricultores, o Fundo Garantidor criado para facilitar o acesso ao crédito não dá conta. “Na prática não é cumprido como o prometido. Os agricultores familiares estão sem ter a quem recorrer. Por isso, não conseguem crédito para a próxima safra.”