Pelo menos quatro anos de crise. Três deles com alta nos custos de produção na proteína animal e interferência sobre o faturamento. Depois, o segundo semestre de 2023 marcado pelas inundações. Quando 2024 começou, os preços dos grãos no mercado internacional estavam em queda. Ali se desenhava uma chance à Dália Alimentos reduzir os prejuízos acumulados.
Chegou maio e a maior inundação da história do país. O Vale do Taquari, mais uma vez, foi o epicentro da tragédia. A produção da cooperativa foi comprometida. O complexo industrial de Encantado embaixo d’água ficou semanas inoperante. O trabalho em Palmas, no frigorífico de aves com dificuldades de acesso.
Apesar de todos os desafios, a direção estima fechar o período com lucro. “Em princípio, vamos fechar com um bom resultado. Não espetacular. Desde que não tenhamos algum novo problema”, diz o presidente executivo, Carlos Freitas.
Cautela. Essa palavra é um conceito necessário depois de tantas provações, avalia. “Um conjunto de situações imprevistas nos trouxeram dificuldades e prejuízos, não só para a Dália, mas para toda nossa região. O agro é o setor que mais sofreu”, considera Freitas.
Tanto que os números do resultado são mantidos em sigilo. “Vamos apresentar o balanço aos associados na assembleia geral de prestação de contas, depois de tudo estar confirmado”.
A Dália Alimentos tem hoje seis mil famílias envolvidas na produção, entre associados, funcionários e terceirizados. Um universo estimado de 20 a 25 mil pessoas. Hoje, no setor de aves, são cerca de 22 mil abates por dia, outros 2,2 mil na suinocultura. Na cadeia do leite, são processados 650 mil litros.
Gestão de crise
Sem aventuras. Para sobreviver nos quatro anos de dificuldades, a cooperativa adotou uma gestão incisiva e transparente. “Tivemos de encolher. Reduzimos a produção entre 30 a 40%”, relembra Freitas e complementa: “sempre fazemos isso em momentos de dificuldade. Somos uma cooperativa de pequenos agricultores. Não arriscamos, pois sabemos o nosso lugar e quantas pessoas dependem desta organização”.
O aprendizado, relembra Carlos Freitas, veio com o fundador da Dália (antes mais conhecida por Cosuel), João Batista Marchese. “Eu estava começando minha vida profissional. Ele sempre dizia: não podemos enfrentar a crise. É necessário se adaptar, mesmo que as decisões sejam criticadas e impopulares. O futuro das famílias precisa ser garantido.”
O conceito de gestão da cooperativa tem duas funções de liderança. A presidência do conselho de associados, tendo Gilberto Piccinini como responsável. Na área de produção e negócios, está Carlos Freitas.
Esse modelo, diz, proporciona que cada presidente se concentre em áreas específicas da cooperativa, que se mantenha a transparência entre governança e conselho, com decisões tomadas de maneira coletiva.
Custos logísticos
O presidente do conselho, Gilberto Piccinini, destaca a dificuldade no transporte. Com o frigorífico em Arroio do Meio, a ligação pela Ponte do Exército causa transtornos aos condutores, engarrafamentos, risco de mortes de animais devido ao calor, dificuldades para o transporte de alimentos. Tudo isso interfere sobre a estratégia de produção.
Havia uma perspectiva de ampliar o abate de frango. Nas condições atuais, diz, é impossível. De acordo com ele, caminhoneiros que trazem milho do centro-oeste não querem mais aceitar entregas para o Vale do Taquari. “Se pudessem escolher, os motoristas deixariam a carga no máximo em Lajeado”.
Como o milho é básico para a alimentação de frango, gado leiteiro e suínos, a produção da cooperativa de Encantado está com custos mais elevados. “Tínhamos a perspectiva de aumentar o abate de frango no frigorífico de Palmas, em Arroio do Meio. Não dá, infelizmente. Há muita demora, não tem caminhão, são poucos transportes e custam muito”, frisa Piccinini e complementa: “não é só a Dália. Estamos falando de um corredor importante à economia gaúcha.”
Reconhecimento
A Dália Alimentos foi o principal prêmio do TOP 100. Ao todo foram três destaques da honraria regional. Foram três segmentos: Carnes e Derivados, Leite e Cooperativa de Produção. Além do troféu “Marca das Marcas.”
Para o presidente Piccinini, as distinções demonstram o apreço da comunidade regional pelos produtos da Dália Alimentos, o que evidencia uma relação de confiança construída ao longo dos mais de 70 anos da cooperativa.
Entrevista
Carlos Freitas • presidente executivo da Dália Alimentos
“Com o mercado dentro da normalidade, a Dália tem lucro”
A Hora – Em meio aos tantos desafios do ano, por onde passa o resultado positivo?
Carlos Freitas – Os números, ao que parece, vão ser positivos. Teremos um ano de bom resultado, não espetacular. Passamos por um conjunto de situações imprevistas, que trouxeram dificuldades e prejuízos. Os últimos anos foram de covid, com aumento nos custos de produção, com os insumos agrícolas em preços muito elevados. Depois, foi praticamente um ano de inundações.
– Positivo, mas quanto?
Freitas – Não posso projetar o financeiro. Ele será apresentado no balanço aos associados. Caso se confirme, a imprensa vai saber. Até lá, não vamos especular.
– E a que se deve o ano no azul?
Freitas – A melhoria do mercado. Sempre fomos uma cooperativa em que fazemos o possível e impossível para uma boa gestão. Depois da explosão dos custos, tivemos desde o fim do ano passado quedas constantes no preço dos insumos. Com o mercado dentro da normalidade, a Dália tem lucro. É o que está acontecendo agora.
Se traçarmos um paralelo, temos a redução dos custos de produção, em especial dos grãos, com boas vendas no mercado interno e abertura de vendas para o exterior. O fato do Rio Grande do Sul ser uma zona livre de aftosa sem vacinação trouxe potencial de negócios, em especial às Filipinas. Um país que compra em boa quantidade e paga bem.