Por qual motivo decidiu se envolver mais na área psicológica dos jovens?
Sempre me identifiquei com essa faixa etária. Sou curiosa e gosto de desenvolver ideias sem julgamento, procurar possibilidades e construir caminhos. O adolescente é ávido por isso, mas precisa ser mobilizado e se sentir num ambiente seguro. Acredito muito no nosso papel como agente de orientação e mudança nesta fase de vida, para organizar a bagunça interna (comum nesta etapa), ressignificar experiências e trilhar um caminho mais saudável.
Como tu vê o estado mental dos jovens de uns anos para cá?
Infelizmente, a saúde mental dos adolescentes, de forma geral, é preocupante. Quadros de ansiedade e depressão aumentaram de forma considerável. Sintomas de isolamento social, alterações emocionais e comportamentais, autolesões, dificuldades com a imagem corporal têm sido acompanhadas com frequência. O uso excessivo da tecnologia tem significativo impacto na piora da saúde mental. Lidar com frustrações, sentir-se pertencente e construir independência vêm como grandes desafios. Um adolescente com sua saúde mental prejudicada terá consequências importantes para sua vida adulta.
O que mais lhe chama a atenção nos jovens de hoje em dia?
O imediatismo, falta de iniciativa e dificuldade em questionar. O adolescente vive um momento de transformações físicas, confusão emocional, mas tem uma energia incrível para transformação. Pensa estimularmos esse potencial para o bem e para a saúde. Surge uma potência.
Como surgiu o convite para participar dos círculos de construção de paz nas escolas?
Quem me apresentou aos círculos foi a Raquel Cadore pelo Espaço Flore.Ser. Ela trouxe uma formação para Encantado que foi muito intensa e me encantou. A partir dali, fui acompanhando ela e outros colegas nas vivências tanto nas escolas, como em outros grupos (órgãos públicos, comunidades).
O que mais lhe marcou nesse projeto?
Os círculos transformaram muito minha forma de estar com as pessoas. Aprimorou a arte da escuta, o treino da espera e, com isso, ter o tempo necessário para reavaliar o que falo. Me marcou perceber o quanto as pessoas convivem uma vida com seus colegas e conhecem tão pouco as dores e amores que cada um passa. E o quanto conhecer o outro (sem julgar) permite uma interação mais respeitosa e verdadeira. Percebi o quanto os adolescentes são carentes, querem diálogo e aproximação, mas precisam de alguém que se interesse e os estimule nessa tarefa. Quando o círculo é verdadeiramente vivido, não há como sair dele sem ser impactado pelo encontro.