A localidade de Arroio Abelha sofreu uma drástica transformação após o crime brutal em novembro de 2019. Um jovem atirou e matou três pessoas e feriu outras duas no salão comunitário de Morro do União. Ele também morreu durante confronto com a Brigada Militar.
Hoje, a pequena vila deu espaço a um empreendimento avícola. Todos as famílias deixaram o local e a propriedade foi vendida. O salão onde o grupo de moradores se reunia no dia da chacina agora é local de moradia.
Como forma de tentar superar o trauma, deixar o local foi a alternativa encontrada. A viúva de Imério Ferri se mudou para Arroio do Meio. Já um dos sobreviventes da tragédia, Eldemar Krohn foi morar na área urbana de Sério, a mesma decisão da viúva de César Werruck.
O crime completa cinco anos neste dia 3 de novembro e a localidade nunca mais foi a mesma. “A área do antigo campo do União era do meu pai. Nós já não morávamos mais lá”, conta Carla Ferri, prima e sobrinha de vítimas da chacina. Ela vendeu há três anos a propriedade para um produtor rural. “O emocional dessas pessoas foi muito abalado, não havia mais clima para estarem ali. Hoje é um novo lugar, o comprador transformou o espaço.”
Além do salão que virou moradia, o traçado da estrada é outro. O gramado em frente ao local do crime virou lavoura. A casa de madeira onde Krohn residia ruiu. Em frente à casa em que moravam Imério e Odair Ferri, foram construídos dois aviários.
Sobre o atentado
A chacina aconteceu por volta das 16h, do domingo, 3 de novembro de 2019. Oito pessoas estavam no local. Três morreram na hora, dois foram socorridos, outros dois poupados pelo atirador e um conseguiu fugir enquanto Vanderlei Matthes (com 32 anos) tentava recarregar a pistola .380.
O local era o ponto de encontro para a conversa após a semana de trabalho. Eles chegaram pouco depois das 14h.
Pais não entendem atitude do filho
Os pais do atirador Vanderlei Matthes moram em localidade próxima. Até hoje, não entendem o que passou na cabeça do filho em atirar contra os frequentadores do salão, pessoas do convívio diário. Valdemiro – pai do atirador – também foi atingido por disparos. Perdeu parte dos movimentos do braço esquerdo e a sensibilidade nos dedos do pé. No peito, a cicatriz de um dos projéteis.
Em casa, os pais lembram do filho como uma pessoa dedicada ao trabalho. Segundo eles, não demonstrava agressividade. Era quieto e não gostava de sair. Dias antes ao crime trocou de moto. A mãe Lourdes sente pelas famílias e por não ter tido a oportunidade de se despedir.
Recomeço na cidade
A menos de 100 metros do salão, morava Eldemar Krohn, 70. Ele era quem cuidava do bolicho, o ponto de encontro entre amigos aos fins de semana. Vendeu os seis hectares de terra e foi morar na área urbana de Sério. Do momento do ataque, recorda que estava indo buscar uma cerveja quando o atirador entrou no salão. “Sem falar nada disparou a arma. O pai dele gritou para ele parar e, nisso também foi atingido. Abaixei e só ouvia os tiros.”
Quando Krohn acreditava ser a próxima vítima, Matthes falou para ele ir embora. Antes, pediu um abraço. No dia seguinte, quando retornou para casa, encontrou um projétil da troca de tiros com a polícia, que perfurou a parede, atingiu um bule de café e caiu sobre o fogão à lenha.
O ATIRADOR
Vanderlei Matthes
Tinha 32 anos. Nasceu e se criou na localidade de Arroio Abelha. Conhecia todas as vítimas desde criança. Estudou na escola Humberto Corbelinni. Era uma pessoa reservada, de poucos amigos e sem nenhum relacionamento amoroso conhecido. Trabalhava com o pai na lavoura de tabaco.
Juntos administravam a propriedade com produção de 25 mil pés de fumo. Nos fins de semana, costumava frequentar o mesmo bar onde cometeu os assassinatos. Os vizinhos viam ele como uma pessoa tranquila, de pouca conversa, mas amigável. A pistola .380 usada na chacina estava no nome do atirador. Ele havia comprado fazia cerca de um mês e tinha o direito de manter a arma em casa.
PASSO A PASSO DA CHACINA
- Entre 15h30min e 16h do domingo, 3 de novembro de 2019, oito homens estavam na antiga sede da associação União de Arroio Abelha. Eles jogavam canastra quando Vanderlei Matthes entrou no estabelecimento.
- Ele sacou uma pistola .380 se dirigiu até a primeira mesa, onde estavam quatro pessoas. Ele chegou nas costas de César Werruck e disparou na nuca. A vítima caiu e levou mais seis tiros. Em seguida atirou no próprio pai, Valdemiro Matthes.
- Sobreviventes contam que ele disparava para acertar. Em seguida, foram alvejados Imério e Odair Ferri (pai e filho).
- No momento em que foi trocar o pente da pistola, Evandro Schmitz saiu de trás do balcão e conseguiu fugir pelo matagal. Eldemar Krohn e Erno Nelson Berghahn ficaram escondidos.
- O atirador encontrou os homens e poupou a vida deles. Pediu para eles saírem e chamarem a Brigada Militar, pois ia “levar” um policial junto.
- Após quase 30 minutos do início do atentado, os policiais chegaram ao local. Eram dois soldados, um desceu antes e o outro chegou com a viatura. Ele foi recebido a tiros. No confronto, Matthes foi morto. Nenhum policial se feriu.