A chacina que acabou com uma vila em Sério

TRAUMA APÓS TRAGÉDIA

A chacina que acabou com uma vila em Sério

Cinco anos depois, todas as famílias das vítimas do crime no Morro do União deixaram o local. Hoje, área abriga empreendimento avícola

A chacina que acabou com uma vila em Sério
Salão onde aconteceu a chacina é hoje uma moradia que faz parte de empreendimento avícola. Área foi comprada há três anos. (Foto: FELIPE NEITZKE)
Sério

A localidade de Arroio Abelha sofreu uma drástica transformação após o crime brutal em novembro de 2019. Um jovem atirou e matou três pessoas e feriu outras duas no salão comunitário de Morro do União. Ele também morreu durante confronto com a Brigada Militar.

Hoje, a pequena vila deu espaço a um empreendimento avícola. Todos as famílias deixaram o local e a propriedade foi vendida. O salão onde o grupo de moradores se reunia no dia da chacina agora é local de moradia.

Como forma de tentar superar o trauma, deixar o local foi a alternativa encontrada. A viúva de Imério Ferri se mudou para Arroio do Meio. Já um dos sobreviventes da tragédia, Eldemar Krohn foi morar na área urbana de Sério, a mesma decisão da viúva de César Werruck.

O crime completa cinco anos neste dia 3 de novembro e a localidade nunca mais foi a mesma. “A área do antigo campo do União era do meu pai. Nós já não morávamos mais lá”, conta Carla Ferri, prima e sobrinha de vítimas da chacina. Ela vendeu há três anos a propriedade para um produtor rural. “O emocional dessas pessoas foi muito abalado, não havia mais clima para estarem ali. Hoje é um novo lugar, o comprador transformou o espaço.”

Em 3 de novembro de 2019, um jovem entrou em um salão comunitário e disparou contra frequentadores. Três pessoas morreram. O atirador foi morto no confronto com a BM

Além do salão que virou moradia, o traçado da estrada é outro. O gramado em frente ao local do crime virou lavoura. A casa de madeira onde Krohn residia ruiu. Em frente à casa em que moravam Imério e Odair Ferri, foram construídos dois aviários.

Sobre o atentado

A chacina aconteceu por volta das 16h, do domingo, 3 de novembro de 2019. Oito pessoas estavam no local. Três morreram na hora, dois foram socorridos, outros dois poupados pelo atirador e um conseguiu fugir enquanto Vanderlei Matthes (com 32 anos) tentava recarregar a pistola .380.

O local era o ponto de encontro para a conversa após a semana de trabalho. Eles chegaram pouco depois das 14h.

Pais não entendem atitude do filho

Os pais do atirador Vanderlei Matthes moram em localidade próxima. Até hoje, não entendem o que passou na cabeça do filho em atirar contra os frequentadores do salão, pessoas do convívio diário. Valdemiro – pai do atirador – também foi atingido por disparos. Perdeu parte dos movimentos do braço esquerdo e a sensibilidade nos dedos do pé. No peito, a cicatriz de um dos projéteis.

Em casa, os pais lembram do filho como uma pessoa dedicada ao trabalho. Segundo eles, não demonstrava agressividade. Era quieto e não gostava de sair. Dias antes ao crime trocou de moto. A mãe Lourdes sente pelas famílias e por não ter tido a oportunidade de se despedir.

Recomeço na cidade

A menos de 100 metros do salão, morava Eldemar Krohn, 70. Ele era quem cuidava do bolicho, o ponto de encontro entre amigos aos fins de semana. Vendeu os seis hectares de terra e foi morar na área urbana de Sério. Do momento do ataque, recorda que estava indo buscar uma cerveja quando o atirador entrou no salão. “Sem falar nada disparou a arma. O pai dele gritou para ele parar e, nisso também foi atingido. Abaixei e só ouvia os tiros.”

Quando Krohn acreditava ser a próxima vítima, Matthes falou para ele ir embora. Antes, pediu um abraço. No dia seguinte, quando retornou para casa, encontrou um projétil da troca de tiros com a polícia, que perfurou a parede, atingiu um bule de café e caiu sobre o fogão à lenha.

O ATIRADOR

Vanderlei Matthes

Tinha 32 anos. Nasceu e se criou na localidade de Arroio Abelha. Conhecia todas as vítimas desde criança. Estudou na escola Humberto Corbelinni. Era uma pessoa reservada, de poucos amigos e sem nenhum relacionamento amoroso conhecido. Trabalhava com o pai na lavoura de tabaco.

Juntos administravam a propriedade com produção de 25 mil pés de fumo. Nos fins de semana, costumava frequentar o mesmo bar onde cometeu os assassinatos. Os vizinhos viam ele como uma pessoa tranquila, de pouca conversa, mas amigável. A pistola .380 usada na chacina estava no nome do atirador. Ele havia comprado fazia cerca de um mês e tinha o direito de manter a arma em casa.

PASSO A PASSO DA CHACINA

  • Entre 15h30min e 16h do domingo, 3 de novembro de 2019, oito homens estavam na antiga sede da associação União de Arroio Abelha. Eles jogavam canastra quando Vanderlei Matthes entrou no estabelecimento.
  • Ele sacou uma pistola .380 se dirigiu até a primeira mesa, onde estavam quatro pessoas. Ele chegou nas costas de César Werruck e disparou na nuca. A vítima caiu e levou mais seis tiros. Em seguida atirou no próprio pai, Valdemiro Matthes.
  • Sobreviventes contam que ele disparava para acertar. Em seguida, foram alvejados Imério e Odair Ferri (pai e filho).
  • No momento em que foi trocar o pente da pistola, Evandro Schmitz saiu de trás do balcão e conseguiu fugir pelo matagal. Eldemar Krohn e Erno Nelson Berghahn ficaram escondidos.
  • O atirador encontrou os homens e poupou a vida deles. Pediu para eles saírem e chamarem a Brigada Militar, pois ia “levar” um policial junto.
  • Após quase 30 minutos do início do atentado, os policiais chegaram ao local. Eram dois soldados, um desceu antes e o outro chegou com a viatura. Ele foi recebido a tiros. No confronto, Matthes foi morto. Nenhum policial se feriu.

 

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