“Quando notei que era a única professora do Vale, fiquei bem emocionada”

ABRE ASPAS

“Quando notei que era a única professora do Vale, fiquei bem emocionada”

De trajetória recente nas salas de aula, Sirlene Cristina Hammes (à direita) é professora na área de humanas há dois anos na Escola Hugo Oscar Spohr, em Canudos do Vale. Com um trabalho sobre os povos indígenas, ela foi a única educadora da região premiada em concurso promovido pela Assembleia Legislativa, de boas práticas pedagógicas na rede pública. O material foi publicado em um livro

“Quando notei que era a única professora do Vale, fiquei bem emocionada”

Quando você decidiu ser professora?

Sempre gostei de estudar, mas não tive oportunidade quando era mais nova, pois ainda era algo fora da minha realidade financeira. Com o advento de diferentes tipos de financiamento, mensalidades mais acessíveis e o EAD, tive oportunidade de realizar o sonho de fazer uma faculdade. Quando entrei a primeira vez na sala de aula, ainda no estágio, tive certeza da escolha. Hoje tenho duas graduações, uma pós-graduação e penso em fazer mestrado e doutorado.

De que forma você tomou conhecimento deste projeto da Assembleia Legislativa?

Minha escola recebeu o convite através de um e-mail. Creio que este convite tenha chegado a todas as escolas públicas do RS.

Qual trabalho você inscreveu e que foi premiado?

Estava em andamento o trabalho “A tradicional Família Brasileira”, sobre os povos indígenas, alusivo ao Dia dos Povos Indígenas. Levei aos alunos a realidade do cotidiano de algumas famílias indígenas, principalmente na Região Amazônica. Dificuldades como a distância da cidade e da produção própria de alimentos, por exemplo. Também da luta pelo seu espaço, principalmente pela proteção da floresta. E mostrei a questão do assédio que algumas indígenas mulheres sofrem quando resolvem morar na cidade grande. O assunto também é importante para que se cumpra a Agenda 2030 dentro das ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.

Você foi a única professora da região a participar. O que representa para você este prêmio?

Não sei dizer quantas escolas da região se inscreveram. Mas sei que foram escolhidos em torno de 70 projetos que estão no livro, das mais diversas escolas públicas do RS, nas modalidades de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. No início não acreditei muito que era verdade (o prêmio). A ficha caiu quando cheguei na Assembleia legislativa, no dia 18 de outubro, e vi todas aquelas escolas e professores que, assim como eu, haviam sido selecionados. Neste dia, cada escola teve um tempo para expor o seu trabalho dentro de quatro temáticas diferentes, na parte da manhã. E a tarde foi a entrega da premiação. Quando olhei o livro, notei que era a única professora do Vale do Taquari, e fiquei bem emocionada.

Qual a importância em pensar nas boas práticas pedagógicas visando o futuro da educação pública no RS? Qual o papel do professor neste sentido?

A educação brasileira passa por um momento delicado. Algo se perdeu no meio do caminho. Me pergunto diversas vezes o que aconteceu para que a educação perdesse tanto seu valor e onde está o erro. Através dessas perguntas tento sempre adequar o conteúdo para que tenha impacto no aluno, para atingir o máximo possível da atenção dele. Mas confesso que é uma tarefa árdua, e que a maioria dos professores já estão cansados. Mas, apesar de toda a desvalorização, dificuldade e desrespeito que passamos em sala de aula, a escola e os professores persistem e tentam de todas as formas encontrar motivações diárias para continuar. Porque isso é algo de dentro pra fora, que só cada professor sabe e sente. Que este livro sirva de inspiração e motivação para cada um, e que no próximo ano, possamos encher a próxima edição com muitas boas práticas do Vale do Taquari.

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