Inseminação artificial, útero de substituição, doação de óvulos e espermatozoides. Ao longo dos anos, a medicina evoluiu e permitiu que casais com dificuldade de engravidar tivessem diferentes alternativas para a gestação. A mais nova, que chegou ao Brasil nos últimos anos, é o transplante de útero. Na região, a fertilização in vitro é a técnica mais utilizada.
Diretor médico do Centro de Reprodução Humana do Hospital Bruno Born (HBB), Marcos Höher destaca a complexidade dos procedimentos, em especial, do transplante de útero, com cirurgias que podem levar de 7 a 10 horas.
De acordo com o médico, cerca de 1% das mulheres nascem com anomalias no útero, e outras vão desenvolver ao longo da vida. Em outros casos, tiveram que retirar o órgão por algum problema de saúde, ou nasceram com a Síndrome de Rokitansky – sem o útero.
Ainda, reforça que o primeiro nascimento de uma criança a partir do transplante de útero foi em 2014, na Suécia, a partir de uma doadora viva. No Brasil, o primeiro nascimento de bebê vindo de útero transplantado ocorreu em 2017, com doação de pessoa falecida. O transplante foi feito no Hospital das Clínicas de São Paulo. Já em agosto deste ano, ocorreu o primeiro transplante de útero entre pacientes vivas no país, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Segundo Höher, após o transplante, deve-se aguardar, com medicação adequada, que o útero não seja rejeitado, para depois fazer a fertilização in vitro. De acordo com o especialista, não é possível que a mulher com transplante de útero engravide de forma natural. Uma vez que a criança nasce, o órgão é retirado.
“Nesse caso recente, foi uma irmã que doou o útero para a irmã. Ela tinha a Síndrome de Rokitansky. Não ocorreu ainda a colocação de embrião no útero, ela ainda não gerou, mas é parcialmente bem sucedida porque não rejeitou o útero transplantado”, afirma o médico.
Mesmo com esses avanços, Höher alerta que “não é possível garantir que todas as mulheres que se submetem ao transplante conseguirão engravidar”. Até o momento, foram feitos cerca de 100 transplantes no mundo, resultando em aproximadamente 50 nascimentos.
Alternativas
Hoje, o procedimento mais comum quando há problemas para um casal engravidar é a fertilização in vitro. Mas, para que um casal tivesse um filho, uma das alternativas mais antigas é a chamada “barriga de aluguel”, ou útero de substituição. Em alguns países, a mulher que gesta o bebê para outra família pode ser remunerada. No Brasil, o pagamento não é permitido e o mais comum é que a gestante seja uma parente próxima do casal.
A fertilização in vitro, feita no Centro de Reprodução Humana, é oferecida em Lajeado desde 2018. O procedimento consiste na retirada do óvulo e do espermatozóide para a fecundação feita em laboratório. O embrião formado, então, é inserido no útero da mulher.
Ao longo de seis anos, já foram feitos mais de 3 mil atendimentos no Centro de Reprodução Humana do HBB, com pacientes de mais de 140 cidades.
Outro tratamento que cresce no Centro de Reprodução Humana, segundo Höher, é a utilização de óvulos doados, para mulheres que estão na menopausa e querem engravidar depois dos 40 ou 50 anos, ou em casos de menopausa precoce.
Ainda, há casais que buscam a maternidade compartilhada. “Um casal homoafetivo feminino, por exemplo, em que duas mulheres querem gestar. Hoje a gente tem como pegar os óvulos de uma paciente, fertilizar com sêmen de banco de doador, e colocar no útero de outra paciente do casal, permitindo que as duas sejam mães”.
Novidade para Lajeado
O transplante de útero ainda não chegou à região ou ao estado, mas uma novidade em termos de medicina deve ser apresentada no HBB em breve. Höher afirma que o exame ainda não existia, e vai permitir que mulheres que engravidaram e tiveram um aborto precoce, possam identificar se o embrião era geneticamente normal ou se apresentava alguma anomalia.
O exame é feito a partir da coleta de sangue, e também permite identificar o sexo do embrião, além de observar se há alguma alteração imunológica ou algum problema no úterno ou endométrio. A amostra de sangue é enviada a um laboratório de São Paulo, que encaminha o diagnóstico ao HBB.
“Isso ajuda os casais que às vezes se culpam pela perda, a entenderem que houve alguma alteração genética do embrião, por exemplo, e nos ajuda a tentar descobrir as causas”, afirma o médico.
Transplante de útero na história
- As primeiras pesquisas sobre transplante de útero começaram no final do século 20.
- O primeiro transplante experimental foi realizado na Arábia Saudita em 2000, mas o útero precisou ser retirado após alguns meses devido a complicações.
- Em 2014, na Suécia, ocorreu o primeiro nascimento a partir de um útero transplantado, obtido de uma doadora viva.
- Após o sucesso na Suécia, outros países como Estados Unidos, Turquia, Brasil e Índia também realizaram transplantes de útero.
- No Brasil, em 2017, o Hospital das Clínicas de São Paulo realizou o primeiro transplante de útero com o órgão de uma doadora falecida, resultando no nascimento de um bebê saudável.
- Cerca de 100 transplantes foram realizados no mundo, resultando em aproximadamente 50 nascimentos.
- Em 2024, o primeiro transplante de útero entre pacientes vivas foi realizado no Brasil, em que uma irmã doou o útero para a outra.
- A técnica ainda está em fase de estudos e exige cuidados, com medicação para evitar rejeição e fertilização in vitro como única opção para a gravidez.
Alternativas para a reprodução
- Indução da ovulação: uso de medicamentos para estimular a produção de óvulos.
- Inseminação artificial (IA): introdução de esperma diretamente no útero.
- Fertilização in vitro (FIV): óvulos e espermatozóides são fertilizados em laboratório e o embrião é implantado no útero.
- Doação de óvulos: utilização de óvulos doados por outra mulher.
- Doação de esperma: uso de esperma de um doador.
- Doação de embriões: uso de embriões doados, criados por outro casal.
- Barriga de aluguel (gestação de substituição): outra mulher carrega o bebê até o nascimento. O embrião pode ser do próprio casal ou envolver doação de gametas.