O Centro de Reprodução Humana do Hospital Bruno Born (HBB), em Lajeado, completa seis anos de atuação e se destaca na busca por soluções para mulheres que enfrentam dificuldades para engravidar, especialmente aquelas com problemas uterinos. O diretor do centro, Marcos Höher ressalta que as questões relacionadas ao útero ainda são um tema relativamente novo no campo da medicina.
Segundo Höher, cerca de 1% das mulheres nascem com anomalias uterinas, enquanto outras desenvolvem problemas ao longo da vida. “Um exemplo é a Síndrome de Rokitansky, que afeta mulheres que nascem sem útero, tornando impossível a gestação. Nesse cenário, a barriga de aluguel, ou útero de substituição, surge como uma alternativa. Embora o pagamento por esse serviço seja proibido no Brasil, é possível que parentes até o quarto grau realizem a gestação”.
Entretanto, a grande inovação na área se deu em 2014, com o primeiro registro de um nascimento na Suécia a partir de um transplante de útero. Desde então, outras experiências têm sido relatadas, incluindo o primeiro nascimento de uma criança com útero transplantado de uma doadora falecida em 2017. “Recentemente, o Hospital das Clínicas realizou o primeiro transplante de doadora viva na América Latina, quando uma irmã doou o órgão para a outra, que sofria da síndrome, onde vieram três cirurgiões da Suécia para participar”.
O procedimento de transplante é extremamente complexo e pode levar entre sete a dez horas. Durante a cirurgia, as equipes operam simultaneamente na mesma sala, um fator que contribui para a complexidade da operação.
Entretanto, mesmo com esses avanços, Höher alerta que “não é possível garantir que todas as mulheres que se submetem ao transplante conseguirão engravidar”. Até o momento, foram realizados cerca de 100 transplantes no mundo, resultando em aproximadamente 50 nascimentos, evidenciando que o órgão pode ser rejeitado ou que a mulher não engravida.
Ainda de acordo com o especialistas, o transplante de útero é um procedimento temporário. “Após o nascimento do bebê, o órgão deve ser retirado, já que as mulheres precisam usar imunossupressores que acarretam efeitos colaterais significativos. Além disso, o mesmo útero não pode ser implantado duas vezes”.
Com o avanço da medicina reprodutiva, novas abordagens têm surgido no HBB. “Um exemplo é a análise genética dos embriões antes da transferência, que permite identificar possíveis problemas genéticos. Uma novidade que será lançada em breve é um exame que analisará o sangue de mulheres que sofreram abortos espontâneos, permitindo verificar se o embrião era geneticamente normal ou se apresentava alguma anomalia”.
O Centro de Reprodução Humana do HBB já atendeu mais de três mil pacientes de 140 municípios diferentes, destacando-se em um estado onde apenas cinco cidades contam com serviços especializados na área.
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