Região vive risco de retorno da poliomielite

DIA MUNDIAL DE COMBATE À PÓLIO

Região vive risco de retorno da poliomielite

Baixa cobertura vacinal preocupa autoridades nos últimos anos. Nos municípios da 16ª CRS, cobertura está abaixo dos 95% recomendados. Região intensifica campanhas

Região vive risco de retorno da poliomielite
Edson Luis Zanatta, 57, vive com as consequências da paralisia infantil e compartilha sua história para conscientizar sobre a doença. (Foto: Bibiana Faleiro)
Vale do Taquari

Na perna direita, Edson Luis Zanatta, 57, carrega marcas da infância. Antes dos dois anos de idade, o lajeadense passou pelos sintomas da paralisia infantil. A doença, também conhecida como poliomielite, trouxe riscos à saúde, e deixou sequelas para a vida toda. Cinco décadas depois, mesmo erradicada no Brasil, a doença volta a preocupar e significa um alerta à saúde do país.

Em mais de 55 anos, cirurgias constantes, tentativas de correções e uma muleta para auxiliar na locomoção. A perna direita de Zanatta teve consequências como a perda da musculatura e o encurtamento. Para minimizar os problemas enfrentados, os procedimentos médicos exigiram que, em certo período, ele ficasse quase um ano e meio vendo a vida pela janela do quarto. A infância, assim como a adolescência, também foram desafiadoras.

Zanatta conta que assim que nasceu, apresentou problemas sérios no estômago e a situação de saúde não permitiu a vacinação. “Quando contrai a paralisia, minha mãe sempre lembra que o prognóstico dos médicos era que, se eu sobrevivesse, ficaria em cadeira de rodas. Graças a Deus, só a perna direita ficou debilitada”.

A vida, conta, não tem sido fácil. “A gente se priva de muita coisa. Tem muita coisa que gostaríamos de fazer, mas não podemos. Tenho consciência desses limites e tento me adaptar a isso”.

Hoje, casado e com dois filhos, ele diz encontrar forças na família e em Deus. “Não podemos nos entregar. Vivemos uma vida de superação a cada dia”.

Vacina para a prevenção

A poliomielite foi erradicada no Brasil em 1994, mas a baixa cobertura vacinal para a doença coloca o país em risco outra vez. A cobertura vacinal, hoje, é de 85,42%. Desde 2015, o país não consegue mais atingir a meta de 95% do público-alvo vacinado, número ideal para que a população seja considerada protegida.

Na região de abrangência da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), esse dado, no ano passado, foi de 95,2%. Já este ano, até o momento, a região possui cobertura vacinal de 93,6%. Nas cinco maiores cidades do Vale do Taquari, pelo menos 300 crianças não foram vacinadas contra a doença este ano. Desses municípios, apenas Lajeado possui cobertura vacinal superior a 95%.

Especialista em saúde da vigilância epidemiológica da 16ª CRS, Susane Schossler Fick, explica que a vacinação contra a poliomielite está dentro do calendário nacional, como uma vacina de rotina, com esquema de três doses da Vacina Inativada Poliomielite (VIP), aos 2, 4 e 6 meses de idade, e um reforço aos 15 meses.

A partir de novembro deste ano, no entanto, ocorre a substituição dos dois reforços com Vacina Oral Poliomielite (VOP), ou a “gotinha”, aos 15 meses e 4 anos, por um de VIP aos 15 meses.

Risco de reintrodução

Apesar da redução no número de casos confirmados nos últimos anos, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o cenário global da poliomielite é de permanência de circulação endêmica do poliovírus selvagem 1 em dois países: Afeganistão e Paquistão. Além disso, mais e 30 países ainda têm circulação de poliovírus derivado vacinal tipo 1, 2 e 3, e casos foram identificados, nos últimos dois anos, nos Estados Unidos, Peru, Guiana Francesa e Venezuela – os dois últimos países fazem fronteira com o Brasil.

“Considerando esse cenário, existem três riscos principais. O primeiro é a importação do poliovírus selvagem de países onde a doença ainda é endêmica. O segundo é a importação do poliovírus derivado vacinal circulante de outros países. O terceiro risco, que aumentou devido à baixa cobertura vacinal, é o surgimento de um poliovírus derivado vacinal próprio do Brasil”, reforça Susane.

No estado, 71,5 % dos municípios estão em muito alto ou alto risco para reintrodução do poliovírus selvagem e surgimento do poliovírus derivado vacinal.

Sobre a doença

Conforme o infectologista Guilherme de Campos Domingues, a poliomielite é uma infecção pelo vírus poliovírus, que tem 90% das infecções assintomáticas. Cerca de 1,5% das pessoas, no entanto, evoluem com os quadros com paralisia dos membros inferiores.

Segundo o especialista, a transmissão, inicialmente, é pela via respiratória e se mantém sendo transmitido pelas fezes durante algumas semanas. Domingues afirma não existir um tratamento específico quando se adquire a doença e a única forma de prevenção é a vacina.

Vacinação nos últimos dois anos

Cobertura vacinal
nas maiores cidades
(dados de janeiro a setembro de 2024)

  • LAJEADO
    Cobertura vacinal: 95,73%
    Doses aplicadas: 875
    Público-alvo: 914
  • ESTRELA
    Cobertura vacinal: 87,14%
    Doses aplicadas: 244
    Público-alvo: 286
  • ARROIO DO MEIO
    Cobertura vacinal: 87,78%
    Doses aplicadas: 194
    Público-alvo: 221
  • TEUTÔNIA
    Cobertura vacinal: 93,14%
    Doses aplicadas: 185
    Público-alvo:306
  • ENCANTADO
    Cobertura vacinal: 88,48%
    Doses aplicadas: 169
    Público-alvo: 191
  • TAQUARI
    Cobertura vacinal: 76,19%
    Doses aplicadas: 160
    Público-alvo: 210
  • VENÂNCIO AIRES
    Cobertura vacinal: 79,72%
    Doses aplicadas: 452
    Público-alvo: 567

Atualização do painel em 10/09/2024 às 10:31:27, com dados contidos na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) até o dia 28/06/2024.

Acompanhe
nossas
redes sociais