Conheça os detalhes da negociação entre Lajeado e Corsan

Saneamento básico

Conheça os detalhes da negociação entre Lajeado e Corsan

Outorga de R$ 30 milhões, suspensão da cobrança de esgoto e abastecimento de água de poços artesianos em bairros ligados a associações. Prefeito Marcelo Caumo pretende assinar aditivo até o fim do ano

Conheça os detalhes da negociação entre Lajeado e Corsan
Foto: Arquivo A Hora
Lajeado

Em meio a polêmica sobre o novo acordo para os serviços de água e esgoto, o município considera que a proposta apresentada pela Corsan/Aegea é a mais realista, objetiva e com condições de ser implantada.

Conforme o prefeito Marcelo Caumo, às especificidades do modelo de abastecimento de Lajeado, com 70% do serviço prestado pela Corsan, dificultam a abertura de processo para suspensão do contrato, o que foi pedido por integrantes do Fórum das Entidades na semana passada. “Ingressar com o pedido de caducidade no judiciário atrasaria os investimentos”, destaca Caumo.

“Estamos em um momento onde é possível resolver a questão do esgoto. Pelo aperfeiçoamento das legislações. Isso construiu um momento oportuno para buscarmos uma solução e darmos sequência ao debate. Escutando todos e buscando a melhor proposta.”

Na negociação, três aspectos se sobressaem: abastecimento de água, tratamento de esgoto e a outorga (pagamento ao município para exploração do serviço). Entre ofertas e cobranças, Caumo ressalta que as metas debatidas com a Corsan/Aegea são possíveis de atender. “Não é chute. Tudo é baseado em estudo e números consolidadados”.

Neste aspecto, a principal carência está no tratamento de esgoto. Pelo marco regulatório nacional, as cidades do país têm até 2033 para coletar e tratar 90% dos efluentes domésticos. “Para nós, era preciso ser antes”, diz o prefeito.

Pelo acordo em discussão, Lajeado teria três modelos, o que seria possível atingir o percentual até o fim de 2028. Dos 38 municípios do Vale, 14 revisaram o contrato e estabeleceram novos cronogramas para o abastecimento de água e tratamento do esgoto com a Corsan/Aegea.

Cobrança no Moinhos

Outro aspecto da negociação é o pedido de encerramento da cobrança adicional para moradores do bairro Moinhos. O Executivo de Lajeado considera injusta a medida e solicita que toda a cidade só comece a pagar pela coleta e tratamento após o sistema estar disponível em toda a cidade.

“Pelo acordo até então, conseguimos mostrar que a taxa de esgoto é injusta. Nossa proposta é suspender e só recomeçar para todas as moradias no início de 2029”, destaca o prefeito Marcelo Caumo.

A Estação de Tratamento (ETE), no bairro Moinhos, coleta menos de 5% dos efluentes domésticos da localidade. Na avaliação do promotor João Pedro Togni, houve equívoco no modelo de implantação. Para ele, a precariedade do contrato atual deixa muito complexa. Passa pela precariedade do contrato entre Corsan e o município.”

O bairro é uma região de Lajeado com famílias de classe média baixa e também pessoas em vulnerabilidade social. Muitos dos terrenos são multifamiliares, com duas ou três moradias. Tal situação dificulta a ligação, pois toda a tubulação das moradias deveriam ser refeitas.

O adicional da taxa nas contas depende de dois aspectos. Caso haja interligação, a conta fica 70% mais alta. Sem a conexão entre casa e rede coletora, eleva-se para 120%. Prevista em lei, a regra estabelece que havendo condições técnicas de conexão do imóvel à rede coletora, será feita a cobrança pela disponibilidade do serviço.

“O serviço não cumpre seu papel e os moradores de Lajeado não percebem que esse será o modelo levado para outros bairros e não funciona. Temos vários pontos em que os resíduos ficam acumulados. Nem temos certeza se chegam na estação de tratamento”, diz Fabrício Tedesco, morador do bairro Moinhos.

A notificação aos moradores sobre o início da cobrança ocorreu em junho de 2022. No comunicado, se orientava para cada proprietário de imóvel proceder com a ligação na rede coletora.

Já a cobrança pelo serviço ou pela disponibilidade da rede começou em 2023, após normativa da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados (Agergs), que autorizou a Corsan a proceder com as taxas mesmo em casas sem ligação à ETE.

Abastecimento de água e associações

Com um novo contrato, a Corsan/Aegea assume todo o serviço no município. Isso inclui as duas associações de água e da rede municipal. Hoje, 70% da população de Lajeado é atendida pela água da companhia. Cerca de 20% é por parte do poder público e 10% por organismos sociais.

A inundação de maio, diz Caumo, comprovou que o município não pode ficar dependente apenas de um modelo, em especial pela captação do Rio Taquari. Os poços artesianos garantiram a continuidade do abastecimento nas localidades com redes instaladas.

Deste modo, afirma o prefeito, o município vai exigir que se invista em mais perfurações. Outro aspecto diz respeito à cobrança da tarifa. Moradores atendidos pelas associações pagam apenas a taxa de manutenção.

“Queremos que continuem assim por dois anos, para terem um período de transição.”
Sobre a indenização para uso de redes existentes, a Corsan teria de negociar diretamente com as associações de água, o que ocorre apenas com a assinatura do aditivo com o governo municipal.

Outorga

O pagamento aos cofres municipais estabelece que cada economia (residência atendida) gere entre R$ 350 a R$ 500 como indenização. Esse critério é apresentado na prestação de contas e estabelecido como metrica para todos os mais de 300 municípios gaúchos com novos contratos.

Neste sentido, Lajeado teria cerca de R$ 20 milhões. Além disso, está prevista uma indenização de R$ 10 milhões pelo uso das redes e poços artesianos. “Estamos negociando para aumentar essa quantia. Mas é algo difícil, pois há um regramento para todo o estado”, frisa Caumo.

Proposta em negociação

Os termos estabelecem três pontos-chave:

Esgoto

  • Atingir 90% dos efluentes domésticos tratados até 2028. Cinco anos antes do previsto no marco regulatório.
  • Por meio de três formatos: absoluto (com ligação direta em rede exclusiva de esgoto da casa até a estação); misto (com uso da rede pluvial, também sendo levada até a central de tratamento); e por meio da limpeza periódica da fossa doméstica (Corsan fazendo a coleta).

Água

  • Autorizar o uso de poços artesianos onde há sociedades de água e rede administrada pelo município.
  • Nas localidades atendidas pelo município, a comunidade terá dois anos para seguir com a tarifa cobrada pelo poder público.
  • Corsan/Aegea será a responsável por negociar com as sociedades de água.

Outorga

  • Investimento estimado em R$ 290 milhões.
  • Indenização pelas redes do município estimada em R$ 10 milhões.
  • Outorga por economias atingidas estimada em R$ 20 milhões.
  • Com isso, o município receberia com a assinatura do aditivo algo em torno dos R$ 30 milhões.

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