Três dias de festa à cultura alemã

PRESERVAÇÃO da história

Três dias de festa à cultura alemã

Neue Heimatfest iniciou sexta-feira, com seminário em homenagem ao bicentenário da imigração, e segue com programação cultural e gastronômica até domingo, 20, no Parque Histórico de Lajeado

Três dias de festa à cultura alemã
Foto: FELIPE NEITZKE
Lajeado

As marcas deixadas pela imigração alemã no Vale do Taquari são celebradas neste fim de semana, com três dias de festa. A programação iniciou na sexta-feira, 18, com seminário sobre as heranças germânicas e a influência dos colonizadores para o desenvolvimento da região. As atividades seguem neste sábado, 19, e domingo, 20, no Parque Histórico de Lajeado.

Parte do projeto Neue Heimat, conduzido pelo historiador Waldemar Richter, em parceria com o Grupo A Hora, as festividades também celebram os 200 anos da imigração alemã no estado. Com 12 palestras, o seminário abordou essa influência germânica na região, a partir de temas como infraestrutura, economia, educação e cultura.

Entre os palestrantes, esteve o escritor Décio Schauren, que iniciou o evento com o tema “As perseguições às comunidades de origem alemã”. O escritor destacou as contribuições das comunidades germânicas que povoaram a região. Na época, construíram mais de 1,5 mil escolas comunitárias e os professores eram sustentados pelos próprios colonos.

Além disso, destacou o modelo econômico desenvolvido, diferente do que era visto nos latifúndios em que se priorizava um único produto em cada fazenda, a partir do trabalho escravizado. “Os alemães chegaram aqui e usaram a pequena propriedade, o trabalho deles, para uma produção diversificada e autossustentável, que não só alimentava as famílias, mas os excedentes iam para as cidades. As cidades grandes, como Porto Alegre, passaram a ter outros alimentos que não só o charque”.

Schauren reforça que o modelo foi o responsável por constituir a atual agricultura familiar e cooperativista. Além disso, artesãos alemães começaram a criar indústrias e, mesmo com todas as contribuições ao desenvolvimento do estado, o escritor afirma que quando começou a Campanha de Nacionalização do Estado Novo – com o objetivo de integrar os grupos de imigrantes em uma única cultura luso-brasileira – os alemães não foram valorizados.

Entre os palestrantes, esteve o escritor Décio Schauren, que iniciou o evento com o tema “As perseguições às comunidades de origem alemã”

Heranças na língua

Os dialetos também foram marcas da imigração deixadas no Vale. Professora de alemão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Karen Pupp Spinassé é também presidente do Instituto Histórico de São Leopoldo e destaca as variedades da língua alemã falada no Brasil. A mais comum na região, segundo a especialista, é o dialeto Hunsrück.

“O Hunsrück acabou sendo aquela língua franca que as pessoas usavam quando tinham dialetos diferentes e foi a que mais se desenvolveu no RS e na região”.

De acordo com Karen, o dialeto é caracterizado por vocabulários trazidos dos imigrantes há 200 anos. Mais tarde, a língua passou a contar com palavras antigas, e outras em português, já que as duas culturas se misturavam em solo brasileiro.

Para a professora, a linguagem é o legado da colonização. “É uma questão da tradição, da história que fica”, afirma. Ainda, destaca a importância para o desenvolvimento cognitivo das crianças. “Saber uma outra língua desde pequeno faz bem para o cérebro, para aprendizados mais tarde”, garante.

As curiosidades do Hunsrück ganham destaque na Neue Heimatfest, com o lançamento de um dicionário sobre o dialeto, produzido pelo escritor e historiador Waldemar Richter. O material reúne as seis mil palavras mais utilizadas. A obra será trilíngue, com versões em Deutsch, Deitsch e Português.

Mais de 50 obras

O historiador Waldemar Richter lançou 54 livros de forma simultânea, sobre a trajetória dos imigrantes na região. (Foto: ANDRÉIA RABAIOLLI)

Na sexta-feira, Richter ainda lançou 54 livros de forma simultânea, sobre a trajetória dos imigrantes na região. As obras, que totalizam mais de 12 mil páginas, documentam a vida de diversas famílias de origem germânica. Além de serem entregues aos descendentes durante o evento, os livros também serão distribuídos para bibliotecas em todo o Rio Grande do Sul.

As obras contam a história e genealogia de famílias que vieram da Alemanha há dois séculos e colonizaram o Vale do Taquari. Cada livro traz nomes dos pioneiros, a história, genealogia dos descendentes e o local de sepultamento, além de curiosidades sobre essas famílias.

Ainda na programação do seminário, a Sicredi Integração RS/MG lançou o livro “Entre gerações: construindo juntos uma sociedade mais próspera”. Retratando a história a partir de momentos importantes na trajetória da cooperativa, a iniciativa faz parte das ações que celebram os 120 anos da instituição, completados em 1º de março de 2026.

O Parque Histórico

O local que recebe as festividades é composto por um conjunto arquitetônico do parque forma uma “aldeia-museu” com escola, salão de baile, ferraria, restaurante, coreto, moinho e moradias que estiveram originalmente localizadas em diferentes municípios da região, como Estrela, Imigrante, Arroio do Meio, Santa Clara do Sul, Forquetinha, Canudos do Vale, Teutônia e Lajeado.

O local conta com uma ferraria histórica e ainda foi cenário para o filme A Paixão de Jacobina, gravado em 2001, que atraiu atores como Thiago Lacerda e Letícia Spiller, que permaneceram na região durante três semanas.

Planejado pelo historiador Waldemar Richter, que se inspirou em parques alemães, o Parque Histórico conta com 22 casas em estilo enxaimel. Elas foram transferidas ao local vindas de outros municípios.

As construções, com madeiras trabalhadas manualmente por mestres de obras e marceneiros alemães de 200 anos atrás, refletem a habilidade dos imigrantes. O parque é uma recriação autêntica de um núcleo de colonização alemã, em uma área de 20 mil metros quadrados.

Além de mergulhar na história de uma autêntica colônia alemã, o visitante conhecerá cenários que marcaram época entre os imigrantes e a comunidade da região.

  1. Clube do Fusca – uma entidade sem fins lucrativos que visa aproximar os amigos aficionados e amantes de Fuscas e Derivados.
  2. Casa da Fruki – Construída em 1924 como uma fábrica de gasosa, conta com o acervo dos primeiros equipamentos da Fruki.
  3. Palco principal – No local, ocorrem as atrações culturais durante o evento. Estrutura foi montada para a festa.
  4. Casa de Santa Clara do Sul – Apresenta fatos históricos, como a luta contra os maragatos e a imigração alemã.
  5. Casa do Festival do Chucrute de Estrela – História e exposição de trajes típicos alemães.
  6. Eisstocksport – O Centro de Cultura Alemã de Lajeado oferece aos visitantes a oportunidade de praticar esse tradicional esporte germânico.
  7. Salão Troller – exposição de livros de Waldemar Richter.
  8. Casa da Rede Sinodal – Apresentação de trabalhos escolares que narram a trajetória dos imigrantes.
  9. Cenário Instagramável – Cenário especial para fotografias e selfies para visitantes.
  10. Casa da Associação Rural – Fundada em Santa Clara do Sul, hoje abriga a Arla, cooperativa de Lajeado, preservando a tradição agrícola da região.
  11. Casa do Sicredi – Fundada em 1906 pelo padre Amstad, retrata a história da cooperativa de crédito que nasceu em Lajeado.

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