Setor de transporte procura motoristas e mira requalificação profissional

Projeto Rumo

Setor de transporte procura motoristas e mira requalificação profissional

Envelhecimento e desinteresse dos mais jovens desafiam empresas de logística. Debate na Rádio A Hora aborda programas para valorizar carreira do profissional das estradas

Setor de transporte procura motoristas e mira requalificação profissional
Foto: ARQUIVO
Vale do Taquari
oktober-2024

O desejo das crianças do passado, de conhecer o país conduzindo um caminhão perdeu espaço. As facilidades do mundo moderno fazem com que as distâncias sejam menores. É possível ter informações e conversar com pessoas em qualquer lugar do mundo apenas por um telefone ligado na internet.

Essa é uma das análises de gestores e especialistas do setor dos transportes. O déficit de profissionais do volante e as formas de sensibilizar as pessoas para a carreira foi o tema do programa RUMO – O Futuro da Mão de Obra.

Com a participação do presidente da Valelog, Adelar Steffler, do diretor comercial e de logística da Amalfi Alimentos, Cristian Bergesch, e do gerente do Sest/Senat de Lajeado, João Felipe da Silva, o debate foi ao ar na quarta-feira e está disponível no A Hora TV, no Youtube.

Com mais de 40 anos de experiência como motorista de caminhão, Adelar Steffler considera que houve uma mudança cultural. “Naquela época, tínhamos menos opção de trabalho aqui na região e, uma das únicas maneiras de conhecer o Brasil era trabalhando no caminhão.”

Junto com isso, avalia que havia também admiração e mais respeito. “Quando chegávamos para buscar ou entregar uma carga, nos estados mais distantes do país. A primeira pergunta era se a gente tinha almoçado ou se tinha tomado café. Hoje, tu chega com a nota fiscal e te deixam esperando, não se importam mais com o motorista.”

A afirmação de Steffler é reforçada por Cristian Bergesch. “Quando iniciamos a empresa, eu fazia as entregas. Levava pão nos supermercados. Senti na pele o que o motorista passa. Parece que ele não é importante. Essa visão temos que mudar, pois não é verdade.”

Com a perda de status, abre-se a necessidade de políticas de retenção, diz Bergesch. “Temos de mostrar para o profissional a importância dele. Reforçar o propósito deste trabalho, como o de alimentar as pessoas, de garantir a chegada de medicamentos e tantos outros produtos básicos à vida.”

Neste sentido, também é preciso o cuidado com a saúde e a integridade, tanto do motorista quanto da família deste profissional, acrescenta o gerente do Sest/Senat, João Felipe da Silva. “Atuamos na base, no atendimento em diversos serviços, como nutrição, psicologia, fisioterapia e saúde. Junto com isso, com cursos e qualificação. O motorista precisa desse apoio e buscamos estar próximos.”

O RUMO – O Futuro da Mão de Obra – é uma realização do Grupo A Hora. Conta com o patrocínio da Cascalheira Stone Garden, Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat), Rhodoss Implementos Rodoviários, Sicredi, Univates, Metalúrgica Hassmann, Construtora Diamond, Dale Carnegie, Construtora Giovanela e Tomasi Logística,

Programa está disponível na internet. Basta pesquisar por Rumo no canal A Hora TV no Youtube

Tecnologia e o dilema geracional

De acordo com pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o motorista de caminhão no país tem em média 44,8 anos. O processo de envelhecimento dos profissionais tem se acelerado ao longo da última década, diz Steffler.

“É comum termos motoristas com 60 anos ou mais. São pessoas de outra geração, que aprenderam a dirigir de uma forma. O caminhão evoluiu, hoje tem muita tecnologia embarcada, e esse motorista tem dificuldades”, adverte.

Pesquisa feita por 14 cooperativas de transporte do RS revela que dos 2.309 motoristas associados, apenas 7% tinham menos de 30 anos. “Dos 30 aos 40 anos, temos 27%, e a maioria dos nossos motoristas, 28%, está na faixa de 40 a 50 anos”, detalhou. A situação se agrava nas faixas etárias mais elevadas: 22% dos motoristas têm entre 50 e 60 anos e 16% têm mais de 60. “Temos mais motoristas saindo do que entrando, o que traz um risco iminente de escassez de mão de obra”, alerta Steffler.

Além disso, a tecnologia se apresenta como outro grande desafio. “Muitos dos profissionais mais experientes têm dificuldades para se adaptar aos novos sistemas, como os aplicativos necessários para gerenciar as cargas e operações.

Ele relembra os tempos em que bastava chegar à transportadora, anotar a carga em um bloco de notas e seguir viagem. “Agora, é preciso dominar o uso de aplicativos para conseguir realizar o carregamento, e essa transição é difícil para muitos”, completa.

Perfil do motorista

Pesquisa feita em 14 cooperativas de Transporte do RS

  • Total
    2.309 motoristas
  • Faixa etária
    – Menos de 30 anos: 7%
    – 30 a 40 anos: 27%
    – 40 a 50 anos: 28%
    – 50 a 60 anos: 22%
    – Acima de 60 anos: 16%

Análise

  • A participação de motoristas jovens (menos de 30 anos) é muito baixa, refletindo a dificuldade de renovação da mão de obra.
  • A faixa etária predominante é de motoristas entre 40 e 50 anos.
  • Motoristas mais experientes (especialmente entre 50 e 60 anos) enfrentam dificuldades para se adaptar às novas tecnologias embarcadas nos veículos.
  • A necessidade de qualificação para uso de aplicativos e sistemas digitais é um obstáculo para a permanência desses profissionais no mercado.

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