Na primeira tentativa de conceder as rodovias para a iniciativa privada, em 2022, o governo gaúcho fracassou. O setor produtivo do Vale do Taquari estudou a proposta, se posicionou contra e mostrou diversos equívocos na proposta.
O que foi apresentado era um “requentado de ontem”, pois seguia um esqueleto do que serviu de argumento para a transferência do pedágio à Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). A pressão foi tanta que o Piratini voltou atrás. Disse que precisava fazer um novo alinhamento do plano.
Com a reeleição do governador Eduardo Leite, o tema voltou à baila. Veio a regulamentação do free flow (uma alternativa para acabar com a polêmica do local da praça de pedágio). Surgiu ali um movimento importante, que trouxe ânimo e otimismo para os líderes regionais.
O que ninguém esperava era a inundação de maio. O secretário Pedro Capeluppi, até então o responsável pelas concessões e parcerias dentro do governo, virou o homem forte da Secretaria da Reconstrução.
Ainda que haja movimentos tentando retomar os debates à concessão, nos bastidores, há pouca esperança que isso aconteça. O mais palpável é que a EGR continue nos dois anos que faltam para o fim da gestão Leite.
Exercício de lógica
Neste sentido, importante pensar: será que alguém teria interesse em assumir os trechos do Vale do Taquari? Ao que consta, o Estado pensa que não. A pergunta leva a outros questionamentos. Alguma empresa ou consórcio, vendo o volume de investimentos gigantescos, o tamanho dos desafios frente aos riscos dos episódios climáticos extremos, assumiria esse desafio?
Para se ter uma ideia, a ERS-130, de Lajeado e Encantado. O trecho teve prejuízos estruturais em diversos pontos.
A inundação trouxe a exigência de novos patamares, cotas e níveis nas obras de infraestrutura. Engenheiros especializados em rodovias, a partir de conversas com líderes regionais, anteciparam que seria necessário reconstruir a estrada. Seria preciso deixá-la mais alta e, inclusive, rever o trajeto.
É triste, mas é verdade. O governo do Estado sabe disso. Tanto que o assunto está no modo espera dentro da Secretaria da Reconstrução. Inclusive o próprio secretário Capeluppi não fala sobre.
Entendo que, neste momento, a concessão não é prioridade. Isso não é uma crítica e vamos pensar: por que seria prioridade?
Alternativa
Do que adianta fazer um esforço para lançar um edital de leilão que tem tudo para ser deserto? Quem vai querer segurar uma bomba relógio, pois não se sabe quando uma nova enxurrada pode acontecer?
Alguém pode dar garantia que não haverá episódio semelhante nos próximos 30 anos (período que costumam ser as concessões de rodovias)?
Por isso, a concessão subiu no telhado. Neste momento, o urgente é entregar a ponte sobre o Rio Forquetinha, construir alternativas logísticas, como no trecho da ERS-332 e da ERS-129, entre Roca Sales e Colinas.
Junto com isso, trabalhar na pressão popular para que o governo federal faça, por meio do Dnit, o projeto de viabilidade para um anel viário.
Na RSC-453, em direção a Venâncio/Santa Cruz do Sul, não houve bloqueios com a catástrofe. É por ali que se deve pensar uma forma de tornar a região menos dependente da BR-386.