“Um jovem professor inspirado faz toda a diferença na escola”

DIA DO PROFESSOR

“Um jovem professor inspirado faz toda a diferença na escola”

Especialista em Educação ressalta a necessidade de incentivar novas gerações para pensarem sobre o ofício da docência e considerarem o trabalho como opção de carreira

“Um jovem professor inspirado faz toda a diferença na escola”
Foto: divulgação / Univates
Vale do Taquari

No dia dos professores, a doutora em Letras, professora universitária no Programa de Pós-Graduação em Ensino e nos cursos de Letras e Pedagogia da Univates, Kari Forneck, destaca o papel dos docentes na sociedade. Para ela, as relações entre as pessoas e com o ambiente são moldadas pelas experiências em sala de aula.

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A Hora – Neste Dia do Professor, qual o significado desta profissão?
Kari Forneck – Neste Dia do Professor e também em todos os demais dias, é sempre importante lembrar que é pela educação que nossas relações uns com os outros e com o mundo são melhoradas. Passamos a entender melhor a nós mesmos e também o outro e, justamente por isso, estabelecemos uma interação mais saudável e empática com quem nos cerca.

Além disso, passamos a tomar consciência de nossa relação com os recursos finitos do planeta e aprendemos que é preciso diminuir o consumo desenfreado dos recursos naturais.

É na escola que se aprende a interagir com esse tipo de conhecimento, pelas relações dialógicas com os professores. São os professores, portanto, que ampliam nossos horizontes e que nos ensinam os melhores caminhos para acessar repertórios diversos e multiplicar nossas experiências de aprendizagem, em todos os dias de aula.

– Como despertar no jovem o interesse por esta carreira?
Kari Forneck – Problemas complexos requerem soluções complexas. Há muito que se vem anunciando um futuro sem professores, dada a falta de interesse dos jovens em seguir a carreira docente. Portanto, há muitas ações coordenadas que precisam ser postas em cena para lidar com esse cenário.

Uma delas diz respeito à valorização profissional e aos planos de carreira, que precisam ser revisitados de modo a garantir condições dignas para que jovens consigam se imaginar seguindo uma carreira promissora na área educacional, com salários condizentes aos anos de estudo e dedicação à carreira.

Outra diz respeito à valorização social da profissão. Professores não podem ser perseguidos, desacreditados, desconsiderados, destituídos de sua condição essencial – a de ser livre para ensinar.

É hora de virar essa chave e mudar o tom do discurso, no sentido de valorizar aqueles que são responsáveis por ampliar horizontes culturais, científicos, humanísticos, lógico-formais, éticos e históricos.

– E em termos de políticas públicas. Quais movimentos contribuem para a formação dos docentes?
Kari Forneck – Existe um papel fundamental das políticas públicas para garantir acesso e a permanência de jovens em cursos de licenciatura. Vale mencionar duas delas: o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), financiado pelo governo federal, e o Programa Professor do Amanhã, financiado pelo governo estadual. Ambos os programas são iniciativas públicas que oportunizam bolsas de estudo para que jovens possam manter vivo o desejo de se tornarem professores da Educação Básica. Esperamos que essas iniciativas tenham vida longa, porque já transformaram a vida de muitos jovens professores.

Para além disso, é preciso incentivar toda vez que alguém decide ser professor. Muito provavelmente, algum outro professor o tenha inspirado. Um jovem professor inspirado faz toda a diferença na escola.

A função do professor muitas vezes vai além do repasse de conteúdos. Eles marcam a vida dos alunos e contribuem até no entendimento de cada um deles sobre a própria identidade. Ainda assim, há responsabilidades por vezes não compartilhadas. Dessa forma, qual o papel da família, do aluno, da escola e do professor no processo de ensino e aprendizagem?
Kari Forneck – Engana-se quem pensa que um professor é um mero repassador de informações, como se fosse uma enciclopédia ambulante. Essa talvez seja a imagem de professor mais comum no ideário coletivo. Mas superada há muito tempo no ambiente escolar.

Hoje, um professor lida com muitas outras questões que fazem parte da complexidade que é ser criança e ser jovem na escola contemporânea. Não é suficiente apenas lidar com os saberes exclusivos do componente curricular, da matéria de aula, porque é preciso também saber dialogar, ter empatia, lidar com dilemas existenciais, compreender percursos de aprendizagem distintos, ter escuta sensível, acolher angústias, interagir com tecnologias digitais.

A escola também é o lugar onde crianças e jovens aprendem a lidar com a complexidade que é a vida em sociedade. Não se trata mais, portanto, de entender a escola como um lugar de ‘passar conteúdos’. A escola é muito mais que isso. Por isso, é tão importante o diálogo entre família e escola, entre pais e professores, no sentido de estabelecer parceria de escuta e interação convergente.

– Por falar em responsabilidades, o que esperar dos poderes públicos?
Kari Forneck – Aos governos, em suas diversas instâncias, cabe oferecer condições dignas para que professores e gestores escolares possam acolher os estudantes e garantir que a escola seja esse ambiente de escuta, segurança, tranquilidade e muita aprendizagem.

Os professores, se bem amparados, com condições de trabalho dignas, sabem fazer da escola o melhor lugar para as crianças estarem. Mas precisam do apoio da sociedade civil. É sempre muito vazio o discurso de grupos sobre o que e como o professor deve ensinar.

Não costumamos ter esse mesmo tipo de comportamento em relação a outras profissões. Não nos habituamos a dizer para engenheiros, dentistas, psicólogos, bancários, médicos, padeiros ou farmacêuticos como devem realizar seu ofício.

Mas fazemos isso com muita frequência em relação aos professores, quase sempre amparados em um ideário que remete a uma escola que não combina mais com o tempo presente.

Nossos esforços seriam bem mais assertivos se fossem dirigidos no sentido de garantir condições dignas de trabalho aos professores, para que possam desenvolver as aulas considerando as demandas que a contemporaneidade requer. Com salários dignos, escolas bem equipadas, jornada de trabalho condizente, respeito à liberdade de cátedra, amparo à formação continuada.

De modo geral, professores felizes deixam a escola feliz. E já sabemos o que acontece quando a escola está feliz.

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