O ofício de professor carrega consigo responsabilidades e preocupações sobre toda a sociedade. Para os docentes, a missão de disseminar o conhecimento, o respeito, a empatia e contribuir para que cada aluno se desenvolva de maneira integral corresponde ao misto de desafio e satisfação.
Após anos de sucateamento e desvalorização, movimentos dos governos, das escolas e das universidades tentam reverter a perda de status dos mestres e sensibilizar os estudantes. O pano de fundo é o déficit de profissionais.
Conforme pesquisa do Serviço Social da Indústria (Sesi), até 2040, faltarão pelo menos 10 mil professores na Educação Básica gaúcha. Essa lacuna é atribuída a diversos fatores, desde o desinteresse pela carreira docente, envelhecimento da categoria, condições de trabalho e salários.
“Há dois aspectos que precisamos analisar. O primeiro é desenvolver capacidades intelectuais e cognitivas dos estudantes. Em resumo, fazer com que valorizem o conhecimento. O segundo, é quase como buscar uma vocação. Despertar a vontade de ensinar o próximo”, avalia o diretor do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat), Rodrigo Ulrich.
Nas duas instituições (em Roca Sales e Lajeado), o Ceat tem 123 professores, com 1,6 mil alunos matriculados. “Precisamos de docentes, em especial de Ensino Médio, nas disciplinas de exatas, como Física, Química e Matemática, mas também nas ciências humanas, como geografia e outras. São componentes que cada vez temos mais dificuldade.”
Para Ulrich, a tendência para os próximos anos é de melhorias tanto estruturais quanto salariais para professores. “É uma das profissões do futuro. Na rede privada, há aumentos significativos.”
Na rede pública estadual, são mais de 83,7 mil professores em atividade. Para os próximos anos, a projeção é que sejam necessários pelo menos 94 mil docentes. No entanto, desde 2016 o país registra uma redução constante no número de concluintes em curso de licenciatura.
Profissão de oportunidades
Frente a necessidade de formar, movimentos governamentais abrem oportunidades de formação para estudantes. Entre as políticas públicas está o Professor do Amanhã, lançado pelo governo gaúcho em abril deste ano.
O programa paga o curso superior para mil alunos em 11 instituições de ensino. Entre elas, está a Univates. São 46 bolsas no curso de Letras. “Precisamos comemorar as iniciativas para formar professores, pois elas valorizam a escolha dos jovens”, diz a coordenadora do projeto, a professora Grasiela Bublitz.
Para ela, O “Professor do Amanhã” é uma grande ideia para estimular a carreira docente. “A bolsa permanência representa um incentivo àqueles que escolhem a profissão”, ressalta.
Como se trata de uma profissão com alta empregabilidade, Grasiela frisa a busca constante das redes de ensino, tanto públicas quanto privadas. “Acadêmicos encontram espaço facilmente. O mercado está carente deste profissional”, conclui.
Nesta primeira edição do programa, foram mais de 200 cadastros, conta a coordenadora do curso de Letras, Fabiane Olegário. Além das 46 bolsas, cada aluno selecionado também recebe uma ajuda de custo de R$ 800 por mês durante os quatro anos de formação.
Com isso, os selecionados precisarão manter a matrícula em todas as disciplinas a cada semestre. Entre os critérios de seleção, os candidatos devem ter cursado o Ensino Médio em escola pública, ou em colégios particulares na condição de bolsista integral.
Quebrar paradigmas
A imagem do professor sobrecarregado, com salários baixos e escolas com pouca estrutura impacta o imaginário social. Como resultado, afasta o interesse dos mais jovens, é o que avalia o diretor do Colégio Gustavo Adolfo, Édson Wiethöelter.
“Temos de avaliar mais a fundo essas afirmações, de qual ângulo olhamos para essas relações. O salário do professor na comparação com a média nacional está acima. Mas perde em relação a profissões com maior valor agregado. O professor sim, tem que ganhar mais. Mas não podemos criar uma falsa imagem de que não é vantajoso para o jovem que busca uma carreira.”
Para Wiethöelter, o valor do conhecimento para a vida precisa também ser medido. “Ser professor é um ato nobre. Ele carrega desafios enormes. Junto com isso, também a satisfação de fazer a diferença na sociedade.”
Neste sentido, o diretor realça que o papel deste profissional ultrapassa as salas de aula e os muros das escolas. “Todos nós temos professores que marcaram a nossa vida e ajudaram na nossa construção”. Em resumo, afirma: “O dia do professor é todo o dia.”
Carinho das famílias e dos alunos
Professora da rede municipal de Lajeado, Arivane Bruxel, trabalha desde 1995 na escola Vitus Mörschebächer, no bairro Universitário. Hoje leciona para filhos de antigos alunos. “Me sinto tão feliz de ter essa história. Estou em uma escola acolhedora, em uma comunidade participativa e que confia no nosso trabalho.”
Dentro da sala de aula, nas turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, ensina sobre valores e comunicação não violenta. Sensibilizar os estudantes para uma vida sustentada em aspectos positivos precisa acompanhar toda a trajetória escolar, acredita.
“Em primeiro lugar, temos de gostar. Gostar da gente e do próximo. As crianças entendem muito bem isso. Outra coisa é o respeito, isso também é fundamental.”
Seja na alfabetização ou no Ensino Médio, Arivane sublinha: a presença da família faz toda a diferença. “Sei que a vida é corrida. Os pais trabalham e estão cada vez menos tempo em casa. Mas é preciso entender, o professor faz um complemento. Ele ajuda. Muito da educação vem de casa.”
Neste 15 de outubro, afirma: “o reconhecimento nos dá ânimo. O coração bate forte sempre que vemos o olhar de afeto dos alunos e das famílias. Com a comunidade ao nosso lado, o processo de ensino faz muita diferença.”
Trabalho e esperança
Seis décadas como professora. Essa experiência faz de Ledi Schneider, 87, uma referência histórica da docência no Vale do Taquari. Atuou no ensino infantil, na alfabetização, no Ensino Médio e no Superior.
Começou a trajetória em Teutônia, na hoje chamada Reynaldo Augustin. Tinha 22 anos. Apesar da pouca idade, tinha claro o significado da profissão. “Ser professor é disseminar o respeito, a empatia e ajudar a desenvolver o melhor de cada aluno. É um trabalho que transforma. Essa sempre vai ser minha esperança por uma sociedade melhor.”
Apesar da distância das salas de aula, Ledi continua como uma incentivadora da profissão. “Para mim, o magistério foi minha realização pessoal. Acredito que também pode ser para outras pessoas.”
Com as mudanças na sociedade, a inclusão das tecnologias e novas formas de aprender e ensinar, Ledi aconselha: “o professor nunca pode parar. Ele precisa evoluir também. E o inovar não é só usar ferramentas tecnológicas, é se comunicar bem, atrair a atenção dos alunos e se tornar uma referência para eles.”
Formação de professores
Na região, há quatro escolas com o curso Normal (antigo Magistério).