Parque apícola em Taquari busca restaurar equilíbrio após cheias

Para além do mel

Parque apícola em Taquari busca restaurar equilíbrio após cheias

Federação do setor estima que pelo menos 10% dos enxames foram devastados com os fenômenos climáticos extremos. Força-tarefa avança com a multiplicação de colmeias

Parque apícola em Taquari busca restaurar equilíbrio após cheias
Parque apícola está localizado na Linha Arroio Fonte Grande. Estação Experimental é considerada a maior referência de pesquisa da América Latina. (Foto: Jéssica R. Mallmann)
Vale do Taquari
oktober-2024

“Sem a polinização de abelhas, a humanidade tende à extinção.” A afirmação de David Vicenço, presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (Fargs), pode parecer alarmante, mas reflete a realidade da crise ambiental que o mundo enfrenta. A exemplo, as enchentes de maio devastaram 10% dos enxames da região, causando um impacto que vai muito além da produção de mel: ameaça a agricultura, compromete a segurança alimentar e coloca em risco a sobrevivência da humanidade. No entanto, no interior de Taquari, uma iniciativa surge como esperança para encontrar soluções que possam restaurar o equilíbrio ecológico.

É no Parque Apícola de Taquari, antigo Centro de Pesquisas Emílio Schenk, que especialistas e pesquisadores estão empenhados em reativar a atividade das abelhas na região. Por meio da produção e distribuição de rainhas, princesas e cúpulas, eles visam apoiar os apicultores que perderam suas colmeias e melhorar a polinização, atividade crucial para a recuperação das lavouras e a manutenção da biodiversidade.

Segundo Vicenço, o objetivo da Fargs é desenvolver a apicultura e a meliponicultura do estado. Mas o principal interesse está em promover a polinização, de abelhas com e sem ferrão, para produção de alimentos. “Vamos trabalhar para atender os quatro cantos do Rio Grande do Sul, com o desenvolvimento de tecnologias e apicultura padronizada”, explica o presidente. “A polinização é responsável por, no mínimo, 3% do aumento de grãos e frutas. Então, temos que capacitar as pessoas e criar ambientes para trabalhar com as abelhas”.

Além disso, a iniciativa também auxiliará na produção de mel e seus subprodutos, como cera, própolis e geleia real. Hoje, o Brasil possui o título de excelência em qualidade e produtividade de mel, uma vez que é detentor, por seis vezes consecutivas, do prêmio de melhor mel do mundo.

Essenciais à vida

Por meio da produção e distribuição de rainhas, princesas e cúpulas, visam apoiar os apicultores

O zootecnista da Emater/RS-Ascar, João Sampaio, ressalta que compreender o impacto da polinização é reconhecer que cerca de 80% dos alimentos consumidos pela humanidade dependem diretamente da atuação dos insetos. “As abelhas são, entre esses insetos, os maiores polinizadores. A quantidade de flores que elas visitam supera em muito a de qualquer outro polinizador”, afirma.

Além deste papel vital, as abelhas produzem subprodutos com propriedades medicinais, como o mel, que são amplamente utilizados na fabricação de medicamentos. “Existe toda uma importância nessa espécie, que não podemos ignorar. Elas sustentam uma cadeia de benefícios essenciais para a nossa saúde e alimentação”, conclui Sampaio.

Projeto de reconstrução

Para a reconstrução das colmeias e enxames, a Federação e entidades envolvidas no projeto auxiliam os apicultores com a distribuição de rainhas e cúpulas. Para tanto, o parque é utilizado como um centro vital para a multiplicação e distribuição desta cadeia.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) contribuíram com a distribuição de açúcar e proteína, vindos de outros estados do país, para alimentar as abelhas. O material foi distribuído entre apicultores da região. Além disso, um grupo do Paraná doou mil colmeias para ajudar na reposição das perdas, complementando os esforços de recuperação na região.

sunflowers close up. Black and yellow striped bee, honey bee, pollinating sunflowers close up. A bumblebee pollinating on a yellow sunflower close-up.

O Parque Apícola

O Parque Apícola de Taquari está localizado na Linha Arroio Fonte Grande e possui 465 hectares. O espaço abriga construções centenárias que testemunham o trabalho do professor Emílio Schenk, imigrante alemão que chegou ao Brasil em 1895 e implementou novas técnicas apícolas no país. Ele foi responsável pela instalação do primeiro apiário didático, que impulsionou a atividade com as abelhas no sul do Brasil.

A Estação Experimental do Parque Apícola foi fundada em 1929 e atualmente é considerada a maior referência de pesquisa em Apicultura da América Latina. No local há 11 casas centenárias, que foram construídas à época da fundação para abrigar a administração, casa do mel, laboratório de pesquisa genética de rainhas e almoxarifado. Hoje estão ativos somente os laboratórios de apicultura e o de citrus.

Desde dezembro de 2023, um acordo de cooperação assinado entre o Governo do Estado, o Parque Apícola e a Fargs, une esforços para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias voltadas à apicultura e meliponicultura. A parceria inclui o uso compartilhado de parte da área para atividades agrícolas e criação de abelhas, além de promover pesquisas voltadas às necessidades dos apicultores de todo o Estado. Entre os temas abordados, destacam-se o combate à mortandade de abelhas causada por contaminantes e estudos sobre a polinização em lavouras de campo aberto.

Entenda mais:

  • Apiário: conjunto de colmeias utilizadas para criação de abelhas, para a colheita de mel ou a polinização de culturas agrícolas
  • Abelha rainha: responsável por comandar a colônia e por os ovos. A líder também controla a produção de novas abelhas de cada sexo ou casta, de acordo com a necessidade da colônia.
  • Cúpulas: dispositivos utilizados por apicultores para facilitar o processo de criação de novas rainhas em colmeias de abelhas, por meio de ambiente controlado e protegido.
  • Princesa: é toda rainha virgem, ou seja, que ainda não foi fecundada.

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