O fator Marçal

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

O fator Marçal

A palavra coach, muito usada atualmente, vem do inglês treinador ou mentor. A palavra inicia no mundo esportivo onde bons treinadores fazem toda diferença (Grêmio e o Inter que o digam) e evoluiu para o mundo empresarial e executivo onde cada vez se busca mais altos níveis de desempenho, ou excelência como esse pessoal gosta de falar.

Já a palavra outsider se refere a alguém que vem de fora, um forasteiro ou ainda alguém que não pertença a um grupo ou organização. No mundo da política um outsider é alguém que não percorreu o caminho do sistema partidário e não se tornou conhecido dentro da arena política antes de concorrer a uma eleição. Em palavras mais simples é alguém que “caiu de paraquedas.”

No Brasil a junção dessas duas palavras faz todos os olhares se voltarem para Pablo Marçal. Embora não se considere coach (nem ele e nem a International Coaching Federation o consideram), ele utiliza suas gigantescas redes sociais para vender cursos de mentoria pessoal e profissional e outros produtos.

Porem claramente ele é muito mais que isso, além de empreendedor de sucesso ele é também o fundador do movimento Quartel-General do Reino. Criado no fi nal de 2021, o QGR mistura
religião, autoajuda com referência à imagem do próprio Marçal. Como “coach” seu maior feito ocorreu em 2022, quando protagonizou uma expedição ao Pico dos Marins, situado na Serra da
Mantiqueira, que demandou intervenção do corpo de bombeiros devido à exposição de 32 pessoas a riscos de vida.

Como outsider na política , esse jovem de 37 anos com uma fortuna estimada em duzentos milhões de reais, tentou concorrer a presidência da república em 2022 pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS), mas sua candidatura não foi homologada. Ele então candidatou-se a deputado federal por São Paulo e obteve 243 mil votos, porém, após decisão liminar do ministro Ricardo Lewandowski, do TSE sua candidatura foi impugnada.

Retornou nas eleições municipais de 2024, quando se candidatou à prefeitura de São Paulo pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). O início da campanha foi meteórico, chegando em alguns momentos a liderar as intenções de voto e a atrair a atenção do eleitorado bolsonarista que se sentia órfão na disputa, mesmo contra a vontade do ex-presidente. (Convém lembrar que durante o segundo turno da eleição presidencial em 2022 Carlos Bolsonaro chamou Marçal de “coach malandrão” e o acusou de querer vantagens fi nanceiras ao apoiar Bolsonaro).

Ao final entraram para história o triste episódio da cadeirada e o vergonhoso episódio do laudo médico falso.

Por isso, a despeito de toda ojeriza que se tenha a políticos profissionais, convém lembrar os riscos de eleger outsiders: chegar ao poder com falta de informação sobre a gestão da máquina e das burocracias que deve liderar; refratariedade à forma como governos operam numa democracia desacreditando a negociação e a construção de consensos; não discussão das plataformas políticas durante a campanha, ficando só nos slogans.

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