A alta das abstenções e o desafio aos partidos

Opinião

Mateus Souza

Mateus Souza

Jornalista e colunista do caderno Lajeado - Um novo olhar sobre os bairros

A alta das abstenções e o desafio aos partidos

Não é de hoje que a abstenção nas eleições chama atenção. O percentual de eleitores faltantes está numa crescente na região. A alta de 2024 (10%) não é tão expressiva quanto a ocorrida de 2020 – na comparação com 2016 –, mas não deixa de ser preocupante para partidos, coligações, candidatos e também para a Justiça Eleitoral.

Ao todo, 48,6 mil eleitores faltaram às urnas no domingo passado. Num universo de 295 mil aptos. É um número considerável. Mas o recorte por município indica, por exemplo, percentuais ainda maiores. Em Lajeado, a abstenção chegou a 24,49%. Ou seja, pode-se dizer que um em cada quatro eleitores não votou.

Há motivos variados que explicam esse percentual: pessoas que mudaram de cidade mas não trocaram o domicílio eleitoral; migração forçada para outras localidades após as catástrofes climáticas recentes; dificuldade de deslocamento aos locais onde seções mudaram de endereço; filas na hora de votar, com diversas urnas apresentando problemas ao longo do domingo.

São pelo menos quatro fatores que afastaram o eleitor das urnas em 2024. Isso sem contar no descrédito de uma parcela da população para com a política, os políticos e os partidos. O recado da sociedade está dado. Futuros prefeitos e prefeitas, vices, e vereadores e vereadoras que não assimilaram isso podem ficar para trás.

E o Vale segue sem deputado

MANECO HASSEN

Atual secretário da Reconstrução do RS, Maneco Hassen é o terceiro suplente do PT na Assembleia Legislativa, mas não alimenta muitas esperanças de ser convocado para o parlamento gaúcho após o resultado das eleições de domingo. O primeiro suplente, Halley de Souza, vai assumir mandato em 2025 no lugar de Luiz Fernando Mainardi, eleito prefeito de Bagé.

Na sequência da lista, Ana Affonso (que também atua no governo federal), aguarda resultado do segundo turno das eleições em Santa Maria, onde o colega de partido Valdeci Oliveira encara Rodrigo Décimo (PSDB). O PT ainda contava com uma

JOSÉ SCORSATTO

vitória de Stela Farias em Alvorada. A deputada foi derrotada por Douglas Martello, do PL.

No PDT, José Scorsatto, hoje coordenador do FGTAS/Sine e terceiro suplente da bancada, torcia por duas possibilidades que não se confirmaram: a ida do deputado Eduardo Loureiro para o secretariado gaúcho e a eleição de Tiago Cadó (segundo suplente) à prefeitura de São Borja.

Onde está o eleitor faltante?

Quando falamos de abstenção em Lajeado nas eleições de domingo, tratamos de mais de 15 mil pessoas que optaram por não irem às urnas. É muita coisa. Números que, certamente, contribuiram para o resultado final da eleição, vencida por Gláucia Schumacher (PP).

Chama atenção, ainda, a elevada abstenção nas periferias. O Santo Antônio é um exemplo. Foram pouco mais de 900 ausências, num universo de 2,3 mil eleitores aptos. O mais votado no bairro, Ranzi, fez só 663 votos.

Nas urnas da Escola Estadual Fernandes Vieira – hoje no ginásio do Madre Bárbara –, que recebem boa parte dos eleitores da região mais vulnerável do Centro, o índice de faltantes foi de 38%. E isso que a distância é bem menor do que a registrada entre o Castelinho e a Univates, por exemplo. Lá, a abstenção foi de 33%.

Mas Lajeado vem numa crescente de eleitores ausentes. Isso se percebe nos últimos 20 anos. O número mais do que triplicou de 2004 para 2024 (aumento de 227%), enquanto o eleitorado cresceu 38%.

Até 2016, a abstenção mantinha uma elevação tímida pleito a pleito. Foi em 2020, no entanto, que ocorreu o salto. De pouco mais de 8,1 mil para mais de 14 mil faltantes. A pandemia foi um dos fatores apontados na época como cruciais para expressivo índice. Em 2024, se esperava uma queda, o que não ocorreu. Fica para reflexão.

Abstenção nas eleições em Lajeado

  • 2004
    Eleitorado apto: 46.378
    Abstenção: 4.794 (10,34%)
  • 2008
    Eleitorado apto: 49.557
    Abstenção: 5.959 (12%)
  • 2012
    Eleitorado apto: 53.048
    Abstenção: 6.917 (13,04%)
  • 2016
    Eleitorado apto: 58.054
    Abstenção: 8.119 (13,99%)
  • 2020:
    Eleitorado apto: 60.950
    Abstenção: 14.332 (23,51%)
  • 2024:
    Eleitorado apto: 64.113
    Abstenção: 15.703 (24,49%)
    Fonte: TSE

TIRO CURTO

  • Entre as principais cidades do Vale, Lajeado teve o índice mais baixo de renovação nas câmaras. Das 15 cadeiras, apenas seis serão ocupadas por novatos (40%), enquanto nove foram reeleitos. Já em Arroio do Meio e Teutônia, são sete caras novas entre 11 parlamentares eleitos.
  • O colega Zique Neitzke fez o levantamento completo e nós repercutimos aqui: das 38 câmaras de vereadores do Vale, Ilópolis terá a maior renovação. As nove cadeiras serão ocupadas por oito caras novas. Maurício Pinton (MDB) foi o único a garantir um novo mandato.
  • Já em Nova Bréscia, uma das cidades onde apenas uma chapa disputou a majoritária, sete dos nove parlamentares foram reeleitos. As exceções são Jair Lorenzon e Rogério da Saúde, ambos do PP, partido do prefeito reeleito Angelo Barbieri.
  • Sigla com mais gestores municipais eleitos na região, o MDB deve ficar com a presidência da Amvat em 2025. E as movimentações partidárias internas para a definição de um nome já começaram.
  • O Vale do Taquari terá direito a R$ 1,8 milhão na Consulta Popular 2024/2025. O projeto mais votado ficará com 60% do montante. Quatro projetos estarão na cédula regional. A votação ocorre de 2 a 6 de novembro.

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