“Não fui eu que escolhi as crianças, mas elas me escolheram”

DIÁLOGOS HBB

“Não fui eu que escolhi as crianças, mas elas me escolheram”

Bruna Letícia Butzke, otorrinolaringologista do Hospital Bruno Born, é a 20ª entrevistada do quadro

“Não fui eu que escolhi as crianças, mas elas me escolheram”
Dra. Bruna Letícia Butzke, otorrinolaringologista (Foto: Paulo Cardoso).
Lajeado
oktober-2024

Natural de Horizontina, noroeste do RS, Bruna Letícia Butzke atua como otorrinolaringologista em Lajeado desde 2018, após se especializar na área. “A cidade é muito acolhedora. Fácil se sentir em casa, e é assim que me sinto aqui. Sempre simpatizamos com a região e fizemos movimentos de vida que nos trouxessem para cá, por ser uma região próspera e próxima de outros lugares. Organizamos nossa vida para vir para cá e estamos muito felizes pela decisão tomada.”

Bruna se descreve como uma pessoa que adora desafios e foi por meio dessa vontade de se desafiar que escolheu a medicina. “Nunca tive o sonho de criança em ser médica. Sempre gostei muito de desafios e quando chegou a época do vestibular, medicina era muito difícil de entrar. Como sempre fui muito estudiosa, na época fiz para me desafiar. Entrei na faculdade e fui me apaixonando ao longo do processo. Não entrei na medicina apaixonada, mas fui conhecendo e me apaixonando aos poucos”.

Sem ter influência na família que a inspirasse para atuar na saúde, foi a pioneira e depois, ela serviu de inspiração para primos ingressarem na medicina. “Sempre tive muito apoio da família, como fui muito CDF, acreditavam em mim, e foi bem tranquilo.”

Trajetória acadêmica

Iniciou sua trajetória na UFRGS, em Porto Alegre e, ao longo da faculdade, conhecendo as especialidades se apaixonou pela otorrino, especialidade escolhida por ela. “É muito difícil escolher para qual lado vai depois que termina a faculdade. O que levei em conta na época, tinha uma dúvida entre otorrino e pediatria. Como na otorrino tem a parte cirúrgica que eu gostava muito, acabei optando”. A faculdade encerrou em 2014 e ingressou na otorrino em 2015.

Ela conta que a primeira dificuldade é entrar na medicina, os vestibulares, segundo ela, são difíceis. A faculdade tem carga horária extensa e a pessoa vive dentro do hospital que é uma preparação para o pós. “A residência, para entrar na especialização, é uma prova ainda mais concorrida do que o vestibular, envolve muito estudo e dedicação.”

Quando se mudou para Porto Alegre, a família também saiu de Horizontina e foi morar em Carazinho. Passava duas semanas na capital e ia para onde seus pais. “Senti muita falta, como boa interiorana, Porto Alegre assustava e o que nos trouxe para o Vale foi não aguentar mais aquela loucura de capital, de insegurança. Os últimos anos lá foram de contagem regressiva para voltar a viver uma vida de interior que a gente gosta muito.”

A escolha pela especialidade

Na faculdade, todos passam pelos estágios e ali se tem uma ideia de como será o dia a dia depois. “A otorrino me seduziu, gostei muito, pois tinha muito público pediátrico, sempre amei crianças e isso me chamou a atenção, mas eu sempre gostei de cirurgia e não são todas as especialidades que você consegue atender o público pediátrico com a parte de bloco cirúrgico que sempre gostei também, então, foi no estágio que me apaixonei”.

Bruna relata que sempre teve muita sinusite e rinite, então, otorrino foi o médico que mais frequentou em toda a sua vida e, para ela, foi uma escolha certada, “amo o que faço”.

Seus pacientes são basicamente crianças, mas também atende adultos. “Gosto de dizer que não fui eu que escolhi as crianças, mas elas me escolheram, porque não terminei a otorrino com o intuito de atender somente crianças, inclusive, quando terminei, pendia para as doenças nasais que pega público mais adulto, mas no dia a dia do consultório, eu atendendo crianças, fui percebendo que eu tinha nascido para aquilo, que gostava de atender crianças e elas gostavam do meu atendimento. Uma transição que naturalmente foi acontecendo na minha carreira”.

Cirurgias mais comuns

Bruna atua no Hospital Bruno Born desde 2018, com procedimentos na parte cirúrgica agendados para uma vez na semana. O tempo fora do hospital, divide entre consultório e família.

Conforme a especialista, a cirurgia do dreno é a mais feita em todo o mundo e muda a vida das crianças. Nos últimos anos, tem sido muito mais frequente esses quadros de otite. “Neste ano, nunca vi tantas crianças com quadros de otite e colocação de drenos. Muito satisfatório poder atender crianças, pois conseguimos resolver os problemas e trazer qualidade de vida não somente para elas, mas para a família”.

Ela reforça que, para uma criança crescer e se desenvolver, precisa estar ouvindo bem e as otites atrapalham a audição. “Ela precisa estar respirando bem para conseguir dormir bem, para aprender, crescer, então, é muito recompensador poder pegar desde pequeno, estimular e corrigir esses problemas para que seja um adulto saudável no futuro. Isso é lindo na pediatria porque conseguimos resolver os problemas de forma muito fácil e isso melhora a qualidade de vida das crianças e da família”. Além disso, Bruna questiona a questão cultural de achar que roncar é normal. “Muita gente ronca, mas toda pessoa que ronca tem uma doença. O ronco é uma doença e repercuti em muitas coisas. Para a criança que está crescendo, se desenvolvendo, os prejuízos da perda auditiva ocasionada por otite são enormes e a gente consegue reverter tudo isso com tratamento, com acompanhamentos. Uma especialidade linda e apaixonante”.

Um olhar além do técnico

Para Bruna, os profissionais que atendem crianças não basta ter conhecimento técnico da parte da medicina, mas estudar sobre comportamento infantil. “Não acho que a criança tenha que ter trauma. Quero que ela peça para os pais para ir ao médico, que goste do consultório, que se divirta na consulta. Ela tem que ser respeitada, a criança é a protagonista daquele atendimento e eu preso muito por isso, sempre tentando melhorar, buscar alternativas, transformar a consulta em um momento divertido e tranquilo para paciente e os pais, isso é fundamental”.

Já num procedimento cirúrgico, o cuidado é ainda maior. “A cirurgia é um momento de vulnerabilidade extrema da criança e da família. A parceria que eu tenho com o HBB, o hospital está muito engajado com isso. Para os pequenos é divertido, pois temos o carrinho que elas dirigem até chegar na sala cirúrgica, brinquedos, a equipe é muito amorosa. A gente prepara todo um cenário na sala para receber o paciente. Estamos do lado da família dando esse apoio, sendo uma fonte de confiança, mas também de carinho”.

“Escuto uma frase que diz: ‘A infância é um chão que a gente pisa a vida toda’. Todo mundo que passar pela vida de uma criança vai deixar a sua marca nela e nós médicos precisamos deixar marcas positivas nessas crianças. Para poder fazer isso não é simples, não podemos trabalhar no automático, mas se esforçar”.

Para os profissionais, é preciso muita concentração. “O ouvido tem o menor osso do corpo humano, uma região muito nobre, uma cirurgia delicada, mas não complicada”.

Estrutura do HBB

“O HBB é um hospital equipadíssimo, com profissionais maravilhosos. Um hospital que se preocupa muito com a questão humana e isso para mim é fundamental. Só elogios ao HBB, é maravilhoso trabalhar ali e oferecer para meus pacientes essas condições”.

O paciente tem contato com o cirurgião, mas por detrás, tem toda uma equipe especializada e engajada para que tudo aconteça da melhor forma possível.

“Sou mãe e a maternidade me transformou numa profissional muito melhor. Por mais que gostasse de crianças, de ter estudado e aplicado isso no dia a dia. Viver na pele nos torna melhores”.

Acompanhe a entrevista na íntegra

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