O estado da Flórida, nos Estados Unidos, vive momentos de angústia e tensão com a chegada do furacão Milton, previsto para ser uma das maiores tempestades da história americana. Devido a gravidade do fenômeno, que atingiu a escala 5, os moradores estão partindo em êxodo para os estados vizinhos, em busca de segurança. Entre os que buscam abrigo, estão gaúchos do Vale do Taquari, que atualmente residem ou passam férias na região.
O agrônomo Renan Becker, de 26 anos, é estudante de mestrado na Universidade da Flórida e reside no condado de Alachua. Natural de Travesseiro, ele conta que o furacão deve atingir a região no final do dia, dessa quarta-feira, 9. Ainda assim, fortes chuvas já são presenciadas e as atividades na universidade estão canceladas até quinta-feira.
Embora o condado de Alachua não esteja entre as áreas de alerta máximo, Renan afirma que a força do furacão não deve ser subestimada. “Esperamos chuvas de até 200 mm e ventos entre 40 e 50 milhas por hora, com rajadas que podem chegar a 70 milhas, cerca de 110 km/h. Isso pode causar quedas de árvores e problemas no abastecimento de energia e água potável”, explica.
Apesar de não haver uma ordem de evacuação em sua área, Renan observa que a população está se preparando. “Estamos nos abastecendo de água, alimentos, especialmente os enlatados que não precisam de cozimento ou refrigeração. Além disso, há abrigos disponíveis para aqueles que necessitem”, complementa.
Desde que começou o mestrado, em julho de 2023, este já é o terceiro furacão que Renan enfrenta. Para ele, cada experiência é única, mas a preocupação e o cuidado com a segurança são constantes.
“O furacão deve ser um dos mais devastadores”
O lajeadense Tony Ademo reside nos EUA há oito anos. Segundo o comunicador e empresário, a Flórida é um estado populoso, com cerca de 23 milhões de habitantes, e muito conhecido pelo atrativo turístico. A região que o furacão Milton deve atingir — Tampa e Sarasota — é uma área de evacuação obrigatória, o que gera grande preocupação entre os moradores.
Embora Orlando, cidade onde Tony mora, normalmente não seja afetada por furacões, ele e sua família decidiram deixar a cidade. “Resolvemos sair de Orlando, mesmo não sendo uma área de evacuação obrigatória. Mas resolvemos sair porque realmente esse furacão deve ser um dos mais devastadores dos últimos tempos. Se fala que é o segundo maior da história e chegamos ontem na Carolina do Norte, onde temos familiares”, detalha.
A principal preocupação da população das regiões próximas à área do furacão é o impacto pós-fenômeno, que pode levar a enchentes, falta de energia elétrica, escassez de água potável e dificuldade de acesso a recursos básicos.
Entenda o fenômeno
O furacão é uma tempestade tropical caracterizada pelo sistema de baixa pressão atmosférica, que gera ventos fortes e chuvas intensas. Segundo Daniel Caetano, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), existem três tipos de ciclones: os extratropicais, os subtropicais e os tropicais. O furacão é classificado como um ciclone tropical.
Os ciclones extratropicais são conhecidos no Brasil e comuns na região sul, pois estão associados a frentes frias. Embora esses sistemas se formem predominantemente no oceano, também são responsáveis por ventos intensos que podem afetar áreas costeiras. Já o furacão, tem como principal mecanismo de desenvolvimento a temperatura de superfície do mar. “Quanto mais quente mais energia esse ciclone começa a ganhar e armazenar”, explica o meteorologista.
O furacão Milton chama a atenção por sua intensidade e rápida escalada. Caetano ressalta que, devido à sua trajetória, que o levará por uma faixa estreita de terra, ele não perderá tanta força quanto outros furacões que adentram grandes extensões continentais nos EUA, como o furacão Katrina, que devastou New Orleans em 2005.
“Enquanto o Katrina se enfraqueceu ao atravessar o continente, Milton terá uma trajetória diferente. Ele deve atravessar rapidamente a Flórida e, ao tocar o oceano do outro lado, poderá recuperar sua intensidade”, observa.
Escala Saffir-Simpson
A força dos furacões é medida pela Escala Saffir-Simpson, que categoriza esses sistemas com base na velocidade dos ventos. A escala inicia-se com ventos de 120 km/h na categoria 1 e pode chegar a até 252 km/h na categoria 5, o que evidencia a intensidade devastadora desses fenômenos meteorológicos. O furacão Milton deve atingir a escala 5.