Menina de 2 anos é a criança mais jovem a doar órgãos no HBB

TRÊS VIDAS SALVAS

Menina de 2 anos é a criança mais jovem a doar órgãos no HBB

Paciente apresentou morte encefálica após diagnóstico de meningite. Família conscientiza sobre importância da vacinação e da doação de órgãos

Menina de 2 anos é a criança mais jovem a doar órgãos no HBB
Faz cerca de um mês que Rosana se despediu da filha Maya e, hoje, conscientiza outras famílias sobre a doença e sobre a doação de órgãos. (Foto: Bibiana Faleiro)
Lajeado

A dor da perda de um filho é a pior dor de todas e o luto deve ser vivido um passo de cada vez”. Um mês após a morte da pequena Maya, que faria 3 anos em novembro, os pais Rosana Bortoli Fachini, 35, e Luciano da Silva Staevie, 45, vivem entre a aceitação da partida da filha, e a busca por propósito. Diagnosticada com meningite, a menina não resistiu à agressividade da bactéria e apresentou morte encefálica. Com todos os órgãos saudáveis, a família optou pela doação, que salvou a vida de outras três crianças no Rio Grande do Sul.

Maya é a pessoa mais jovem a doar órgãos no Hospital Bruno Born (HBB) em pelo menos 15 anos. O gesto fez com que outras crianças recebessem os rins e o fígado da menina, e a saúde dos pequenos pacientes auxilia no processo de luto dos próprios pais. “A vida da nossa pequena salvou outras três. Imagino a felicidade das famílias que receberam as doações e isso me conforta muito. Ela continua vivendo em outras crianças”, afirma Rosana.

A mãe conta que Maya sempre foi uma menina saudável. Era vacinada, inclusive contra a meningite. A menina mantinha uma rotina normal entre a escola e o cuidado dos pais em casa. Na sexta-feira, dia 23 de agosto, ela sentiu fortes dores de ouvido e foi diagnosticada com otite média aguda. Mesmo medicada, os sintomas pioraram no fim de semana, com presença de febre, falta de apetite, sonolência e dor de cabeça. Na segunda-feira, a família consultou outra vez e a menina foi encaminhada às pressas à UTI pediátrica do Hospital Bruno Born (HBB), com suspeita de doença neurológica grave.

Segundo os pais, Rosana e Luciano, Maya era uma menina alegre que veio com o propósito de fazer o bem

A meningite foi constatada e tratada por cerca de uma semana. “A gente rezou com muitas pessoas, pedindo por um milagre. Todos os dias eu deitava do lado dela e dizia: filha, só fica aqui conosco se tu ficar bem, se é pra ficar dodói, pode ir com Papai do Céu, a gente te dá essa escolha e vamos respeitar a sua decisão”, conta Rosana.

Os pais foram informados da morte encefálica de Maya poucos dias depois da internação. Em menos de 24h a bactéria atingiu o sistema nervoso central e a corrente sanguínea, desencadeando edema cerebral e sepse. Mesmo com a infecção generalizada e o cérebro severamente danificado, os outros órgãos permaneceram saudáveis.

“Quando a médica me disse isso, me deu um estalo. Essa era a missão da Maya. Fiquei me perguntando porque tão cedo, mas percebi que esse era o milagre dela. Por isso falei pra doarem os órgão, para ela poder salvar outras vidas. Maya era luz por onde passava, agora é um anjo”.

Um novo propósito

Rosana e o marido não querem deixar a história e o legado de Maya esquecidos. Por isso, buscam conscientizar as pessoas sobre a importância da vacinação, já que qualquer infecção pode ser porta de entrada para a meningite, e já pensa em projetos para ofertar mais tipos de imunizantes contra a meningite via SUS.

Ainda, busca incentivar a doação de órgãos. Ela e o marido já tinham vontade de ser doadores e destacam a importância de se comunicar sobre esse desejo, para poder salvar outras vidas após a morte.

Mais de 44 mil pacientes aguardam por um órgão no país, sendo mil crianças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa pode salvar até oito vidas com doações.

Sete doadores

A enfermeira do HBB Adriana Calvi, especialista em Terapia Intensiva e Doação de Órgãos, acompanhou a pequena paciente. Ela afirma que antes de Maya, as crianças mais jovens doadoras de órgãos tinham 4 e 7 anos.

Após o falecimento da menina, os rins e o fígado foram encaminhados a Porto Alegre por um helicóptero. Neste ano, foram feitas sete doações de órgãos múltiplos no hospital. Segundo Adriana, o hospital faz apenas transplantes de rim e córnea.

Em análise

De acordo com a coordenadora da vigilância epidemiológica de Lajeado, Juliana Demarchi, a bactéria com a qual Maya foi infectada ainda não foi precisamente identificada. “Sabemos que foi causada por pneumococo. Ainda não há a subtipagem específica. Existem mais de 90 tipos identificados”.

A profissional ressalta que a meningite é um processo inflamatório das meninges, podendo ser causada pelos mais diversos agentes etiológicos, como fungos, vírus e bactérias.

Prevenção

O Programa Nacional de Imunização disponibiliza as seguintes vacinas no Calendário de Vacinação da Criança:

  • Vacina meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C;
  • Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite;
  • Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B.
  • A vacina da Meningo B ainda não é disponibilizada pelo SUS, somente via particular.

Recomendação

  • Atenção aos sintomas, principalmente em crianças menores de 5 anos;
  • Se a criança tiver febre alta, não mandar à escola. A indicação é procurar um médico para saber o motivo da febre;
  • Após a alta do paciente, não existe mais perigo de contaminação;
  • Não há necessidade de fechar escolas ou creches quando ocorre um caso de meningite, pois o meningococo (em caso de meningite meningocócica) não sobrevive no ar ou objetos.

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