Quanto melhor a separação, menor o impacto ambiental

MEIO AMBIENTE

Quanto melhor a separação, menor o impacto ambiental

A Univates, por três anos seguidos certificada como universidade mais sustentável do Sul do Brasil, é exemplo de gestão de resíduos

Quanto melhor a separação, menor o impacto ambiental
Fotos: Luciane Ferreira
Vale do Taquari

A quantidade de pessoas que circula na Universidade do Vale do Taquari – Univates é maior do que a população da maioria dos  municípios do Vale. São 3,9 mil alunos em sistema presencial, 1,9 mil professores e funcionários, além clientes, fornecedores,   visitantes e pessoas da comunidade que utilizam uma gama de serviços oferecidos pela instituição.

Toda esta movimentação, que dá vida ao campus, resulta na geração de 250 a 300 kg de resíduos sólidos por dia. Do total, 30% vão  para reciclagem. “O índice é muito superior ao da coleta pública de Lajeado, que recicla cerca de 4%”, compara o engenheiro ambiental Gustavo Schäfer, responsável pelo Ecovates – setor encarregado desde a coleta até destinação final dos resíduos sólidos.

Schäfer observa que sistema praticado no Ecovates contribui para um melhor índice de reciclagem. Não usa, por exemplo, caminhões compactadores, como no sistema público. A prensa rasga os sacos plásticos e pode sujar os materiais, inviabilizando a reciclagem. Em um dos espaços do Ecovates, a triagem é manual. Nos sacos azuis são armazenados papeis, plásticos e outros recicláveis. Nos pretos, rejeitos, como papel higiênico – só o rejeito é levado pela coleta pública.

Equipe: Joaquim Franke Amador, auxiliar de meio ambiente; Andriel Rodrigues, assistente de meio ambiente; e Gustavo Schäfer, engenheiro ambiental

Os resíduos orgânicos dos restaurantes e bares do campus são recolhidos e levados pela empresa Folhito, de Estrela. O volume é utilizado na produção de adubo.

Educação

A adesão ao descarte correto é outro fator importante. Para o assistente de meio ambiente do Ecovates, Andriel Rodrigues, o ambiente  do campus favorece. “As pessoas chegam na Univates, veem tudo limpo e organizado, acabam entrando no embalo e fazendo a coisa certa.” Schäfer completa: “Nós oferecemos a possibilidade de descartar no lugar certo, inclusive os coletores são intuitivos, os rótulos têm a informação por escrito e também em imagens.”

Clientes internos e externos

A Univates, por manter laboratórios, ambientes de saúde e de pesquisa, precisa fazer a destinação ambientalmente correta de cada tipo de resíduo. Entre as opções estão a reciclagem, descontaminação, compostagem, recuperação energética, incineração e coprocessamento.

Um exemplo são as lâmpadas, porque a logística reversa – devolver ao comércio ou ao fabricante – ainda não  funciona como prevê a lei.

Neste caso, o Ecovates faz a descontaminação, separa as peças conforme os materiais, entre eles vidro, alumínio e latão, encaminha o que for possível reciclagem e dá o tratamento adequado aos contaminantes.

Da mesma forma, atende empresas de diferentes segmentos com o intuito de dar a destinação ambientalmente correta a cada tipo de resíduo.

Gestão de resíduos e educação ambiental são foco de startup

Bernardo, Aline e Luana estão à frente da startup, criada em 2021

A Recic foi criada em fevereiro de 2021 e está incubada no Parque Tecnológico da Univates. Atua diretamente nas cidades de Lajeado, Estrela e Teutônia, atende clientes pessoas física, jurídica e prefeituras. A missão da empresa é mudar a forma como as pessoas se  relacionam com o seu lixo. “Trabalhamos a sensibilização por meio de orientações de como devem ser separados os resíduos, somos responsáveis pela coleta e destinação final dos resíduos orgânicos e gerenciamos a coleta e destinação final dos demais resíduos”, afirma Luana Hermes, engenheira ambiental. Todos os eventos que a Recic faz a gestão de resíduos, o foco principal é evitar que  resíduos potencialmente recicláveis sejam levado ao aterro sanitário. “Além disso, prezamos pela educação ambiental e colaboração do público envolvido.”

Além de Luana, que é responsável pela área comercial e educadora ambiental, a Recic conta com Aline Hedlund, administradora, que cuida das coletas, marketing e administrativo, e Bernardo Purper, engenheiro mecânico, que atua nas áreas de coleta, sistema e orçamentos.

Na entrevista a seguir, Luana Hermes fala sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor desde 2010.

Entrevista

“Temos muito a evoluir para que a logística reversa aconteça”

A lei de política nacional de resíduos sólidos fala em cooperação entre diferentes esferas do poder público, setor empresarial e demais segmentos da sociedade. Na tua opinião, no Vale do Taquari e no Estado, esta corrente existe, funciona?

Luana – Em algumas cidades do Vale do taquari existem iniciativas que envolvem diferentes esferas, mas poucas comparadas a  quantidade de resíduos diferentes que geramos. Quando olhamos para o Estado, entendo que essa cooperação é muito precária, ela  acaba fluindo melhor apenas nas cidades da região metropolitana. Temos muito a evoluir para que essa cooperação, conforme a PNRS, aconteça de fato.

A legislação também prevê logística reversa – devolver aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes os produtos/embalagens para que descartem corretamente. Na prática, a logística reversa funciona?

– Na prática, conforme a legislação orienta e indica, não funciona. A grande maioria dos comércios não gostam de receber de volta os  produtos que necessitam de logística reversa. E não existe uma cadeia efetiva que envolva todos os atores responsáveis. Existem alguns programas de logística reversa para lâmpadas, pneus, eletrônicos, óleos lubrificantes, pilhas, baterias, porém tem falha na divulgação e na participação da comunidade em geral.

As ações especiais de entes públicos e seus parceiros para recolher pilhas, baterias e eletroeletrônicos são sua obrigação ou não?

– Conforme a política nacional de resíduos sólidos, todos têm seus deveres e obrigações para que os resíduos recebam o destino  adequado, ou seja, o ente público também tem a obrigação de promover momentos de reflexão e sensibilização para resíduos especiais, nesse caso usamos o termo ‘responsabilidade compartilhada’. O ente público quando organiza estes eventos ou espaços,c omo, por  exemplo, os ecopontos, disponibiliza um momento de cooperação entre os setores privados, entidades e comunidade, facilitando o  descarte adequado destes resíduos que têm alto potencial de poluição e contaminação do solo, água e ar. Ao promover estas ações e   disponibilizar espaços colaborativos, o ente público busca sensibilizar e conscientizar a comunidade para o cuidado com o descarte irregular de tais resíduos.

Em paralelo à Política Nacional de Resíduos Sólidos, temos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Como você vê a  implantação de ações que vão ao encontro dos ODSs que tratam das questões ambientais?

– Atualmente, estão mais presentes nas falas e eventos, porém ainda temos muito para evoluir no quesito de implantação efetiva das metas e objetivos dos ODS. As ações que envolvem impacto social, ambiental e econômico de alguma forma atendem algum ODS, mas nem sempre são divulgados e abordados de forma que a comunidade identifique e saiba. Quando analisamos as nossas cidades do Vale do Taquari, seria interessante que elas usassem os ODS como guia básico para o desenvolvimento, e utilizassem as ferramentas que ficam disponíveis para alcançar o índice de atingimento de metas para cada cidade.


Conceito

A gestão de resíduos sólidos é formada por um conjunto de procedimentos, planejamento, implementação e gerenciamento. Pensando na separação, coleta, armazenamento, transporte e disposição final adequada para cada tipo de resíduo gerado, visando o  reaproveitamento/reciclagem e a redução da produção de lixo (mistura).

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