As linhas que interligam o RS a Santa Catarina estão danificadas desde a grande inundação de maio. Na logística, o principal prejuízo está no transporte de cargas, em especial metais e combustíveis. Junto com isso, todos os passeios turísticos e culturais pelos trechos históricos também foram suspensos.
Um grupo de trabalho formado por equipes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), governo do RS e da Rumo Logística, estuda as condições da malha gaúcha.
Na semana passada, um relatório prévio foi apresentado ao vice-governador, Gabriel Souza. A expectativa, diz, era ter acesso aos pontos com prejuízos mais graves e alguma alternativa para a recuperação.
Pelo diagnóstico, são pelo menos 700 quilômetros de trilhos com necessidade de reforma. Seria necessário um investimento entre R$ 3 bi até R$ 4 bilhões para retomar o transporte. Como a concessão com a Rumo está no fim, o prazo encerra em 2027, há um entendimento de que seria necessário aporte financeiro do governo federal.
Anos de descaso
São mais de 3 mil quilômetros de rodovias que interligam o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul aos estados do centro-oeste do país. Antes de maio, menos da metade da malha tinha transporte regular por locomotivas.
Nas três décadas de concessão, não houve investimento para modernização dos ramais. Com trilhos antigos e sem manutenção, locomotivas antigas e mais lentas, tornaram a opção pelo modal pouco atrativa.
Junto com isso, a Rumo também ofertava poucos itinerários. Sem periodicidade e prazos de entrega com pouca previsão, a malha gaúcha se tornou uma das mais ociosas do país.
Novo traçado
Diante do alto investimento na recuperação, o grupo de trabalho avalia mudanças no mapa ferroviário. Faz pelo menos dez anos que um novo traçado do projeto Ferrovia Norte-Sul foi proposto pelo governo federal.
A ideia seria usar parte deste estudo, de Lages (SC) até Passo Fundo. O trilho teria um tamanho maior do que a tradicional (a bitola da malha gaúcha é de 1 metro. Tamanho incapaz de receber trens mais modernos e velozes). A estratégia é fazer com que as produções de grãos vindas do Centro-Oeste possam ser trazidas para esse novo ramal.
O diretor de Infraestrutura Logística da Câmara da Indústria e Comércio da região (CIC-VT), o empresário do ramo logístico, Diego Tomasi, acredita que essa é uma alternativa viável para tornar o transporte mais racional. “Hoje os caminhões precisam ir até os estados do centro do país. Caso houvesse essa alternativa, se reduziria o custo e a distância para distribuição de grãos às regiões produtoras.”
Regiões turísticas
O governo federal abre a possibilidade de abrir crédito extraordinário no Orçamento Geral da União, a fim de fazer um aporte público para que sejam iniciados reparos nos quilômetros atingidos.
De acordo com o secretário da Reconstrução, Maneco Hassen, neste momento a preocupação é para melhorias pontuais em regiões turísticas, como a Serra e o Vale do Taquari.
“Esse é um assunto relevante e que precisamos atuar. No momento, tivemos uma participação mais direcionada para o amparo das famílias, municípios, produtores rurais e empresas. Mas, nossa estratégia é direcionar esforços também para a questão ferroviária.”
O presidente da Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), Charles Rossner, destaca não haver comunicação com a Rumo Logística. “Não queremos cobrar qualquer melhoria para este ano. Apenas ver se há alguma perspectiva e como podemos ajudar.”
Na temporada de 2023, o Trem dos Vales fez 63 passeios, com 32,3 mil turistas. O trecho de 46 quilômetros, entre Guaporé e Muçum, tem 23 túneis e 15 viadutos.
Três pedidos do Vale
Participar dos debates sobre o futuro da ferrovia, incluir na nova concessão a exploração turística e cultural de trechos históricos, além de contribuir no projeto de reforma no trecho de 46 quilômetros do Trem dos Vales.
Esses três pedidos fazem parte da estratégia regional e serão apresentados em reuniões marcadas para a próxima semana em Brasília. O coordenador do projeto, Rafael Fontana, acompanhado de integrantes da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) terão uma série de compromissos.
Os encontros foram articulados pelo secretário Nacional da Reconstrução, Maneco Hassen. Estão na agenda encontros com a Secretaria de Gestão do Patrimônio da União, com a superintendência de Transporte Ferroviário e com a Secretária Nacional de Ferrovias.
“Queremos discutir como será o processo das novas concessões, porque do jeito que está, ficamos à mercê da concessionária, como se fosse um favor. A concessionária não dá o valor adequado para o uso turístico da ferrovia”, avalia Fontana.
De acordo com o coordenador do Trem dos Vales, a pessoa chave em Brasília é o secretário Nacional das Ferrovias, Leonardo Ribeiro. “Por ele passa todo o trabalho que vem sendo feito para análise da situação da malha gaúcha. Queremos apresentar nosso trecho, entre Guaporé a Muçum, porque temos um levantamento prévio que mostra que boa parte está intacta.”
Números do Trem dos Vales
- 2019 – 1ª edição
5 mil bilhetes vendidos
Oito passeios - 2020 – 2ª edição
8 mil bilhetes vendidos
34 passeios - 2021 – 3ª edição
31 mil bilhetes vendidos
54 passeios - 2022 – 4ª edição
35,8 mil bilhetes vendidos
60 passeios - 2023 – 5ª edição
32,3 mil passageiros
63 passeios
Total 112,1 mil passageiros
Diagnóstico do trecho turístico
RAIO-X DA MALHA GAÚCHA
- Vacaria até Roca Sales
Ramal é a única ligação com Santa Catarina. Maior uso é para transporte de etanol produzido em São Paulo. Trecho muito degradado. Deslizamentos destruíram a ferrovia em diversos pontos. - Roca Sales a Garibaldi
Trecho sem condições de uso. Muitos deslizamentos. Perda da base dos trilhos. Tudo terá de ser refeito. - Roca Sales a Canoas
Uma reforma foi feita e uma viagem teste ocorreu faz cerca de 45 dias. - Canoas a Santa Maria
Trecho muito usado para levar combustíveis produzidos na Refap para o centro e o Norte gaúcho. Três pontes caíram. Não há condições de uso. - Cruz Alta a Santa Maria
Trecho em condições de uso. - Santa Maria ao Porto de Rio Grande
Ligação do centro ao sul do RS não teve prejuízos. Estimativa é que possa ser usado o ramal de Cruz Alta até o porto para exportação de grãos.