“É melhor correr para onde as  pessoas não estão olhando”

ABRE ASPAS

“É melhor correr para onde as pessoas não estão olhando”

Coordenadora da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) no estado, e voluntária há sete anos, Verônica Erthal esteve entre os agentes que atuaram nas enchentes de setembro de 2023 e maio deste ano no Vale do Taquari. A moradora de Lajeado destaca a importância de reconhecer o papel de cada agente em uma crise, e se fazer presente nos locais que mais precisam

“É melhor correr para onde as  pessoas não estão olhando”

Como a organização Médicos Sem Fronteiras se define?

É uma organização médica humanitária que leva saúde para a população de comunidades em situação de crise. Nosso objetivo é chamar a atenção do público para as crises humanitárias. Nossos valores se baseiam nos princípios de independência sobre como vamos agir, e na imparcialidade. Vamos cuidar de quem precisa de cuidado. Todos têm que ter o mesmo atendimento. Não somos formados só por médicos. Há profissionais de várias áreas não relacionadas à saúde também.

Como vocês lidam com as estratégias de ação em um desastre?

Há uma formação, uma preparação para um desastre. Eu trabalho nisso desde 2017. A preparação prévia é fundamental. Quem trabalha na resposta, como a gente, sabe que é melhor correr para onde as pessoas não estão olhando. Não existe uma receita pronta. O que a gente precisa é se preparar. Colocar a sociedade civil, os governantes para sentarem juntos. Adiciono a educação, o setor privado. Precisamos nos reconhecer enquanto grupos organizacionais. E penso também que a estratégia que se monta para a população deve ser pensada para os trabalhadores de linha de frente, como bombeiros, defesa civil, assistência social, médicos, psicólogos. É preciso respirar, pegar fôlego e voltar. Essa pausa é fundamental para as pessoas que estão ali na tomada de decisão agirem de forma rápida, eficiente e precisa.

Como manter o cuidado com os agentes na linha de frente de um desastre?

É importante que os trabalhadores saibam quem acionar, tenham os contatos de emergência, e tenham bem estabelecido qual a sua responsabilidade naquele lugar. Também é importante saber quais são os nossos limites. Para as equipes, é essencial identificar, por exemplo, se o líder está com a casa debaixo da água, com a família para todos os lados pedindo ajuda, será que ele pode assumir essa liderança?. Esses combinados em equipe antes fazem diferença. Uma pessoa é responsável pela saúde da outra. Devemos perguntar: ‘Você almoçou hoje? Dormiu? Foi ao banheiro? São coisas básicas. Precisamos estar bem para poder ajudar.

Como montar um plano de ação nesse sentido?

O plano é importante para a prevenção, mas precisa de uma estratégia de cuidado, de quais componentes vão entrar em ação, na sequência correta. A receita do bolo pode conter vários elementos e a gente reconhecer quais são os nossos atores é fundamental. Mas existe uma ordem para acontecer. O médico não entra antes do bombeiro. A gente reconhece quem são os atores, essa é a primeira etapa, ter os papéis definidos. Se todo mundo fizer tudo igual, não teremos uma resposta efetiva. Quanto mais rápida nossa resposta, isso significa que fizemos bem feita a nossa preparação.

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