A Rumo Logística, concessionária das ferrovias, esqueceu o Rio Grande do Sul. Foram anos de afastamento. Como argumento, apresentavam a falta de interesse das empresas em usar os trilhos para transporte de cargas. Pela operação não ser rentável, os investimentos minguaram, com reflexos sobre a conservação dos ramais.
Com a inundação de maio, o que era ruim ficou pior. Pelo relatório prévio do grupo técnico formado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Secretaria Nacional das Ferrovias e a própria empresa, são pelo menos 700 quilômetros destruídos, um prejuízo estimado de até R$ 4 bilhões.
A concessão termina em 2027. Pelo contrato, a Rumo teria de entregar a ferrovia da forma com que assumiu. No entanto, ninguém contava com uma tragédia de proporções bíblicas. A Rumo já havia antecipado que não pretendia renovar a concessão do eixo-sul.
Pelas condições atuais, quem assumiria? Pergunta retórica, pois nenhuma empresa assumiria um risco deste tamanho. Agora, a tão criticada Rumo é a parceria que todos querem. Tanto que o governo federal pretende contribuir. Destinar recursos para repensar a malha ferroviária gaúcha. O futuro do modal, seja como atração turística ou mesmo opção logística, é incerto.
O que se sabe é que, sem uma intervenção efetiva e coordenada entre a concessionária, o governo federal e outras partes interessadas, o RS corre o risco de continuar no abandono, desperdiçando um modelo de transporte que poderia ser estratégico para o desenvolvimento econômico.
Oportunidade com o ministro
O setor da construção civil é um dos pilares da economia regional. Ele envolve mais de 90 segmentos produtivos. Vai da olaria, cerâmica, incorporadoras e tantas outras. O fato é que algumas dessas empresas têm sede (CNPJ registrado) fora da área de inun-dação. No entanto, parques de máquinas, pontos de trabalho e canteiros de obras estavam dentro da mancha.
Com a presença do ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta, durante o Seminário Pensar o Vale, o presidente do Sinduscom-VT, Jairo Valandro, e empresários do setor se reuniram a portas fechadas para pedir uma revisão na norma sobre acesso a créditos com subvenção de dinheiro público.
Na mesma esteira estão transportadoras, pois há escritórios que não foram atingidos, mas caminhões que ficaram parados devido aos bloqueios nas estradas.
O ministro assumiu o compromisso de levar a demanda para a equipe federal e articular uma alternativa para as empresas da região.
O povo quer menos conversa e mais resultado
As inundações de setembro, novembro e maio trouxeram novas exigências sobre prevenção, monitoramento, socorro e restabelecimento das comunidades. A região tem hoje, talvez pela primeira vez na história do país, refugiados climáticos. No Vale do Taquari, mais de dez mil pessoas foram atingidas. Pelo menos cinco mil moradias foram destruídas. O processo de aprendizado, de melhoria e mudança depende de ações estratégicas de de debate e participação coletiva.
No Seminário Pensar o Vale Pós- -Inundações, a primeira entrega, com o Educame, é um passo voltado à mudança cultural. De dotar a sociedade de resiliência. Mas quem está nos abrigos tem pressa.
Por mais que todo processo de reestruturação dos bairros, das residências, seja feito de maneira mais rápida já vista no país, ainda é pouco para quem espera. Por isso, é compreensível que a cobrança das populações vulneráveis seja dotada de um senso de urgência.