O turismo regional precisa se unir pelo Trem dos Vales

Opinião

Fábio Alex Kuhn

Fábio Alex Kuhn

Jornalista

Colunista sobre turismo.

O turismo regional precisa se unir pelo Trem dos Vales

Uma lacuna temporal superior a 50 anos separa as duas imagens que estampam essa coluna. A primeira mostra a construção do imponente Viaduto 13, inaugurado como orgulho da Engenharia Militar Brasileira em 1978. Registrada em agosto de 2024, a segunda evidencia a destruição no ponto da Ferrovia do Trigo conhecido como Garganta do Diabo.

O que as duas fotografias têm em comum? O trabalho herculano que foi/será necessário para um trem passar novamente entre os morros do Vale do Taquari.

Os estragos causados pela catástrofe natural de maio na malha ferroviária são realmente impressionantes. Quilômetros de desbarrancamentos, galerias pluviais arrancadas deixando trilhos suspensos no ar, túneis parcialmente submersos pela água. Recuperá-la não será tarefa fácil, tão menos barata.

Porém quando analiso que na década de 70, com muito menos tecnologia, foi possível construir um viaduto de 143 metros de altura e 509 de comprimento, os desafios da reconstrução parecem tão menores. Será que regredimos?

O fator Trem dos Vales

É evidente que o modal férreo não deslanchou no Brasil e um investimento milionário na reestruturação da Ferrovia do Trigo pode parecer desperdício de dinheiro para alguns. Mas entre as estações de Muçum e Guaporé temos que levar em conta o fator Trem dos Vales que agrega uma importância aos trilhos para além da logística.

Em cinco temporadas, o passeio turístico movimentou mais de 110 mil passageiros. São pessoas que vieram até o Vale e deixaram dinheiro em destinos como a Casa Brandão, de Muçum, restaurante duramente atingido pela enchente de maio que tinha suas épocas de vacas gordas na temporada do trem de turismo.

Até o Paradouro Rosinha de Paverama, localizado a 80 quilômetros da ferrovia, registrava aumento na parada de ônibus com turistas que se deslocavam da capital especialmente para conhecer a Ferrovia do Trigo no conforto dos vagões.

O impacto positivo do Trem dos Vales no trade turístico é indiscutível e impacta centenas de empreendimentos. Se o tour pelos trilhos fosse permanente, a expectativa é de gerar um incremento de R$ 48 milhões na economia regional por ano. Pensar o turismo regional sem o Trem dos Vales é a mesma coisa de pensar em um jogador de futebol sem uma perna.

Por que o Trem dos Vales é único?

O passeio de 48 quilômetros na estrada de ferro do Vale do Taquari é diferente de qualquer outro. Nesse trajeto, o turista se depara com estruturas impressionantes como o já citado Viaduto 13 – o maior da América e com fama internacional.

E quem não se encanta quando o trem passa pelos trilhos vazados do Viaduto Pesseguinho ou Mula Preta, dando a impressão que a locomotiva está flutuando no ar. Até aqui nem falamos dos incontáveis cartões-postais que encontramos com a ferrovia margeando o rio Guaporé.

É o passeio mais bonito do Brasil. Quem me afirmou isso foi o Marlon Ilg, presidente da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), com propriedade no tema por conhecer todos os caminhos férreos do país.

O futuro da ferrovia

Passados quatro meses da catástrofe climática, o futuro da Ferrovia do Trigo ainda está indefinido. A falta de respostas já mobiliza autoridades locais. Até o Ministério Público Federal (MPF) foi acionado pelo promotor de justiça Sério Diefenbach com um documento que mostra o impacto causado com a paralisação dos passeios turísticos na economia local.

Quem é responsável pela manutenção da malha ferroviária gaúcha é a Rumo Logística, empresa que detém a concessão até fevereiro de 2027. A concessionária deve apresentar nesta segunda-feira, 2 de setembro, um diagnóstico da situação das ferrovias gaúchas ao governo do estado.

Numa reunião da Amturvales, o coordenador do Trem dos Vales, Rafael Fontana, falou que todos somos agentes políticos capazes de, a nossa maneira, cobrar as autoridades por demandas necessárias à região.

Complemento o que ele disse afirmando que qualquer pessoa que tem ou sonha em ter um empreendimento turístico, ou simplesmente é entusiasta do setor, deve ser um defensor ativo da retomada dos passeios na Ferrovia do Trigo. O turismo regional precisa se unir pelo Trem dos Vales.

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