Vale no epicentro das mudanças climáticas

DOCUMENTO A HORA

Vale no epicentro das mudanças climáticas

Seminário no Colégio Teutônia debate formas de mitigar prejuízos na produção rural diante da incidência de episódios adversos

Vale no epicentro das mudanças climáticas
Crédito: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

A comunidade científica alerta para os impactos do aquecimento global sobre o clima. Fenômenos naturais, como o La Niña e o El Niño, se tornam mais frequentes e extremos.

Especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) alertam que o sul do continente americano é um corredor das mudanças climáticas. Em especial o Rio Grande do Sul. Pelas características geológicas, o Vale do Taquari se torna o maior corredor para escoamento de água da chuva do planato e norte gaúcho.

Pelo relatório apresentado pela Organização Meteorológica Mundial (OMN – uma das agências científicas dentro da ONU), a última década bateu recordes de calor em todos os anos.

Pelo documento da OMN, episódios extremos, como tempestades, secas e inundações, se tornam mais frequentes.
No Vale do Taquari, sinais deste alerta global ficaram mais evidentes a partir de 2019. Desde lá, foram pelo menos duas safras frustradas devido a secas. No segundo semestre do ano passado e neste 2024, três grandes inundações.

A Emater/Ascar-RS avalia que serão precisos pelo menos 40 mil laudos de perdas para garantir o seguro agrícola aos agricultores familiares da região. Estimativa do Conselho de Desenvolvimento Regional (Codevat) aponta para pelo menos 45% de áreas produtivas degradadas após os episódios de setembro, novembro e maio.

De maneira a ampliar o conhecimento sobre fenômenos climáticos e como eles interferem na produção rural, o Grupo A Hora e o Colégio Teutônia promoveram na quarta-feira o Seminário Pensar o Vale – Os abalos ambientais e o impacto no campo.

A programação teve dois turnos de atividades. Pela manhã, a discussão foi voltada para as condições da porteira para fora. No painel principal da tarde, a temática foi o inverso, voltada às técnicas de manejo nas propriedades, para preservar nutrientes no solo, aumentar produtividade e o bem-estar das criações.

O Seminário Pensar o Vale – Os abalos ambientais e o impacto no campo – foi promovido pelo Grupo A Hora e pelo Colégio Teutônia, com o apoio de Emater/Ascar-RS e Câmara da Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), com patrocínio de Reinigend Química do Brasil e da Cooperativa de Crédito Sicredi Ouro Branco.

SECAS

No RS e no Vale do Taquari
O fenômeno La Niña trouxe mudanças nos ciclos de chuva no sul do continente americano. De 2019 até 2022 foram duas secas históricas.

Iniciada em novembro de 2019 se consolida como uma das mais severas desde a safra 2011\2012.

Conforme levantamento da Emater/Ascar-RS, dos 36 municípios dentro da área de cobertura da regional de Lajeado, 26 contabilizam perdas nas lavouras, redução no nível dos cursos de água e fontes secas. Até o abastecimento
para o consumo humano ficou em risco.

Em termos gerais, a queda média tabulada em relação à soja foi de 26% e o milho está em 29%.

A estiagem atingiu 70% do território gaúcho, afetando 350 municípios

Conforme a Defesa Civil, foram 172 municípios gaúchos que ingressaram com pedido de situação de emergência devido à estiagem.

 

Lavoura 2021/22

Conforme a Emater, a safra 2021/22, teve mais de 70% de perda na cultura de milho. Com o quadro de escassez hídrica, oito cidades da região decretaram emergência.

Também há registro de desabastecimento para propriedades rurais em pelo menos 16 cidades do Vale do Taquari.

No RS, 76 municípios decretaram situação de emergência devido à seca.

Além disso, 13 municípios foram incluídos no decreto de calamidade pública

A seca causou prejuízos significativos ao campo, com perdas estimadas em mais de R$ 33 bilhões

A produção de milho sofreu uma redução de 59,2%

A produção de soja caiu 24%
A produção de arroz teve uma redução de 7% a 10%

No leite, redução de cerca de 18% no número de produtores de leite vinculados à indústria de 2021 (40.182 produtores) para 2023 (33.019 produtores). Comparado a 2015, houve uma redução de 60,78%

 

Prejuízos

A seca causou um prejuízo estimado de mais de R$ 36 bilhões para a economia do RS

As lavouras de soja foram as mais afetadas, com perdas estimadas em 7,2 milhões de toneladas

As lavouras de milho sofreram uma perda de 131,6 mil toneladas

A falta de chuvas prejudicou a qualidade das pastagens e aumentou os gastos com a ração para criações, em especial na pecuária de leite e de corte

 

Economia

O PIB do RS teve uma queda de 7% a 7,2% em 2020. O valor do PIB alcançou foi de R$ 470,9 bilhões. O PIB per capita foi
de R$ 41.227,61

A participação do Rio Grande do Sul no PIB do país caiu de 6,5% em 2019 para 6,2% em 2020

A agropecuária, a indústria e os serviços apresentaram variações negativas, com destaque para as retrações de 29,6% da agropecuária, 5,8% na indústria e 4,8% nos serviços

O resultado de 2020 foi uma consequência de 2019. No período de estiagem, quando das 497 cidades gaúchas, 400 ingressaram em situação de emergência pela falta de chuva.

 

Extremos no Vale

Setembro, novembro e maio, o Vale do Taquari viveu inundações históricas, com as maiores marcas em 150 anos.

Nos rios que compõem a bacia hidrográfica do Rio Taquari, o Carreiro, Antas e o Guaporé, a chuva diária passou de 150 milímetros em dois, três ou quatro dias seguidos.

O motivo para os fenômenos seguem um mesmo padrão. Zona estacionária de baixa pressão, com o acúmulo de umidade vinda do norte, em especial da Amazônia, e uma frente fria da fronteira do Uruguai e Argentina.

As duas massas se chocaram e pararam sobre a parte alta da bacia. Nas duas grandes inundações (setembro e maio) foram mais de 100 mortes.

Estima-se que os prejuízos foram de R$ 15 bilhões até R$ 20 bilhões, em setembro, e mais de R$ 40 bilhões em maio.

 

Detalhes da Bacia

Na bacia hidrográfica do Taquari/Antas, há 119 municípios. Em número de cidades, é a maior do país. Pelo limite das cidades, há diferentes regras para uso do solo e também com áreas habitadas dentro de terrenos alagáveis. Cenário que demonstra desconhecimento sobre como a expansão urbana é feita sem considerar conhecimento técnico regionalizado.

São 27 mil quilômetros de área de chuva, com interferência sobre a parte baixa do Vale

A bacia hidrográfica do Rio Taquari/Antas é uma das mais complexas do país. A maior em número de municípios no Brasil.

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