Tanto para propriedades rurais atingidas pela inundação, quanto para quem sofre com a falta de chuva, a receita para melhor produtividade depende do cuidado com o solo. No Seminário Pensar o Vale voltado ao agro, o encerramento contou com quatro apresentações e um painel.
A primeira atração foi com o técnico da Emater, Carlos Daniel Fries. Segundo ele, os agricultores devem observar as condições antes do plantio durante todo os períodos.
“Temos de fazer o trabalho ao longo de todo o tempo para ser eficiente na agricultura, fazer os manejos de proteção de solo, de proteção de fertilidade, para que absorva mais água nas cheias e mantenha a umidade nas secas.”
As observações de Fries se assemelham com a palestra do agricultor e consultor, Marcelino Meincke. Ele enfatizou que a análise biológica do solo é fundamental. “O solo é a maior riqueza da propriedade.”
Neste sentido, o uso de bioinsumos, como os remineralizadores, valorizam a biodiversidade, tanto na superfície quanto abaixo dela, afirmou.
Meincke também alertou para os riscos da monocultura e do uso excessivo de insumos químicos, que, segundo ele, comprometem a terra e tornam os agricultores cada vez mais dependentes de produtos externos.
Projeto para mitigar prejuízos
O biólogo e especialista em Gestão Ambiental, Adriano Ziger, apresentou o projeto de recuperação e mitigação de desastres provocados por eventos climáticos extremos na área rural de Bom Retiro do Sul.
A iniciativa prevê a identificação de áreas seguras para a criação de vilas rurais, com base na recuperação do solo e na adoção de melhores práticas de manejo. Ziger enfatizou a criação de um grupo de trabalho dedicado a gerenciar e enfrentar futuros eventos climáticos.
Os principais objetivos são de mitigar os riscos à vida humana e à vida animal, além de reduzir o impacto financeiro, tanto privado quanto público.
“Nunca fique isolado”, alerta capitão dos bombeiros
Em meio aos debates técnicos, o capitão do Corpo de Bombeiros, Thalys Rian Stobbe, detalhou o trabalho da corporação durante a catástrofe de maio. “Mesmo que tivéssemos seis mil homens no socorro, teríamos dificuldades. Não conseguiríamos atender todos os pedidos”, lamentou.
Ele lembrou o caso de Venâncio Aires, onde os bombeiros foram de casa em casa em Vila Mariante pedir para que os moradores saíssem devido ao rio. “Ninguém acreditou, pois a água nunca havia chegado.”
Poucas horas depois, ficou tarde demais. Quando a água começou a subir, cerca de 200 pessoas ligaram ao mesmo tempo para pedir salvamento. “Já não havia como resgatar todos”, admitiu.
Stobbe finalizou com um apelo: “Pensem no valor da vida. Nunca fiquem isolados. Em situações de risco, a segurança da família deve vir em primeiro lugar.”
Sustentabilidade
como oportunidade
“Hoje, os produtos do campo podem carregar o selo carbono zero. Esse é um nicho de mercado em evolução”, destacou o engenheiro agrônomo, assistente técnico regional da Emater, Alano Tonin. No painel da Porteira para Dentro, ele esmiuçou o Plano ABC+ RS.
A série de técnicas visa usar a agricultura e a produção rural como captadores de gás carbônico, um dos vilões do aquecimento global. De acordo com ele, existe uma série de medidas, que vão desde a sensibilização dos agricultores, passando pela recuperação de pastagens degradadas, o uso de plantio direto e o tratamento de dejetos animais, até chegar ao sistema integrado de lavoura, pecuária e floresta.
Valor da informação
No segundo painel, o agrometeorologista, estatístico e professor universitário aposentado, Marcelino Hoppe, frisou que o padrão climático do RS ao longo das últimas décadas tem três anos de seca, três de chuvas normais, e três com volumes acima da média.
“O problema é prever essa situação. Se a gente tivesse uma situação mais assertiva na previsão, a escolha da data de semeadura poderia ajudar muito.”
Hoppe sugeriu que os agricultores devem seguir de perto as previsões meteorológicas de médio e longo prazo para ajustar suas práticas. “O agricultor deve acompanhar as previsões e, se possível, antecipar ou postergar a semeadura para evitar que a cultura passe por condições adversas na fase de floração ou enchimento de grãos.”