Nos anos 2.000 fui convidado por região do ABC paulista para expor o Programa de organização da cadeia leiteira, em estruturação aqui. Buscavam alternativas para sua recuperação, frente ao retrocesso havido com o fechamento de montadoras de veículos e seus clusters. Outro exemplo de declínio regional, a metade Sul do Estado. De uma prosperidade ímpar, passou para a estagnação da economia e a desatualização logística, o que busca recuperar, tenazmente, nos últimos 30 anos.
Nosso Vale do Taquari, de um ciclo econômico-social ascendente, viu-se atirado, em menos de um ano, numa desestruturação jamais vista no país, devastado e submetido a lock down logístico por duas cheias inéditas, com dezenas de milhares de empreendimentos e moradias perdidos. E estes, resultado da poupança e de esforços de uma vida inteira das pessoas. Acresça-se a desvalorização imobiliária decorrente.
Se nada for feito, veremos aumentar a queda da produtividade, perda de competitividade, empobrecimento, evasão de pessoas, de talentos e de empresas. Isto, por si só, travará nosso desenvolvimento, gerando crise de superação dolorida, difícil, trabalhosa e de longo prazo.
O pior momento ainda não chegou. Vivemos, ainda, da gordura financeira, das poupanças, da bondade alheia e de parcos recursos oficiais. Contudo, quando a esperança e a resiliência acabarem, o caos poderá se instalar.
Também pudera. Quase nada foi feito até agora, principalmente pelo Governo Federal, já que o Estadual e os Municípios dependem dos repasses federais. Vimos, até aqui, a hilariante prorrogação de impostos só por dois meses, ajuda financeira insuficiente e ao alcance de poucos, pela forma como operada, política de recomposição habitacional míope e, uma recuperação logística lenta, sem perspectivas imediatas.
Deveriam ter trazido o poder decisório e de controle federais e estaduais para cá, flexibilizado a legislação, gerado rotinas operacionais, de controle e de penalização sumários, subtraindo a burocracia, e disponibilizado o dinheiro necessário. Também, ouvir as pessoas e entidades, que não sabem a quem se dirigir, andando em círculos, tal qual piorras.
Espera-se, de parte das autoridades, mormente as federais, sensibilidade para recompor o material, o emocional e a dignidade das pessoas, essencial à não deterioração do Vale do Taquari (e do RS).
Para tanto, vital mudarmos nossa postura, onde faltam: indignação diante da insensibilidade oficial; coragem para lutarmos pela concretização das medidas indispensáveis e na urgência necessária, independente do partido político a que pertencemos; organização regional para formarmos bloco monolítico irresistível que torne vitoriosa nossa indispensável luta.