Das mais de 60 escolas de Ensino Médio da rede estadual em 38 municípios da região, 29 tiveram avaliação do Índice Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Apenas duas alcançaram a meta estipulada pelo Ministério da Educação, de 5,3 pontos.
Os dados foram divulgados nesta semana pelo Instituto Nacional de Pesquisas Aplicadas (Inep). Monsenhor Seger, de Travesseiro, ficou com a melhor avaliação, com 5,6 pontos. Em seguida, o colégio de Westfália, com 5,5.
O Ideb é calculado a partir de rendimento escolar, níveis de aprovação e médias de desempenho nos exames padronizados aplicados pelo instituto nacional. Os resultados apresentados neste ano foram tabulados em 2023.
A pesquisa avalia uma escala de zero a dez. A série de resultados iniciou em 2005, quando foram estabelecidas as metas bienais de qualidade para o país, estados, municípios e escolas.
Em termos de país, houve melhoras pontuais, nos anos iniciais do Fundamental. Nos anos finais e no Ensino Médio, a maioria das instituições de ensino não alcançaram as metas. O desempenho do RS se manteve na 11ª posição na comparação com os outros estados. No Ensino Médio, a média gaúcha foi de 4,2 pontos. Um pouco abaixo da nota nacional, que ficou em 4,3.
Equipe coesa e participativa
A escola Monsenhor Seger repete desempenhos de destaque desde 2017. “Estamos muito felizes. A avaliação é fruto de um trabalho conjunto”, ressalta a diretora, Sandra Herrmann Haas.
Para ela, a estratégia da gestão escolar é garantir o bem-estar dos professores. “Nosso objetivo é fazer com que os professores se sintam participantes dos processos e acolhidos. Quando eles estão bem, isso se reflete na sala de aula.”
Neste sentido, destaca a atuação de todos. Ao lado do vice-diretor, João Carlos Siebert, ressalta a continuidade do corpo docente. O Ensino Médio na escola começou faz cerca de duas décadas. “Eu estou aqui desde 2005. Neste tempo, tivemos poucas mudanças no quadro de professores.”
Essa situação, acredita Sandra, representa um conhecimento e proximidade entre equipe do colégio e comunidade. “Temos professores que deram aula para o pai, para a mãe, e hoje estão com os filhos. Eles conhecem a trajetória de toda a família. Isso cria laços e um olhar atento da equipe sobre os processos de ensino.”
A diretora também destaca a relação próxima com a comunidade. “Tentamos sempre trazer a família. Mantemos reuniões constantes. Além disso, a escola recebe a comunidade para eventos públicos”. A escola Monsenhor Seger tem 105 alunos e uma equipe com 15 servidores.
Como é feito o Ideb?
Taxa de aprovação/fluxo escolar (a porcentagem de alunos que não repetiram de ano em uma escola ou rede de ensino e a evasão); Notas do exame nacional em Português e Matemática;
O que significa na prática?
Alunos do 3º ano do Ensino Mèdio estão no nível 2 em Matemática e no 3 em Português. Com isso:
Matemática
- Reconhecem os zeros de uma função e associam gráficos aos percentuais:
- Não conseguem determinar a sequência lógica em números (como em 2, 6, 10, 14, 18, 22…)
- Não sabem calcular o reajuste após aplicar percentual de aumento;
Português
- Reconhecem variantes linguísticas em artigos e localizam informações em artigos de opinião;
- Não identificam argumentos em contos e não reconhecem humor ou ironia em crônicas;
- Não entendem o sentido principal de uma notícia;
Contexto geral
- No país
Ensino Fundamental (anos iniciais)
Meta atingida
O Ideb foi de 6 pontos. Aumento em relação a 2021 (quanto a nota foi 5,8). - Anos finais
Abaixo da meta
A nota foi de 5 e o objetivo era alcançar 5,5 pontos.
O desempenho caiu em relação ao Ideb anterior. Em 2021, foi de 5,1 pontos. - Ensino Médio
Abaixo da meta
A pontuação esperada era de 5,2
Média geral das escolas ficou em 4,3. Aumento de 0,1 na comparação com 2021.
Notas das escolas públicas do Vale
1º Monsenhor Seger (Travesseiro): 5,6
2º EEEM Westfália (Westfália): 5,5
Meta nacional: 5,3 pontos
3º EEEM Estrela (Estrela): 5,2
Poncho Verde (Mato Leitão): 5,2
4º EEEM Paverama (Paverama): 5,1
5º Hugo Oscar Spohr (Canudos do Vale): 5
EEEM Colinas (Colinas): 5
6º Donato Caumo (Coqueiro Baixo): 4,8
Colégio Est Vicente de Carvalho (Dois Lajeados): 4,8
José Plácido de Castro (Relvado): 4,8
7º 25 de Maio (Imigrante): 4,7
Padre Domênico Carlino (Putinga): 4,7
EEEM Santa Clara (Santa Clara do Sul): 4,7
Gomes Freire de Andrade (Teutônia): 4,7
8º Érico Veríssimo (Lajeado): 4,6
Pedro Albino Müller (Sério): 4,6
EEEM Pedro Rosa (Tabaí): 4,6
Pereira Coruja (Taquari): 4,6
9º EEEM Capitão (Capitão): 4,5
EEEM Poço das Antas (Poço das Antas): 4,5
Média nacional: 4,4 pontos
10º São Carlos (Anta Gorda): 4,4
Jacob Arnt (Bom Retiro do Sul): 4,4
EEEM Vespasiano Corrêa (Vespasiano Corrêa): 4,4
Média estadual: 4,4 pontos
11º EEEM Forquetinha (Forquetinha): 4,2
EEEM Dr. Ricardo (Doutor Ricardo): 4,2
12º Nicolau Müssnich (Estrela): 4,1
13º João de Deus (Cruzeiro do Sul): 3,8
14º Vidal de Negreiros (Estrela): 3,7
15º EEEM Fazenda Vilanova (Fazenda Vilanova): 3,2
Sem nota
Guararapes (Arroio do Meio); Felipe Roman Ros (Arvorezinha); Eugênio Franciosi (Boqueirão do Leão); São Miguel (Cruzeiro do Sul); Monsenhor Scalabrini (Encantado); Colégio Estadual Ilópolis (Ilópolis); IFSUL (Lajeado); Colégio Pres. Castelo Branco (Lajeado); Santo Antônio (Lajeado); Ana Neri (Marques de Souza); General Souza Doca (Muçum); EEEM Nova Bréscia (Nova Bréscia); EEEM Pouso Novo (Pouso Novo); São Francisco (Progresso); Padre Fernando (Roca Sales); Carlos Gomes (Tabaí); Barão de Antonina (Taquari); Barão de Ibicuí (Taquari); e, Reynaldo Affonso Augustin (Teutônia).
Venâncio Aires
Pertence ao Vale do Rio Pardo, por isso não integra o ranking regional
- Avaliação:
Sebastião Junqueira: 5,2
Mariante: 4,7
Monte das Tabocas: 4,2
Wolfram Metzler: 3,9 - Sem nota
Frida Reckziegel; Adelina
Isabela Konzen; Cônego
Albino Juchem; IFSUL;
e a EEEM Crescer.
Entrevista
Kári Forneck • doutora em Letras, professora da Univates
“O Ideb serve para sermos mais assertivos”
A Hora – Apenas 2 escolas da região atingiram a meta prevista pelo Ministério da Educação. O que que isso significa?
Kári Forneck – O IDEB pode ser entendido como um instrumento que representa uma fotografia das escolas de todo o país. Os resultados correspondem a dois dados importantes: o desempenho dos estudantes em provas de Língua Portuguesa e de Matemática e a taxa de aprovação de cada escola. Entram no cômputo de avaliação as escolas de todas as redes, sejam elas públicas ou privadas. O conjunto geral de dados é complexo e representa também a complexidade do país, dos estados e de cada município. De posse desses dados, é possível que o poder público avalie o desempenho das escolas e desenvolva ações de investimento específicas, sejam em termos de ensino para o desenvolvimento de diferentes aprendizagens, sejam em termos de políticas que evitem a reprovação e a evasão de estudantes. Importante destacar que o Brasil atingiu a meta dos Anos Iniciais, mas não atingiu a dos Anos Finais, nem a do Ensino Médio. Em termos de educação do Vale do Taquari, é necessário considerar as particularidades de cada região e estabelecer políticas públicas que deem conta de aprimorar os resultados, porque o dado isolado – de apenas uma escola, por exemplo – pode não representar a complexidade da região.
A Hora – No Ensino Médio, todas as escolas avaliadas são da rede estadual. Com um resultado ruim, o que a gestão pública deve fazer?
Kári – Importante dizer que não apenas escolas da rede estadual foram avaliadas. No país há escolas municipais, estaduais e federais de Ensino Médio, além de escolas privadas. No nosso estado, a maioria corresponde à rede estadual de educação. Os dados nacionais e também estaduais revelaram que temos dificuldades em manter o jovem na escola, pois há uma alta taxa de evasão escolar nessa etapa da escolarização. Se analisarmos os dados de modo amplo, veremos que o número de crianças que entra na Educação Infantil não é o mesmo que finaliza o Ensino Médio. Para se ter uma ideia, em termos nacionais, 600 mil jovens abandonaram o Ensino Médio só no último ano. E esse é um dado que deve acender o alerta de todos nós: jovem fora da escola é péssimo para o país como um todo. O desempenho do nosso estado, em particular, também nos faz atentar para a necessidade de um olhar cuidadoso tanto para os dados de evasão e reprovação, quanto para os dados do desempenho nas avaliações. Há que se considerar, por exemplo, a importância de políticas de valorização de professores e de atenção aos saberes abordados no Ensino Médio. Ou seja, de posse da fotografia das escolas, é possível sermos mais assertivos nas ações de qualificação da educação.
A Hora – E no micro, como as direções, as coordenações pedagógicas, os professores nas escolas devem acompanhar os resultados do Ideb?
Kári – A função do gestor escolar é abrir os microdados e avaliar as especificidades da escola. A secretaria de educação e a própria coordenadoria regional de educação podem, por exemplo, auxiliar escolas que tiveram desempenho mais baixo em algum indicador, no sentido de estabelecer ações assertivas para qualificar o que for necessário. Às direções escolares cabe, por outro lado, promover ações pedagógicas que foquem nas aprendizagens requeridas para a contemporaneidade: o que os jovens precisam saber atualmente? Esse tipo de reflexão coletiva pode resultar em projetos de ensino que foquem no desenvolvimento da leitura, da escrita, do raciocínio lógico e complexo, da criticidade, do pensamento científico, das habilidades humanísticas e artísticas, enfim, de tudo aquilo que permita que o jovem se sinta preparado diante do mundo complexo com o qual ele vai se deparar.