Ampliação no número de consultas nos postos. Esta é a principal demanda mencionada por moradores na área da saúde em Lajeado. Os 74% de menções refletem aquela que é uma reivindicação constante da comunidade, e que não vem de hoje. O crescimento populacional dos últimos anos reflete sobre o atendimento nas unidades.
A pesquisa do projeto “Lajeado – Um novo olhar sobre os Bairros” também evidencia a necessidade de qualificação no atendimento da Unidade Pronto Atendimento (UPA), que completou dez anos de atividades em 2024 – 61,1% dos entrevistados mencionaram esta demanda. Aumentar a disponibilidade de exames e cirurgias e qualificação da equipe de atendimento também são citadas.
Outro ponto que merece atenção é o pedido por novas unidades de atendimento, considerada prioridade para 29,3% dos entrevistados. Hoje, não são todos os bairros que dispõem de unidades de atendimento, o que é alvo de críticas das comunidades que precisam se deslocar para bairros vizinhos.
Lajeado hoje dispõe de centros de saúde nos bairros São Cristóvão, Montanha e Centro, além ESFs no Campestre, Conservas, Conventos, Jardim do Cedro, Moinhos, Montanha (1 e 2), Morro 25, Olarias (1 e 2), Santo André, Santo Antônio, São Bento, São José (Centro) e Novo Tempo (Santo Antônio). Há, ainda, a UBS Universitário (dentro da Univates).
Olhar estratégico
Um dos bairros que requer olhar atento à área da saúde é o Igrejinha. A unidade de saúde referência para a comunidade é a Estratégia de Saúde da Família (ESF) do bairro Olarias, que atende também o Centenário, Planalto e Imigrante. É um único posto para cinco bairros de Lajeado.
Entre os principais desafios citados está a demora no agendamento e, por consequência, no atendimento à população. Uma moradora do Igrejinha cita que ficou três horas na fila só para medir a pressão e fazer o teste da glicose, dois procedimentos simples. As consultas com especialidades têm as maiores filas de espera. Uma das principais necessidades é a oferta de pediatria. Hoje, a ESF tem um pediatra duas vezes na semana.
Moradora do bairro Igrejinha, Odete Nunes, 68, tem problema de artrose e anda de muletas. Está na espera por uma ressonância nos dois joelhos há dois anos. Para ela, assim como para muitos, a locomoção até a ESF por si só é complicada. Não há transporte público que vá do Igrejinha ao posto, que fica a cerca de um quilômetro da praça central da comunidade. Muitos fazem o trajeto a pé e enfrentam lombadas e estrada de chão.
“Dependo dos meus filhos ou da carona de vizinhos para ir até o posto”, conta Odete. Aplicativos de transporte são uma alternativa para quem pode arcar com os custos, mas dependendo do horário, as “corridas” desses aplicativos não são aceitas no Igrejinha.
Odete recorre a remédios caseiros quando o tempo de espera é muito longo, ou pede medicamentos aos vizinhos. “Meu marido precisava fazer uma tomografia. Demorou tanto para agendarem, que ele faleceu nesse meio tempo. Os papeis chegaram e ele estava enterrado”.
Nova unidade
É por esses motivos que a agente comunitária de saúde Neusa Nunes defende a instalação de uma unidade de saúde para os bairros Igrejinha, Imigrante e Planalto. “Por causa dessa demora, as pessoas não completam o tratamento e, quando conseguem, precisam recomeçar. Essa demanda excessiva na unidade do Olarias não permite que a ESF cumpra seu papel de prevenção”, defende.
Além disso, a perspectiva é que a população desses bairros cresça expressivamente, com a construção de novos loteamentos, alguns por consequência da realocação das famílias afetadas pelas enchentes. Com isso, a demanda no posto do Olarias será ainda maior.