Dragagem dos rios e arroios, deslocar bairros para áreas seguras, aprimorar sistemas de alertas de enchentes. Essas são algumas das demandas apontadas por moradores de Lajeado, que avaliam como prioridade a reconstrução e as ações contra enchentes na cidade. Os bairros que demonstraram maior preocupação sobre o assunto, foram o Conservas e o Morro 25. Localidades do Centro também buscam soluções para as cheias.
De acordo com a pesquisa, atividades prioritárias na área devem receber atenção especial pela administração na gestão de 2025 a 2028. Moradores entrevistados também pedem a criação de um fundo para financiamento de reconstrução, transformar áreas alagáveis em parques para esporte e lazer, assim como introduzir o tema da enchente no plano pedagógico nas escolas.
Outras sugestões são a construção de comportas de segurança para barrar o rio, criação de um plano preventivo de ação e melhorar o sistema de energia elétrica com troca de postes.
Moradores pedem desassoreamento
Proprietário de uma agropecuária no bairro Conservas, Evandro Marin, 40, teve o estabelecimento atingido pelas três últimas grandes enchentes na cidade. Ele diz que tentou se mudar, mas os aluguéis com valores altos o impediram de alugar outra sala. No ponto de vista do empresário, valia mais reformar a estrutura que já era dele.
O movimento diminuiu, mas clientes de outros bairros mantém a agropecuária aberta. Do Conservas, restaram poucos moradores. A desesperança ainda paira sobre a localidade. “Muitos não querem voltar a investir aqui porque estão com medo”, afirma. Marin diz que grande parte da vizinhança pede a dragagem e o desassoreamento do rio.
“Mais de 90% das pessoas que eu converso falam da dragagem. O assunto é esse. Até o pessoal de fora, todo mundo fala. Deve fazer uns 15 anos que não foi mais dragado o rio, e daí vieram enchentes pequenas. Acho que grande parte do rio está entulhado mesmo”. Morador do bairro há 12 anos, diz nunca ter visto algo como as últimas cheias.
Presidente do bairro Centro, o advogado José Carlos Bulle acredita ser necessária uma grande mobilização, unindo esforços para recuperar as áreas atingidas pelas enchentes, além da criação imediata de mecanismos de proteção. “Do jeito que as coisas estão, o risco de uma nova cheia nessas proporções é iminente”.
Restauração
Com o objetivo de observar e recuperar as estruturas ao longo do recurso hídrico, as comportas da barragem eclusa de Bom Retiro do Sul foram abertas nessa semana. A ação integra o Projeto de Desassoreamento do Estado do Rio Grande do Sul e, com isso, será possível o início de um diagnóstico para eventuais ações de dragagem e limpeza do Rio Taquari.
Bióloga e doutora na área de ecologia vegetal, Elisete Maria de Freitas afirma que quando se fala em arroios pequenos, o desassoreamento é uma medida importante. Para recursos hídricos maiores, no entanto, como o Rio Taquari, o processo deve ser feito com atenção.
“Estudiosos devem avaliar quais materiais podem ser mexidos e o que vai impactar de forma mais expressiva o rio”, afirma. Apesar de enxergar a iniciativa como efetiva, a especialista diz que o desassoreamento ou dragagem de formas isoladas não são suficientes, sendo necessária a reposição da mata ciliar no leito do rio.
De acordo com Elisete, se a vegetação não existir, as erosões vão voltar a ocorrer e novos resíduos serão acumulados nos rios.
A bióloga ainda diz que como consequência da falta de vegetação, também está a falta de sombras e o aquecimento das águas, que podem gerar problemas, inclusive, como a estiagem.