A situação dos acessos entre os municípios da região é pauta em todo debate tratado pós-catástrofe de maio. Seja no quesito da mudança na rotina dos moradores ou na impossibilidade de escoar a produção e consequente prejuízo logístico e financeiro para os municípios e cidadãos, o cenário caótico que se apresentou assim que a água baixou, ainda é um dos maiores desafios dos governantes. Com movimentos da iniciativa privada e líderes regionais, a retomada desses acessos caminha gradativamente.
Pontes do exército e trajetos alternativos estão entre as soluções imediatas utilizadas, enquanto máquinas trabalham na reconstrução das rotas e pontes destruídas. Segundo um mapeamento feito por satélite da agência americana Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) o número de deslizamentos ocorridos em maio no Estado se aproximou de 4 mil pontos com movimentação de massa. Muitos desses desmoronamentos foram diretamente responsáveis pela impossibilidade de trafegar entre alguns municípios, como a cratera na ERS-129, entre Muçum e Vespasiano Corrêa, exemplifica.
Relvado
A secretaria de Obras iniciou essa semana a construção de uma estiva ao lado da ponte na Linha São Rafael que permitirá o acesso a Encantado. A passagem molhada é uma obra custeada pelas duas cidades. Em breve irá começar os trabalhos no acesso a Doutor Ricardo também. A estrada até Coqueiro Baixo permanece operante, mas necessita da atenção dos motoristas que por lá se deslocam. A ponte que faz a ligação com Encantado permanece interditada após um dos pilares ter se danificado com a enchente. Segundo o secretário Onei Giacomolli, em breve terá início a reconstrução e recuperação de 10 pontes. O município contratou várias máquinas com recursos da Defesa Civil para abrir diversas frentes de trabalho e atender ao maior número de localidades com a maior brevidade.
“Não há nenhuma comunidade sem acesso, pois foram construídos pontilhões provisórios em várias localidades que estavam isoladas. Foi priorizado a limpeza e desobstrução de vias que se encontravam interditadas, liberando assim a passagem e assegurando o abastecimento da produção e o tráfego em geral”, salienta Giacomolli. Conforme o mapeamento realizado pela Nasa, Relvado teve 88 deslizamentos de terra. “A situação mais crítica permanece na ERS-433, onde há uma infinidade de desmoronamentos que permitem apenas a passagem de veículos pequenos e a ponte encontra-se interditada, deixando o município sem o seu principal acesso de entrada e saída”, reforça Giacomolli.
O secretário faz um apelo às autoridades Estaduais por meio do Daer para que se sensibilizem com a situação do município. “Estamos isolados com risco de seguir tendo perdas na produção primária em decorrência da falta desse acesso. E necessitamos desobstruir a via e recuperar os trechos do asfalto da rodovia que estão muito danificados pelo grande volume de deslizamentos existentes”, completa.
Putinga
Conforme o levantamento da agência americana, o município teve 71 deslizamentos em maio. O secretário de Obras, Mateus Siqueira, aponta que apesar das dezenas de ocorrências, apenas alguns desmoronamentos atingiram residências ou estruturas. “Mas as estradas foram as mais prejudicadas, o deslizamento leva aquela parte firme da estrada e é muito trabalhoso para ajeitar já que o solo está muito encharcado. É preciso colocar muita pedra e material para firmar o solo. Caminhões pesados passam e afunda de novo e temos que ir lá refazer o trabalho. Como temos mais de mil quilômetros de estrada de chão, complica bastante as ações”, revela Siqueira. As movimentações de massa foram responsáveis por uma morte em Putinga.
O município não tem nenhuma comunidade isolada, todas possuem acesso. “Algumas com certa dificuldade ou desvio, porque não há mais as pontes, tendo sido preciso achar rápido caminhos alternativos. Mais um ano, no mínimo, para deixar próximo ao que era antes na questão das estradas e acessos”, explica. O número de pontes e pontilhões destruídos ou deteriorados continua sendo contabilizado, mas o secretário garante que passa de algumas dezenas. O município busca recursos públicos para conseguir viabilizar e reestabelecer essas pontes e pontilhões.
Coqueiro Baixo
Os acessos para Nova Bréscia, Relvado e BR-386 seguem sendo utilizados e operantes. As conexões internas e estradas municipais estão todas liberadas, embora algumas com rotas alternativas. Foram seis pontes destruídas (mais algumas de propriedades particulares) que eram bem importantes para a trafegabilidade no município. Segundo o secretário de Administração, Henrique Ongaratto, cerca de 100 pontilhões foram destruídos ou afetados parcialmente.
Nenhuma comunidade se encontra isolada. “Faz um mês que estamos com os acessos principais e secundários liberados. Essa foi a nossa preocupação inicial, mas ainda há muito a se fazer. As ações trabalhadas atualmente são de reconstrução porque tivemos muitos deslizamentos em todas as comunidades, incluindo no centro”, ressalta. O número registrado pela Nasa para Coqueiro Baixo foi de 22 deslizamentos. Ongaratto ressalta que foram movimentações de extensão variáveis. “Se contarmos aqueles que levaram 15 dias para liberar e outros que foi um trabalho de meia hora, no total se aproxima de 200 desmoronamentos”, revela o secretário.
Em setembro o trabalho de reconstrução de duas pontes de Coqueiro Baixo será um dos focos da secretaria de Obras. “O recurso para essas obras veio da Defesa Civil. Tudo isso acaba sendo muito burocrático, mas gradualmente as pontes serão reconstruídas”, afirma Ongaratto.
Nova Bréscia
Atualmente o município tem normalizadas as condições de acesso em diversas localidades e propriedades do interior, além da área central da cidade. Segundo o coordenador da Defesa Civil, Marcos Giovanaz, os trabalhos permanecem sendo necessários para que tudo fique novamente como estava antes de maio, mas as providências já foram tomadas. “Foram encaminhados diversos projetos e planos de trabalho ao Governo Federal – Ministério da Integração Nacional – Defesa Civil, através do S2ID, os quais tanto para Ações de Resposta como das Ações para Reconstrução, foram aprovados, alguns valores já foram depositados em contas do município que foram abertas especialmente para essas finalidades”, revela.
O município já providenciou a realização de três processos licitatórios, os quais já foram homologados e os contratos assinados, faltando apenas a ordem de serviços das obras, que deve ocorrer nos próximos dias. Serão realizadas obras de reconstrução de cinco pontes; muros de contenção, galerias, calçadas, calçamento, entre outros, todos danificados pelas chuvas. Desde o início de maio nenhuma comunidade se encontra sem acesso. “Em alguns casos o trajeto é ainda precário, em razão da necessidade de realização de obras de reconstrução para resolver definitivamente essa situação, mas todos os moradores têm acesso às suas propriedades”, confirma o coordenador.
Apenas um local ainda não foi possível liberar completamente o acesso, fica na localidade de Linha Nossa Senhora das Dores, na divisa com Encantado. “A passagem se dá por aquele município, para apenas um morador, isso em razão da abundância de terras que se deslocaram por deslizamento”, complementa Giovanaz. O mapeamento pela agência americana registrou 22 movimentações de massa em Nova Bréscia. “Um foi bastante significativo, tendo havido a interrupção do trânsito na rodovia RS-425, principal acesso ao município, entre as localidades de Linha Borgheto e Linha Jacarezinho. Foi realizado um intenso trabalho, com utilização de muitas máquinas e caminhões até na parte da noite pelos servidores municipais e empresas contratadas”, concluí Giovanaz.