Parque eterniza história da Revolução Federalista em Santa Clara do Sul

HISTÓRIA E TURISMO

Parque eterniza história da Revolução Federalista em Santa Clara do Sul

Inaugura na manhã deste sábado, 10, área de lazer que homenageia colonos que defenderam a cidade no combate de 28 de maio de 1895

Parque eterniza história da Revolução Federalista em Santa Clara do Sul
Inauguração do Monumento, que antes era um busto do coronel, em Santa Clara do Sul. (FOTOS: BIBIANA FALEIRO)
Santa Clara do Sul

Um espaço em memória à passagem da Revolução Federalista do Vale do Taquari é inaugurado na manhã deste sábado, 10, às 9h30min, em Santa Clara do Sul. O Parque Urbano da Revolução Federalista é um dos primeiros a marcar essa história no estado. Para a cidade, significa uma homenagem aos colonos que, no dia 28 de maio de 1895, defenderam a comunidade contra os maragatos durante um dos episódios mais dramáticos da revolução.

O novo parque, com 2,8 mil metros quadrados, foi construído com investimento de R$ 1,5 milhão, dos quais mais de 50% foram garantidos por emendas parlamentares e Ministério do Turismo. A construção teve início em maio do ano passado, mas enfrentou atrasos devido às condições climáticas. No local, já havia o busto do coronel José Diel, além de uma pequena estrutura. Agora, o projeto é ampliado.

Preservar a história, incentivar o turismo e desenvolver a cidade são os principais objetivos da construção do parque, conforme explica o prefeito de Santa Clara do Sul, Paulo Kohlrausch.

“Nós não podemos abandonar a história do nosso município. Devemos eternizar, principalmente, os valores como a fé e a coragem, marcado por um combate de 50 colonos da cidade contra 200 maragatos”.

O prefeito ainda diz que o monumento faz parte da rota turística Caminhos de Santa Clara, que já integra o Parque Linear e o Parque Broenstrup. “Sob o ponto de vista de planejamento urbano da cidade, é dar continuidade a um desenvolvimento equilibrado. Este parque não apenas presta homenagem aos nossos antecessores, mas também eleva o nível cultural e econômico do município ”. afirma.

Revolução no Vale

A historiadora Patrícia Schneider, supervisora do Centro de Memória MCN Univates, ressalta o valor cultural da nova infraestrutura: “Este monumento representa o patrimônio imaterial da nossa cidade. A história dos colonos enfrentando os maragatos em defesa da sua terra ganha uma representação tangível, que educa e inspira as novas gerações.”

Conforme conta a historiadora, a Revolução Federalista assolou todo o estado entre 1893 e 1895, trazendo consequências políticas, econômicas e sociais. E, já nos primeiros anos, foram registrados conflitos na região, em comunidades como Estrela, Lajeado, Teutônia, Travesseiro e Arroio do Meio. Nesses locais, as disputas eram entre os federalistas, também chamados de maragatos, contra as comunidades locais que buscavam apoio dos governistas republicanos. Neste contexto, se destaca o nome de Zeca Ferreira, ervateiro e conhecedor da região.

“Santa Clara do Sul, inicialmente poupada dos embates diretos, viu sua tranquilidade ameaçada quando maragatos da região serrana começaram a confrontar os colonos locais”, explica Patrícia. Naquele episódio, os residentes, que haviam sido deslocados devido à expansão da imigração e venda de terras, se viram forçados a se defender.

Alguns relatos apontam que um grupo menor foi enviado para despistar e atrair os colonos combatentes, mas a estratégia não deu certo. No dia 28 de maio de 1895, cerca de cinquenta combatentes se destacaram na resistência, comandados por José Diel, contra 200 federalistas. A batalha em Santa Clara do Sul durou entre 1h30min e 3 horas Vendo que não poderiam vencer, os maragatos se retiraram e a comunidade estava salva.

O conflito também foi notícia no Estado. O jornal A Federação, de Porto Alegre, na edição do dia 1º de junho de 1895, publica, na segunda página, o embate entre colonos e maragatos. Os dias seguintes ainda foram tensos, mas a paz voltava à colônia. Alguns mortos ficaram pelo caminho e cruzes pelas estradas marcaram a sepultura de alguns maragatos.

De acordo com Patrícia, além de preservar a memória desses eventos, o Parque da Revolução Federalista servirá como um espaço de reflexão e educação, com acervos que incluem uma espingarda original do combate, doada ao Museu Memorial Santa Clarense, e uma estátua do coronel José Diel.

Histórias da comunidade

Moradora do bairro, Márcia destaca a importância do parque e conta que o bisavô do marido foi um dos combatentes

Márcia Batista Ely, 42, mora em uma casa próxima ao parque há 23 anos. Ela diz que ter um local de lazer no bairro São Pedro é importante aos moradores. Além disso, destaca a importância histórica e cultural.

“Acho legal preservar. As escolas sempre vinham aqui e um antigo historiador da cidade contava toda a história da guerra. Tinha o busto do coronel já, agora vai ter ele inteiro ali”, comenta.

Márcia também conhece parte da história do combate. Ela conta que o bisavô do marido, chamado Cristiano Ely, foi um dos combatentes na Revolução Federalista no município. “É muito bom podermos preservar essa história”.

O combate na região

  • A Revolução Federalista assolou todo o RS entre 1893 e 1895, trazendo consequências políticas, econômicas e sociais.
  • O Vale do Taquari não ficou de fora e, já nos primeiros anos, teve conflitos registrados em Estrela, Lajeado, Teutônia, Travesseiro e Arroio do Meio. Nos anos seguintes, outras comunidades também acabaram envolvidas, como Santa Clara do Sul.
  • Na região, as disputas eram entre os federalistas/maragatos e as comunidades locais que buscavam apoio dos governistas republicanos.
  • Os maragatos fizeram várias incursões nas picadas próximas. A qualquer momento poderiam fazer o mesmo em Santa Clara do Sul. Os assaltos já estavam acontecendo em localidades vizinhas, como Nova Berlim, Picada Aurora e Picada Augusta.
  • Algumas famílias tiveram suas propriedades atacadas e saqueadas, como a de Jakob Jommer, conhecido como Jacó Russo, José Rockenbach, José Arenhardt, Miguel Ruschel Sobrinho e Marcelus e Antônia Heisler.
  • Os colonos santa-clarenses, sob o comando de José Diel, criaram uma guarda civil. Moradores de Santa Clara, acompanhados pelo intendente de Lajeado, Júlio May, foram a Porto Alegre buscar armamento.
  • José Diel recebeu do federalista Capitão Antônio Ribeiro dos Santos, uma mensagem, alertando sobre a chegada do grupo de Zeca Ferreira para invadir a colônia.
  • Um grupo de 50 homens estava preparado para o combate, sentinelas a postos, trincheiras preparadas, famílias em alerta, mulheres, crianças e pessoas que não podiam lutar protegidas nos matos e morros da vila.
  • Chega o dia do combate que entra para a história da comunidade, o 28 de maio.
  • Durante uma hora e meia, houve intenso combate e vendo que não poderiam vencer, os maragatos se retiram. A comunidade estava salva.

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