Olimpíadas do Desenvolvimento: Brasil fora do pódio

Opinião

Carlos Cyrne

Carlos Cyrne

Professor da Univates

Assuntos e temas do cotidiano

Olimpíadas do Desenvolvimento: Brasil fora do pódio

A cada quatro anos, o mundo se volta para os Jogos Olímpicos, celebrando a excelência esportiva e o espírito competitivo. Em 2024, a atenção está sobre Paris, e torceremos pelas estrelas brasileiras em busca de medalhas. No entanto, se aplicarmos essa mentalidade competitiva aos indicadores socioeconômicos, veremos que o Brasil não está no pódio em aspectos cruciais para o futuro da nação. Em termos de PIB, em 2022 o Brasil foi a 9ª maior economia do mundo, contudo, observando o PIB per capita, indicador essencial de prosperidade econômica, estamos na 12ª posição (FMI/WEO), bem abaixo das principais economias globais como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e França.

Quando o assunto é saúde, também ficamos aquém. O acesso universal à saúde é um direito constitucional, mas a qualidade dos serviços varia enormemente. Segundo o TCU, o Brasil gastou, em 2022, cerca de 6,6% do seu PIB em saúde, enquanto países como Alemanha e França investem mais de 11% (OMS). A mortalidade infantil, reflexo direto da qualidade do sistema de saúde, teve uma redução de 60% desde 2000, segundo a Unicef. No entanto, Camboja, Malawi, Mongólia e Ruanda reduziram a mortalidade abaixo dos 5 anos em mais de 75% no mesmo período.

A educação é outro campo em que o Brasil precisa melhorar. No Programa PISA de 2022, o INEP constatou que, em matemática, o Brasil apresentou um desempenho médio de 379 pontos, inferior à média do Chile (412), Uruguai (409) e Peru (391). Dos estudantes brasileiros, 73% registraram baixo desempenho nesta disciplina, abaixo do nível 2, considerado pela OCDE o padrão mínimo para exercer plenamente a cidadania. Apenas 1% dos brasileiros atingiu alto desempenho em matemática (nível 5 ou maior). Nossa média de anos de escolaridade é de apenas 7,8 anos, enquanto os alemães possuem em média 14,2 anos.

Por fim, não podemos ignorar o indicador de desigualdade. Os dados do PNUD mostram que o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal do Brasil em 2021 foi de 0,754 (87ª colocação). O coeficiente de Gini do Brasil, que mede a desigualdade de renda, é de 48,9, um dos mais altos do mundo, nos deixando longe de nações desenvolvidas como Alemanha (30,6) e Dinamarca (27,7). Essa desigualdade é agravada pela corrupção, onde o Brasil ocupa a 104ª posição no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional. Em suma, enquanto nossos atletas lutam por medalhas em Paris, é crucial que nós, brasileiros, voltemos nossa atenção para os verdadeiros campeonatos que importam: aqueles que medem o bem-estar e a prosperidade de nossa nação.

O desempenho esportivo é motivo de orgulho e celebração, mas o verdadeiro ouro está na educação de qualidade, na saúde acessível para todos, na igualdade econômica e na integridade governamental. Vamos torcer pelos nossos atletas, sim, mas sem esquecer queo futuro do Brasil depende de conquistas muito mais significativas fora dos campos e das quadras. É hora de colocar o Brasil no pódio dos indicadores socioeconômicos e garantir que todos os brasileiros tenham motivos reais para celebrar. Agradeço a colaboração da Profa. Dra. Júlia Barden, que disponibilizou muitos dados para análise.

 

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