“Fiz novas amizades, recebo carinho, abraços e isso não tem preço”

ABRE ASPAS

“Fiz novas amizades, recebo carinho, abraços e isso não tem preço”

Completados 28 anos de atividades, a agente de saúde Dorali Bergmann não se imagina fazendo outra coisa e nem pensa em parar de trabalhar. Ela se considera uma pessoa feliz e realizada em poder ajudar famílias a terem qualidade de vida no bairro Santo André, em Lajeado

“Fiz novas amizades, recebo carinho, abraços e isso não tem preço”
Foto: acervo pessoal

Como surgiu o interesse pela profissão?

Sempre atuei em trabalhos voluntários pela Associação de Moradores. Fazíamos sopas e distribuíamos para as famílias necessitadas, além da organização de festinhas em datas comemorativas. Ajudava na Igreja, nas escolas. Em 1996 surgiu a oportunidade de me inscrever para trabalhar como agente de saúde, passei, fui chamada e comecei a trabalhar.

Como é o dia a dia dessa profissão?

Gosto muito do meu trabalho, é gratificante, mas, às vezes, é estressante e tem dias exaustivos. Amo muito o que faço, tudo que a gente faz com amor e carinho, colhemos bons frutos.

Você se vê fazendo outra coisa?

Não me vejo trabalhando em outra coisa e nem parando de trabalhar. Na realidade, a idade está dando sinais de que está chegando a hora, mas por enquanto, não quero nem pensar nisso.

Como a descreve o papel do agente de saúde?

No início, tinha muitas dificuldades de trabalho. No Santo André, nem posto de saúde tinha. Mas lembro que naquela época, era linda a união entre os agentes, algo que hoje não é visto. Quando íamos para rua, eu e mais uma colega, tinha prazo para cadastrar as mais de 800 pessoas do bairro, era muito difícil. Em 1996, lembro que era período de eleição e a integração com a população não foi muito fácil, pois as pessoas pensavam que era algo relacionado com a política e as pessoas mandavam a gente ir embora. Após a construção do posto de saúde, melhorou nosso trabalho. Hoje em dia, os serviços que a rede oferece são mais amplos.

Prestar serviços à comunidade é um dom?

É preciso ter o dom, querer trabalhar com pessoas, entender as necessidades e, ao mesmo tempo. ter muita ética, pois você está lidando com pessoas, com vidas, famílias e envolve muitas coisas. Cada pessoa é uma pessoa.

Durante os 28 anos de atividades, alguma situação que mais te comoveu?

Cada perda na tua área não é fácil, mas o que mais me marcou foi uma família que recém estava sendo constituída. Construíram sua casa, veio a gravidez, uma gestação nada fácil, até a descoberta de que a mãe estava com leucemia. Um tratamento difícil, muita dor e sofrimento. Devido às complicações, foi necessário antecipar o parto e a criança nasceu com alguns problemas de saúde. A mãe faleceu tempos depois e a criança alcançou os 4 anos, vindo a falecer também. Um momento trágico, uma das piores situações vividas em toda minha experiência.

Como é a recepção das famílias, há um laço de afetividade?

Quase todas as famílias me recebem bem. Porém, apesar de todo esse tempo, ainda há pessoas que acham esse serviço desnecessário. A gente percebe de longe quando é bem recebido e quando não.

Mesmo aposentada, a senhora continua na atividade. Há um motivo para isso?

Quando fiz o concurso já estava aposentada. Sempre achei que um salário mínimo era pouco para sobreviver e ainda é. Gosto de trabalhar e a minha atividade permite ajudar minhas filhas financeiramente.

Dorali é feliz no que faz?

Sou muito grata, realizada e feliz. Como agente de saúde fiz muitas amizades, recebo muito carinho, abraços e isso não tem preço. A maioria das famílias que atendo são de pessoas idosas. Um bom dia, aquele sorriso no rosto mesmo que a situação não esteja boa. Poder fazer parte dessas famílias não tem dinheiro no mundo que pague. Tenho certeza de que muitas pessoas gostaram, gostam e se sentem agradecidas pelo meu trabalho.

Acompanhe
nossas
redes sociais