Entre o Vale e a França, uma ponte de culturas

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Entre o Vale e a França, uma ponte de culturas

Conterrâneos do Vale do Taquari contam como a conexão entre o Brasil e o país europeu ultrapassa o momento das Olímpiadas 2024. De influências gastronômicas a linguísticas, é possível encontrar intervenções francesas diariamente na região

Entre o Vale e a França, uma ponte de culturas
O Brasil e a França possuem uma conexão cultural que vai além das Olimpíadas 2024. Cidade sede dos jogos é também a casa de conterrâneos do Vale. (Foto: Ross Helen/envato)

Duas regiões aparentemente distantes, mas que se conectam de maneiras surpreendentes. O Brasil e a França possuem uma conexão cultural que vai além das Olimpíadas 2024. E o Vale do Taquari marca presença neste intercâmbio. Seja por influências gastronômicas, literárias ou linguísticas, o charme francês ressoa no Vale, da mesma forma que os conterrâneos daqui adicionam um toque brasileiro à vida parisiense e enriquecem, ainda mais, essa troca cultural.

Natural de Lajeado, a arquiteta Alessandra Westenhofen mora em Paris, capital da França, desde janeiro de 2023. A ida ao país europeu foi motivada pela possibilidade de fazer o visto de au pair, a fim de trabalhar como cuidadora de crianças de uma família francesa. Ela já havia visitado a cidade durante um intercâmbio.

“O que mais me surpreendeu foi o acolhimento que tive dos franceses. Ao contrário das expectativas criadas a respeito deles, eu me senti acolhida desde o primeiro minuto. São pessoas super gentis, dispostas a ajudar e apoiar sem medir esforços”, conta.

Outro ponto positivo da cultura parisiense, segundo Alessandra, é o estilo de vida. Os franceses possuem uma alimentação mais equilibrada, estão preocupados com a saúde e o bem-estar, por isso todos praticam ao menos uma atividade física. “As pessoas têm uma vida profissional com cargas horárias que permitem desfrutar mais da vida pessoal e familiar”.

Apesar da fácil adaptação à nova cultura, ela revela que sente saudade do Vale do Taquari. Principalmente dos momentos em família e com os amigos. Seja para tomar um chimarrão ou fazer um churrasco.

Foto: wirestock/envato

Simpáticos e solícitos

O acolhimento dos franceses também surpreendeu Elias Fell Plentz, o voluntário das olimpíadas 2024 (confira na edição de quinta-feira). “Uma vez que tu consegue estabelecer a conexão com eles, são muito simpáticos e solícitos. Por mais que sejam fechados em um primeiro momento, eles são bem legais”.

Natural de Estrela, Plentz chegou à cidade de Brest em 2021, para uma bolsa de estudos de duplo diploma. Ele cursava engenharia mecânica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Ufrgs. O que era para ser uma temporada de estudos, virou seu novo destino, após ser contratado pela empresa aeronáutica onde fez o estágio. “Hoje moro em Sainte Geneviève des Bois, uma cidade nos arredores de Paris”, conta.

Para ele, a diversidade cultural da França é o que encanta. Afinal, cada região tem suas tradições e prezam por mantê-las vivas. “A cidade que eu estava, Brest, foi colonizada por bretões há muitos séculos. E eles ainda preservam a língua e os instrumentos musicais do povo”. O engenheiro conta que nas escolas desta região, os alunos têm aulas do idioma local, para manter a tradição.

Outra questão que lhe chamou a atenção são as comidas. Ainda que seja possível encontrar no Vale do Taquari os pratos mais tradicionais da gastronomia francesa, Plentz revela que a França tem características únicas, seja para vinhos, queijos ou até mesmo o croissant. “Aqui eles guardam a originalidade. É uma questão de muitos anos fazendo”.

De la France au Brésil

Cultura e aspectos do cotidiano sob o olhar de pessoas do Vale do Taquari

A presença da cultura francesa é tão forte no Brasil que, ao analisar a origem das palavras do português brasileiro, é possível perceber que muitas são adaptadas do francês. É o caso de  “maionese” e “purê”, termos bastante utilizados no Vale, segundo o professor de francês e literatura francesa, Augusto Darde.

“A ‘maionese’, tão presente no churrasco gaúcho, vem de “mayonnaise”. Uma das hipóteses da origem da palavra estaria no século XVIII, de uma vitória do exército francês na cidade espanhola de Maó (Mahon em francês)”, conta Darde. “Como comemoração, eles teriam feito uma receita com ovos e óleo, batizando-a de ‘Mahonnaise’.

Natural de Lajeado, Darde se apaixonou pelo idioma ainda na adolescência, quando se aproximou da literatura francesa do século XIX. “Lia bastante autores como Balzac, Flaubert, Maupassant. Também passei a ler sobre cinema, ver filmes do movimento da Nouvelle Vague e escutar Chanson Française”, relembra.

Ele morou em Paris em 2019, quando fez o doutorado. Após, retornou ao país para conhecer as regiões da Bretanha, da Aquitaine e da Auvergne. Hoje reside em Porto Alegre, onde atua como professor, escritor e, nas horas vagas, músico. O que lhe permite espalhar a cultura do país das Belas-Artes para todo o estado gaúcho. O mais recente livro lançado é um romance intitulado ‘Um Delacroix em Porto Alegre’.

Além do Croissant

Não é somente pelo croissant que a França marca presença na gastronomia brasileira. Basta entrar em qualquer padaria nacional que é possível encontrar inúmeros pratos típicos franceses por aqui.

“É possível perceber a influência, em especial, na confeitaria e panificação. Tanto nas massas fermentadas como no clássico pão francês e baguetes”, afirma a professora de Gastronomia da Univates, Jamile Wayne Ferreira. As bombas e carolinas, feitas de massa choux, também têm origem no país da Torre Eiffel. Assim como as massas folhadas, dos famosos croissants e palmier. Este último é conhecido no Vale do Taquari como orelha de macaco ou ferradura.

Embora o pão francês só exista no Brasil, Jamile acredita que o famoso cacetinho seja o prato que melhor representa a conexão cultural. “Creio que ele surgiu com a ideia de se inspirar na panificação francesa, com miolos macios e pães brancos, mas com a experiência dos padeiros daqui”.

Apesar de estar muito relacionada à confeitaria e panificação, a culinária francesa tem suas bases na Gastronomia Clássica. Ou seja, tem cores e molhos clássicos e uma proximidade com os ingredientes, que pode variar conforme a região.
“Também percebemos a qualidade dos insumos primários, como as manteigas, creme de leite, queijos, carnes, legumes, farinhas, o que resulta em uma culinária maravilhosa e conectada com a cultura local”.

Prato típico Gratin Dauphinois

Aprenda a fazer o Gratin Dauphinois, receita indicada por Jamile. “Trata-se de finas fatias de batata-inglesa cozidas com leite e nata e depois gratinadas no forno. A receita representa bastante a França, mas é possível de ser feita em casa, poucos ingredientes, mas com muita qualidade, como a cozinha francesa gosta”.

Ingredientes

  • 500g de batata rosa
  • 300ml de nata
  • 200ml de leite integral
  • Noz moscada
  • Pimenta
  • Sal
  • 1 dente de alho
  • 100g de queijo gruyere
  • 30g de manteiga

Modo de preparo:

  1. Descasque as batatas e corte em rodelas bem finas.
  2. Ferva o leite com a nata e o alho sem casca e esmagado. Tempere com sal, pimenta e noz moscada.
  3. Retire o alho depois da fervura e coloque as batatas. Deixe cozinhas até que fiquem levemente macias.
  4. Unte um ramequin, disponha as batatas em camadas e regue com o líquido da cocção.
  5. Cubra com uma generosa camada de queijo.
  6. Coloque no forno pré-aquecido a 180C até que as batatas estejam macias e o queijo bem gratinado. Bom apetite!

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