Os memes da vida real

Opinião

Jeniffer Harth

Jeniffer Harth

Psicóloga, empresária e pós-graduada em Ciência Política

Os memes da vida real

Na semana passada as redes sociais foram inundadas de memes fazendo referência ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como o grande taxador de impostos do país. Taxad, como vem sendo chamado, teve sua cara estampada em diversas imagens de filmes com os títulos “O senhor dos impostos”, “De volta ao tributo”, “A fantástica fábrica de impostos”, “Taxando a vida adoidado”, “Meu imposto favorito”, entre muitos outros. Os aliados do governo e a grande mídia – financiada pelo governo – não gostaram muito da brincadeira, mas os memes renderam boas risadas.

Já a realidade, bicho, essa não tem muita graça. Não à toa os memes foram o assunto do momento, amplamente compartilhados pela população. O motivo é muito simples, o brasileiro pode não ser expert em assuntos tributários, mas ele já sentiu no bolso o peso do aumento dos impostos executados por esse governo. E o que piora a situação é que o retorno de tantos impostos em serviços à população é pífio, é péssimo. Segundo um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), comparando a carga tributária e qualidade de vida em 30 países com as maiores tributações do mundo, o Brasil é o último colocado, o pior em retorno de impostos à população. Não é surpresa para ninguém, é a percepção da realidade sendo confirmada com dados. Os fatos escancaram uma incoerência dramática nesse país: enquanto a União bate recorde de arrecadação mês a mês, o brasileiro vê seu carrinho no supermercado cada vez mais vazio.

Taxad, digo, Haddad, chegou a dizer que “não se criou nenhum imposto, não se aumentou nenhuma alíquota”. Então como explicar a reoneração de PIS/Cofins sobre gasolina e etanol? A criação do imposto sobre a exportação de petróleo bruto? A famosa “taxação das blusinhas”, com o fim da isenção de imposto sobre compras de até U$50? A criação do imposto sobre apostas online? O novo imposto sobre importação de placas solares? O aumento de imposto sobre munições e armas de fogo? O aumento de imposto sobre carros híbridos e elétricos? A nova tributação sobre fundos exclusivos e rendimentos no exterior? Esses são só alguns exemplos, fora o que ainda virá com a reforma tributária. O governo está, sim, taxando e muito para minimizar o rombo nominal de R$ 1,061 trilhão alcançado em maio desse ano. Boa parte da população, essa que compartilhou os memes, já entendeu a situação: se os gastos só aumentam, quem paga a conta somos nós.

Há quem defenda que apesar do aumento na arrecadação, a carga tributária não aumentou, ela diminuiu de 33,1% em 2022 para 32,4% em 2023. Agora veja os detalhes. A carga tributária é calculada pela soma de todos os tributos, de todas as esferas governamentais, dividido pelo PIB e multiplicado por 100. Repare que nessa equação, se o PIB aumenta, a carga tributária diminui, obviamente. Foi isso que aconteceu, o PIB aumentou, muitos comemoraram, porém, não se engane. Um dos componentes de cálculo do PIB que mais teve aumento foram os gastos públicos! E um PIB baseado em gastos de governo é como um voo de galinha, é superficial, raso e não reflete uma melhora real na economia. Os investimentos privados diminuíram, os investimentos estrangeiros fugiram, milhões de empresas fecharam, a criação de novos empregos desacelerou e a perspectiva é que a inflação aumente. Anote aí, o cenário não é nada favorável para os próximos anos.

Reflita comigo, se os memes ganharam tamanha proporção nos últimos dias, a ponto de preocupar o governo com a insistente ideia de regular as redes sociais, ou seja, censurar a livre expressão e a crítica aos governantes, isso significa que temos uma legítima representação da vida real. Bem-vindos ao Brasil da taxação!

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